terça-feira, 29 de setembro de 2020

Estrelas do metal se juntam para resistir e lutar pela democracia e liberdade de expressão

Marcelo Moreira

O supergrupo Revolta (FOTO: MONTAGEM COM FOTOS DE DIVULGAÇÃO)


Muita gente criticou uma "suposta" indecisão do cantor Henrique Fogaça, da banda Oitão, a respeito de suas posições políticas. 

Com sua banda hardcore, que recentemente perdeu integrantes por conta de divergências políticas com o "chefe" (também é chefe de cozinha e dono de restaurantes), lançou recentemente a música "Proteste", com letra forte e de eventual viés de esquerda. 

No entanto, são fartos os sinais de benevolência e preferência dele a políticos controvertidos e notórios por professar todo o tipo de lixo vinculado á extrema-direita e ao governo do nefasto presidente Jair Bolsonaro. 

Se o rock pesado sempre desprezou os Detonautas Rocque Clube por conta do engajamento forte do vocalista Tico Santa Cruz, um sociólogo que apoia causas sociais diversas e abomina o bolsonarismo, então a opção certamente será a banda Revolta, uma reunião amigos estrelados que quer protestar contra "tudo o que está aí".

A formação é um verdadeiro dream team do metal nacional: João Gordo (vocais, Ratos de Porão), Prika Amaral (vocais, Nervosa), Guilherme Miranda (guitarra, Entombed A.D. e KroW), Moyses Kolesne (guitarra, Krisiun), Castor TSquad (baixo, Torture Squad) e Iggor Cavalera (Cavalera Conspiracy e Mixhell, ex-Sepultura. 

A ideia foi juntar um integrante de cada uma das maiores bandas do cenário metal brasileiro para demonstrar um sentimento em comum de não aceitação do que vem acontecendo no Brasil, segundo o comunicado oficial de lançamento da banda.

"É uma vontade de se expressar e de protestar em forma de música é algo importante num momento como esse, o músico canta o que sente, o músico toca o que afeta ele. É necessário falar sobre isso, arte é livre de regras, a liberdade ainda existe e esse projeto vai falar sobre a visão e sentimentos de assuntos atuais", diz o texto publicado nas redes sociais.

 

 Prika Amaral, que também é conhecida por suas posições progressistas e de apoio a causas sociais, acrescentou: “Não se trata só de política, e sim de respeito ao próximo e respeito a todas as vidas”. 

Castor, do Torture Squad, complementa: “A proposta do projeto é dar uma resposta de não aceitação do que vem acontecendo no atual governo do Brasil. Não estamos satisfeitos com ele e temos o total direito de protestar. .Ficar apontando os erros de todos os governos anteriores não vai mudar nada também, pois o presente e o futuro é o que nos interessa”.

O primeiro single é "Hecatombe Genocida", uma mescla de thrash e death metal, é uma pancada violenta na hipocrisia política da atualidade e na destruição do meio ambiente, elencando alguns fatos, como a "pouca disposição" do atual governo em combater queimadas e invasão de terras preservadas e de indígenas.

Certamente, dentro do rock nacional, é a primeira iniciativa criada especialmente pra servir como alto-falante para protestar contra o (des)governo e o fascismo em temos bolsonaros.

Por mais que os músicos envolvidos falem que a iniciativa não tem vínculos políticos oficiais com partidos ou ideologias/correntes, fica claro que a banda Revolta se identifica com diversos pontos defendidos por entidades mais à esquerda, e que a postura é explícita de oposição a qualquer tipo de bolsonarismo e extremismo de direita.

O rock brasileiro precisava de algo contundente que tirasse o gênero da pasmaceira no Brasil. Enquanto a MPB clássica e artistas do rap e hip hop tomaram a frente entre os músicos na resistência ao desastre que é o governo Bolsonaro, o rock manteve-se praticamente calado.

Se não fossem manifestações de bandas punks e de hardcore e das declarações pontuais de alguns músicos, poderíamos certamente crer que o rock aderiu ao conservadorismo e ao protofascismo por seu silêncio incômodo.

Tico Santa Cruz e os Detonautas bem que tentaram desde as eleições de 2018 alertar sobre os perigo que corríamos e denunciar as barbaridades dese então cometidas, mas tiveram uma repercussão limitada, infelizmente, já que o rock há muito está em baixa por aqui.

É um alento saber que a Revolta surgiu para incomodar e resistir, mas corre o risco de ficar restrita a um nicho ainda mais limitado, que é o rock pesado brasileiro - e mais ainda se considerarmos o mundo do metal extremo, mesmo cantando em português.

O supergrupo adotou a cautela de evitar a ideologização em um primeiro momento. Sua plataforma é a defesa da democracia e a das liberdades civis, incluindo de expressão e de opinião, contra qualquer tipo de censura contra atentados aos direitos humanos.

Idiotas de todos os matizes conservadores que um dia acharam legal curtir Ratos de Porão, Nervosa, Torture Squad e Krisiun estão irados com a iniciativa dos músicos da Revolta. 

É aquela gentinha estúpida, analfabeta e totalmente iletrada que jamais leu jornal ou uma revista de música na vida e que ignora solenemente o significado das letras e o histórico político dos grupos em questão. 

São idiotas quanto os idiotas que protestaram no show de Roger Waters, em 2018, em São Paulo, por conta das letras de grandes clássicos, como as canções de "The Wall" e "Animals".

É a hora de humilhar roqueiro reacionário e conservador que apoia governo fascista e que incentiva a censura e e a perseguição a artistas e opositores. 

Revolta é a melhor notícia que o rock brasileiro poderia produzir em tempos de pandemia, ao lado da sátira "Micheque", dos Detonautas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário