Não existe Fleetwood Mac sem o guitarrista Peter Green. O decreto é firmemente disseminado pelos puristas fãs da fantástica banda inglesa dos anos 60, aqueles que abominam a fase pop que "usurpadores" teriam imposto à lenda, inclusive com vozes femininas.
Pena que os puristas tiveram de engolir a encarnação pop que vendeu milhões de discos na década de 70, com uma das obras mais populares do rock, "Rumors", que completou 45 anos de seu lançamento em 2022.
O mundo deu muitas voltas depois que o grupo desmoronou após a maravilhosa fase blues, que incluiu apenas três álbuns, entre 1968 e 1970.
Green sumiu do mapa, desiludido com a música e encantado por religiões e seitas esquisitas. Mergulhou fundo no misticismo até que sofresse vários surtos psicóticos, tendo que se submeter a tratamentos psiquiátricos.
O baterista Mick Fleetwood e o baixista John McVie viram-se abandonados por todos e tiveram de recomeçar do zero, mas com uma ajudinha providencial: a cantora e tecladista Christine Perfect, futura mulher de McVie.
Com o cantor Bob Welsh agregado e com novo endereço – trocaram Londres por Los Angeles – , lentamente a leda do blues deixou de lado o passado para abraçar o soft rock na primeira metade da década dos anos 70, pavimentando um novo caminho.
Vários discos depois e uma ciranda intensa de mudanças na formação, eis que o sucesso chega, graças, em parte, às entradas de Lindsay Buckingham (guitarra e vocais) e Stevie Nicks (vocais). Mas dá para chamar o que virou a banda de Fleetwood Mac?
"Nosso nome está lá. Só não admite quem é cego. Não estamos presos ao passado. E daí? É o que somos e o som que fazemos é nosso. Para mim basta", disparou certa vez o guitarrista Buckingham contra jornalistas saudosistas da época de ouro do blues.
O fato é que fãs e jornalistas ficaram confusos, pois a banda que gravou as obras dos anos 60 certamente é muito, mas muito diferente da que gravou "Rumours" dez anos depois.
Para delírio daqueles que odeiam o purismo, foi "Rumours", que completa 40 anos neste ano de seu lançamento, que catapultou o Fleetwood Mac para o primeiro time do pop, por onde ficou de 1977 a 1982.
Sofisticado, intenso e extremamente bem produzido, "Rumours" foi considerado à época como o disco pop perfeito, tanto em termos de repertório como em termos de produção. Até então era o álbum pop mais vendido de todos os tempos.
Com melodias certeiras e letras pesadas, mas com tratamento pop palatável, o álbum mostrou que era possível agregar refinamento e ideias complexas a canções simples, de fácil apelo. Para isso, foi fundamental o trabalho da cantora Stevie Nicks e da habilidade quase sobrenatural para ganchos pop de Buckingham, um compositor de alto calibre.
"Rumours" apontou a direção para onde o pop poderia se expandir em uma época onde o rock parecia estagnado e a disco music ainda estava tímida – todos à espera do furacão punk para a devastação que viria.
O álbum é um desfile de hits radiofônicos, como a bela "Don't Stop", a singela e tocante "Dream" e a enfática ""Never Going Back Again", para não falar nas boas "The Chain", "Go Your Own Away" e "Second Hand News".
Se alguém quiser um exemplo máximo de música pop bem feita e bem produzida, "Rumours" é a peça que deve ser apresentada.
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