Os Beatles eram mais populares do que Jesus Cristo, nas palavras de John Lennon, mas não eram páreo para o maior e melhor esportista de todos os tempos. Eles quiseram conhecer o "Rei", mas havia uma ditadura e muita burrice no meio do caminho.
Curiosamente, a maior conexão entre o rock e o melhor jogador de futebol de todos os tempos nunca passou de uma vontade, e um lado, e a completa ignorância, do outro.
Pelé, que morreu aos 82 anos de idade nesta quinta-feira (29), era provavelmente o ser humano mais conhecido do planeta em 1966 - mesmo jogando no Brasil. Elvis Presley já tinha perdido o brilho roqueiro e se tornado um mediano ator de filmes esquecíveis.
Os Beatles eram o grande fenômeno pop daquele tempo, mas não tinham como concorrer com aquele homem negro cujo apelido se tornaria adjetivo e substantivo e superaria até mesmo marcas como Coca-Cola. Pelé tinha se tornado um ser global e globalizado antes de o termo existir - um ícone inacreditável, inatingível e admirável,
Calhou de o Brasil ficar sediado em Liverpool na Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra. A seleção brasileira, bicampeã, era a maior atração do certame e Pelé, o "Rei", o "deus da bola", estava em busca de uma consagração definitiva, já que quatro anos antes, no Chile, tinha disputado apenas uma partida e abandonado o campeonato por causa de uma lesão muscular.
Hospedados no "quintal" dos Beatles, os jogadores brasileiros foram blindados de tal forma que pareciam ser eles os grandes astros pop inatingíveis. Nem mesmo os fabulosos Beatles, os artistas mais impressionantes e admirados do planeta, poderiam chegar perto.
Eles tentaram chegar perto, mas foram repelidos por uma conjunção de burrice suprema - os chefes da delegação negaram m encontro entre músicos e jogadores alegando que não poderia haver "distração" - e ideologia política tosca, já que a ditadura militar brasileira, ainda não tão dura, já tinha profundas restrições a qualquer coisa que fosse muito "popular". E músicos cabeludos famosos, adorados e incontroláveis, com opiniões próprias, certamente não eram bem vistos por generais toscos - e muito burros.
Pelé e os jogadores brasileiros, é claro, jamais souberam do interesse dos Beatles em conhecê-los - estavam dispostos até mesmo fazer um concerto improvisado e particular na concentração, como diria Pelé anos depois. Estavam tão blindados e afastados do mundo exterior que mal conseguiam telefonar para as famílias no Brasil.
Segundo Pelé contaria muitos anos depois, a decisão de barrar os Beatles teria sido da chefia da delegação brasileira, alegando que não queriam as tais "distrações". Uma alegação ridícula, já que o Brasil foi muito mal naquela copa, sendo eliminado ainda na primeira fase com duas derrotas e apenas uma vitória, contra a frágil Bulgária.
"Só fiquei sabendo dessa história lá nos anos 70, quando fui estudar inglês em uma escola internacional em Nova York. John Lennon estudou japonês na mesma escola por algum tempo e me contou que não deixaram os Beatles se aproximar", disse Pelé em várias entrevistas. "Eles gostavam de futebol e vibraram quando o Brasil caiu no grupo de Liverpool, a terra deles. Queriam muito nos conhecer. Quando voltei ao Brasil e pergunte sobre o assunto a alguns conhecidos, soube que a chefia da delegação não autorizou o encontro."
Mesmo não havendo motivos para duvidar da palavra do "Rei", o fato é que, quando ele contou isso á imprensa, no final dos anos 80, já não havia mais dirigentes vivos que chefiaram aquela delegação de 1966.
Funcionários menos graduados da então CBD (Confederação Brasileira de Desportos) afirmaram desconhecer o "incidente". Lennon, por sua vez, foi assassinado em 1980 e, ao que se sabe, não contou a história para ninguém. Ao que se sabe, até hoje ninguém perguntou a Paul McCartney ou Ringo Starr sobre a veracidade da tentativa de encontro.
Mesmo ignorando completamente a possibilidade do encontro, essa foi a situação mais próxima que Pelé teve com o rock, do qual nunca foi fã.
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