Marcelo Moreira
O fim está próximo. A imprensa musical sempre adorou decretar o
encerramento da carreira de bandas e artistas veteranos independentemente do
que eles tinham e, eventualmente, tem a dizer. Todos gigantes, principalmente
os sobreviventes, passaram por isso.
De forma mais dolorosa, foi o Led Zeppelin que sofreu a corrosão mais
explícita na segunda metade dos anos 70, atingida por tragédias e um longo
derretimento, que terminou há 40 anos com a morte do baterista John Bonham
durante um período de ensaios na casa de Jimmy Page.
Não é preciso dizer que parte da imprensa canalha da Inglaterra vibrou
com a concretização de sua "profecia". Com o baterista morto, o trio
restante anunciou o fim da banda três meses depois.
Muita gente ainda insiste, neste século, que nunca houve banda maior no
rock do que o Led Zeppelin, seja em significado, seja em impacto generalizado.
É conversa de boteco para mais de dias, mas os próprios integrantes levaram
isso a sério e acreditavam mesmo que eram maiores do os Beatles e do que Elvis
Presley.
Foram seis anos arrasadores, entre 1969 e 1975, em que muitos recordes
foram batidos e muitos milhões de dólares gerados, com os correspondentes
excessos roqueiros tão frequentes na época. Enfrentaram e venceram várias vezes
os Rolling Stones e pareciam indestrutíveis. E então vieram as nuvens pesadas
das tempestades.
Primeiro foi o acidente de carro envolvendo Robert Plant e a família na
Grécia, em 1975, durante um período de férias. O cantor quero as duas pernas e
uma costela e demorou muito tempo pra se recuperar.
O álbum "Presence", de 1976, vendeu menos do que o esperado e
Jimmy Page e o baixista John Paul Jones ficaram doentes ao longo do período.
Quando finalmente decidiram voltar as shows nos Estados Unidos, depois
de quase um ano e meio parados, a turnê de 1977 teve de ser interrompida por
conta da morte do filho de Plant, Karac, de cinco anos de idade, vítima de uma
infecção até então desconhecida. Só voltariam aos palcos dois anos depois.
A série de intempéries e os resultados abaixo do esperado com "In
Through the Out Door", de 1979, aprofundaram o baixo astral e acentuaram o
mergulho de Page e Bonham na bebida e nas drogas.
A turnê europeia de 1980 parecia recolocar o Led Zeppelin nos trilhos,
mas os sinais de que o auge tinha passado eram evidentes.
A imprensa já ratava a banda como uma entidade aposentada, mas que se
recusava a morrer. E então John Bonham deu a munição que faltava ao beber até
morrer entre os dias 24 e 25 de setembro de 1980 durante os ensaios para a
futura turnê norte-americana do fim do ano.
De certa forma, a mote do baterista foi a reafirmação de que uma era
estava acabando, fato que ficaria comprovado com o assassinato de John Lennon
em 8 de dezembro daquele mesmo ano.
Da pior forma, o rock fechava as cortinas de um ato que tinha perdurado
por muitos anos. O clamado classic rock tinha dominado o mundo musical por
quase 20 anos e ainda resistia, por mais que os ataques do movimento punk e do
crescimento da disco music tivessem abalado as estruturas.
O desaparecimento de Lennon e do Zeppelin mostraram um novo mundo
surgindo, com novos atores e novos discursos. A música moderna abrangia também
o rock, mas deixava claro que nova ordem era outra, mais plural, não tão
hedonista e bem menos opulenta e ostentatória.
Para os renitentes adversários do Led Zeppelin, fica registrada a
imponência da banda: até mesmo em seu epitáfio foi gigante, marcando o fim de
uma era e abrindo novos horizontes, fazendo valer uma das frases que definiram
o grupo: quando os gigantes pisavam sobre a terra.
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