sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

'Barão 40' é um grande tributo do Barão Vermelho para a própria história

Até que não demorou muito para fazer o óbvio: reunir tudo em um produto só e proporcionar uma experiência completa do que se convencionou chamar de Barão Vermelho 4.0 - ou Barão 40, a marca escolhida para comemorar oficialmente os 40 anos de carreira do grupo que é quase sinônimo de rock and roll genuinamente nacional.

"Barão 40", o álbum, já está disponível em lojas e plataformas digitais. O produto reúne três dos quatro  EPs lançados ao longo de 2022 com o especial de TV e mais a nova versão da clássica balada "Solidão Que Nada".

Contando uma versão nova de uma velha história, o Barão Vermelho, hoje composto por Rodrigo Suricato (guitarra, violão e voz), Fernando Magalhães (guitarra e violão), Guto (bateria) e Maurício Barros (teclados e vocais) comemora as quatro décadas com a junção dos EPs "Clássicos", "Blues & baladas" e "Sucessos", gravados ao vivo em um teatro carioca no meio deste ano, em duas noites históricas, "Acústico", por enquanto, segue em "trajetória solo.

Com o sólido reforço de Márcio Alencar no contrabaixo, o Barão pensou, dividiu e rearranjou seu repertório sem respeitar fronteiras muito definidas. Tem pra todo mundo, é o "Barão 40 horas", nas palavras de Maurício Barros. 

 Entre os clássicos, pipocam "O poeta está vivo", com o solo de guitarra de Fernando; a nova versão de "Meus bons amigos", puxada pelo violão country-blueseiro de Suri (Rodrigo Suricato), e o peso do instrumental de em canções como "A solidão te engole vivo" e "Tão longe de tudo".

 Os fãs hard de Barão Vermelho têm para si o repertório de blues e baladas, com "Guarda essa canção" (Dulce Quental/Frejat), do disco "Carne crua", de 1994, e o hino "Down em mim", uma das letras com a assinatura de Cazuza tatuada de forma mais sangrenta: "E as paredes do meu quarto vão assistir comigo/ A versão nova de uma velha história". 

Suri também comparece com uma composição, a bela e melancólica "Um dia igual ao outro". A presença de Cazuza é nítida por todo o show, mas na parte do blues ela berra, até em "Amor, meu grande amor", que não é dele (Angela Ro Ro e Ana Terra).

 Para coroar a coleção, a linda versão de "Solidão que nada", novinha em folha, com toda a sensibilidade de Suri.

Os "Sucessos" vêm para esmigalhar o que restava dos corações roqueiros. Além de Lucinha, mãe de Cazuza, cantando "O tempo não para", feliz, com os meninos, o clássico dos clássicos, sucesso do sucessos,

 "Pro dia nascer feliz", tem a participação de ninguém menos do que Roberto Frejat – que ainda menciona que a gravação acontecia no dia do aniversário de Peninha (1950-2016), por décadas brother e percussionista da banda.

Em recente entrevista ao Combate Rock, Guto Goffi disse que sentiu privilegiado ao criar e participar de um projeto tão ambicioso. "Não se tratou de apenas regravar sucessos e clássicos. As releituras trouxeram a nossa marca, mas com a atualização necessária. São muitas as reações positivas a respeito dos EPs, com muita gente dizendo que o Barão soa revigorado. Era essa a ideia."

Para quem acreditava que não havia barão sem Cazuza, e depois sem o guitarrista e vocalista Roberto Frejat, a permanência de Rodrigo Suricato é uma gloriosa decepção - e uma alegria, no caso dos céticos que não esperava, nada mesmo...

"Nunca é fácil encarar uma tarefa de ser o cantor e o homem da frente de uma instituição do rock nacional", disse Suricato em entrevista ao Combate Rock em 2021. "São 40 anos no topo do rock e com nomes fundamentais integrando o time e cantando. É possível que tenha havido resistência, mas esse período na banda tem sido tão estimulante que as derrubamos com respeito, reverência e entusiasmo."

"Barão 40" é um trabalho honesto, interessante e respeitoso com o passado. As novas versões soam realmente revigoradas e com um astral bacana, lá em cima, longe de soarem meros "covers de si mesmos". 

É outro Barão? Depende do ponto de vista. O importante, neste caso, é evitar as comparações e desfrutar do que está sendo oferecido com qualidade. A banda é um patrimônio cultural e o estupendo catálogo está sendo revisitado de forma correta e sem invenções. Inovam até certo ponto e mudam algumas coisas para soarem como sempre tiveram de soar. Deu muito certo.

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