quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Cinco anos sem Mário Linhares, do Dark Avenger, um persistente batalhador do metal nacional



Mario Linhares tinha um sorriso fácil e uma conversa boa demais, mas nunca escondeu um agudo senso de urgência. Sabia que tinha deixado o seu Dark Avenger por muito tempo na geladeira nos anos 2000, e também sabia que era um afortunado por ter se curado de um câncer.

No melhor momento da carreira, aclamado como grande compositor e vendo elogios internacionais chegarem, Linhares se preparava para um grande salto quando passou mal e morreu há cinco anos na sua Brasília de adoção, em razão de um edema pulmonar agudo.

Persistência e paixão eram, provavelmente, as duas características que definiam aquele que era o melhor compositor de obras conceituais do rock brasileiro. 

Os temas e as letras das músicas do Dark Avenger nunca foram fáceis, e Linhares, o compositor, nunca fazia concessões. Perfeccionista e culto, não abria mão da profundidade dos assuntos abordados, a ponto de ser admirado por músicos e produtores internacionais.

Isso ficou claro em viagem que fez à Europa para divulgar "The Beloved Bones: Hell", o último trabalho, quando foi recebido com muita pompa por representantes de gravadoras na Itália. 

O cantor e compositor era persistente porque sempre acreditou no Dark Avenger e no seu trabalho conceitual, na força dos temas e das letras. Nas redes sociais se mostrou meio ranzinza de vez em quando com o que considerou "rumo errático para as trevas" em relação à cultura musical atual – a era das bundas rebolantes e dos realities shows estéreis e sem conteúdo.

Entretanto, em nenhum momento deixou de acreditar no próprio trabalho e no talento de sobra que existe no rock e no metal do Brasil, a começar pelo seu próprio trabalho, defendido com uma paixão comovente.

O cantor era tão apaixonado pelo que fazia e tinha tanta consciência da boa qualidade de seu trabalho que não hesitava em comprar brigas e tretas para explicitar seus pontos de vista – quando não para tentar impô-los nas discussões. 

Essa passionalidade lhe rendeu alguns reveses e broncas homéricas de muita gente boa e importante do meio roqueiro brasileiro, mas que não o fizeram recuar ou ceder – no máximo, refletir e contornar algumas situações.

 A morte de Mario Linhares interrompe uma trajetória de luta tenaz pela cultura e pelo trabalho diferenciado dentro do rock nacional. 

Perseverante ou teimoso? A resposta está em "The Beloved Bones: Hell", trabalho de extremo bom gosto e uma das obras mais importantes do metal brasileiro neste século.

Uma parte do legado de Linhares pode ser observada no trabalho mais recente da banda de metal progressivo Caravellus, liderada pelo guitarrista Glauber Oliveira, o principal parceiro de Linhares no Dark Avenger e em outros projetos.

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