sábado, 19 de setembro de 2020

Morre Lee Kerslake, a 'locomotiva' do Uriah Heep e da banda de Ozzy Osbourne

Marcelo Moreira

Lee Kerslake (FOTO: DIVULGAÇÃO)

De todas as bandas de rock pesado do começo dos anos 70, a inglesa Uriah Heep pode ser considerada a mais enigmática, seja por seu tipo de música, seja por sua trajetória, além das tragédias que a abateram.

O som poderoso, as letras viajantes e fantasiosas, os teclados característicos, as batidas marciais e estrondosas... A banda tinha tudo para estourar, e quase estourou. Ficou no quase, mas nunca esmoreceu e está na ativa há mais de 50 anos.

Na bateria havia um sujeito gordo e forte, mas bonachão e atencioso. Era o que alguns britânicos chama de "baterista locomotiva", que costumam empurrar as bandas, como John Bonham, do Led Zeppelin, ou Carmine Appice, de tantas e tantas bandas.

Lee Kerslake era o nome do cara, uma força da natureza que sabia dosar a sua força, mas que adorava mesmo era mostrar um som poderoso. 

Esse monstro da bateria, que também tocou com Ozzy Osbourne no começo dos anos 80, morreu neste sábado, na Inglaterra, aos 73 anos de idade, em consequência de um câncer.

Da formação clássica do Uriah Heep, restam vivos apenas o guitarrista Mick Box e o tecladista Ken Hensley (que saiu no começo dos anos 80). O vocalista David Byron morreu em 1985; o baixista Gary Thain, em 1974. Além deles, outro ex-integrante, Trevor Bolder, baixista que também tocou com David Bowie, morreu em 2013.

Kerslake tocou com o Uriah Heep de 1971 a 1979 e de 1982 a 2007. Praticamente se aposentou aos 60 anos de idade por conta de vários problemas de saúde, principalmente ligados à coluna, que o impediam de tocar. Foi substituído em 2007 por Russell Gilbrook.

Muita gente o conhece mais por seu breve trabalho com a band solo de Ozzy Osbourne. Foo primeiro baterista, formando uma cozinha de respeito com o baixista Bob Daisley - completava o quarteto o mágico guitarrista Randy Rhoads.

Era a primeira encarnação da Blizzard of Ozz, que logo sofreria a perda de Daisley, em entrou em litígio com Ozzy e a empresária, sua mulher Sharon. O novo baixista seria Rudy Sarzo, que ficaria ainda mais famoso com o estouro do Quiet Riot tempos depois. Rhoads morreria nesta época, em 1982, em um acidente aéreo estúpido.

Nos anos 2000, de forma não muito honrosa, Lee Kerslake voltaria às manchetes por conta de processos movidos contra Ozzy a respeito de créditos de músicas e gravações na época dos álbuns "Blizzard of Ozz" e "Diary of a Madman".

Ele e Bob Daisley alegavam não terem sido pagos corretamente por seus trabalhos e reivindicavam, além de dinheiro, mudanças em vários créditos de composição e criação instrumental.

A briga judicial durou anos e acabou por dar origem a uma nojeira praticada por Sharon Osbourne: mandou regravar, 20 anos depois, baixo e bateria das músicas em que os dois apareciam nos álbuns citados, tudo para que não pudessem mais reivindicar qualquer. Muito tempo depois, houve um acordo entre as partes nos tribunais.

Não sei se é possível considerar Lee Kerslake como um baterista subestimado. Não era um estilista como Ian Paice (Deep Purple) ou Ginger Baker (Cream), nem tinha os lampejos de genialidade como era o caso de Keith Moon (The Who) e John Bonzo (Led Zeppelin), dois gênios do instrumento. 

Talvez fosse mais correto correlacioná-lo a Bill Ward (Black Sabbath), um baterista mais instintivo e jazzístico, mas certamente bem mais inspirado. O que é inegável é o posto de força motrriz de suas bandas, com sua pegada poderosa e som grandioso.

Além do trabalho com Ozzy, o poder da música de Kerlake pode ser sentido em uma sequência mágica de álbuns do Uriah Heep - "Demons and Wizards" (1972), "The Magician's Birthday" (1972), "Uriah Heep Live" (1973), "Sweet Freedom" (1973), "Wonderworld " (1974) e "Return to Fantasy" (1975).

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