O documentário "Rockfield: A Fazenda do Rock" revela para o grande público o inusitado estúdio de ensaio e gravação no interior do País de Gales - foi uma das atrações do In-Edit 2021 de São Paulo (Festival Intrnacional de Documentário Musicais) e é atração rotineira no canal BIS (120 da net-Claro).
Apesar de este ser o décimo documentário de Hannah Berryman, é a primeira vez que ela aborda um tema relacionado à música. Talvez por isso ela consiga se isolar de qualquer afetação pela presença de artistas famosos, evitando cair em tietagem ou uma seleção de material voltada para a fama e não pela relevância. Como resultado, mantém o foco sobre o proprietário do estúdio, e extrai daí a emoção de uma história que atravessa décadas com altos e baixos.
No início, só havia mesmo uma fazenda, como contam os irmãos Kingsley Ward e Charles Ward. Porém, eles contam que se encantaram com o rock de Elvis Presley, aprenderam a tocar, e gravaram uma fita que levaram à produtora EMI no início dos anos 1960. Então, ao conhecerem como um estúdio funcionava, resolveram comprar alguns equipamentos para gravar suas próprias músicas. Logo, pegaram o jeito e inauguraram o que eles chamam de primeiro estúdio de gravação residencial da história. Em outras palavras, era um estúdio com instalações para os músicos dormirem no local.
War Pigs: o início com o Black Sabbath
Em 1968, após investirem em equipamentos mais robustos, receberam a banda Black Sabbath. Com contam Ozzy Osbourne e Tony Iommi, eles guardam ótimas lembranças dessa passagem pelo Rockfield, onde ensaiaram as músicas do segundo disco, “Paranoid”. Outros artistas se seguiram, como Hawkwind, Queen, Rush etc. Assim, a década de 1970 foi muito próspera para o Rockfield.
Robert Plant, ex-vocalista do Led Zeppelin, utilizou o estúdio no início da década de 1980. Segundo seu depoimento, a canção “Big Log”, de seu segundo álbum solo, foi criada ali. O filme conta vários episódios curiosos que rolaram na primeira metade dessa década, como a presença de Iggy Pop e David Bowie, que contaram como o Simple Minds nos backing vocals de uma gravação.
Uma trilha sonora composta para o documentário diferencia os tons cômicos e tristes do longa. Nos cômicos, há até a utilização de animação. Já os tristes veêm nos depoimentos, e aconteceram na segunda metade da década de 1980, quando o uso de instrumentos eletrônicos, sem a necessidade de estúdios, quase decretou a falência do Rockfield.
O reerguimento
Então, a partir de 1989, com a residência longa de 14 meses do The Stone Roses, a situação financeira se estabilizou e surgiu uma nova onda de guitar bands. Entre eles, o Oasis e o The Charlatans, que gravaram seus depoimentos para o documentário. Aliás, esta última banda marca um fato triste, o acidente com o tecladista que morreu quando retornava de uma ida aos pubs da cidade mais próxima, Monmouth.
Mais recentemente, o Coldplay esteve no Rockfield, e lá o seu tecladista Chris Martin conta como surgiu a inspiração para o hit “Yellow”. Como ele afirma, a proximidade à natureza que o Rockfield proporcionava criou o ambiente certo para o nascimento da composição.
Enfim, emotivo, diversificado, informativo e rico em material exclusivo, Rockfield: A Fazenda do Rock é um documentário que precisa ser conhecido por quem aprecia esse gênero musical.
Ademais, confira a incrível e extensa lista de artistas que utilizaram as instalações do Rockfield nos créditos finais.
Rockfield: A Fazenda do Rock (Rockfield: The Studio on the Farm) 2020, Reino Unido, 91 min. Direção: Hannah Berryman. Com Kingsley Ward, Charles Ward, Ann Ward, Lisa Ward, Ozzy Osbourne, Tony Iommi, Dave Brock, Robert Plant, Jim Kerr, Charlie Burchill, John Leckie, Liam Gallagher, Paul Arthurs, Chris Martin.
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