sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Mário Frias: um figurante em busca de aplausos no deserto de ideias do bolsonarismo

Marcelo Moreira


Não bastava apenas derrotar e ocupar. Era necessário humilhar, massacrar e torturar de tal forma que nunca, jamais, esquecessem quem eram os novos senhores.

O modus operandi dos nazistas na II Guerra Mundial era temido e odiado, e serviu de motor para a resistência e, posteriormente, para a revanche dos outrora vencidos e subjugados.

A porcaria que é o governo Jair Bolsonaro, que flerta abertamente com o autoritarismo com algumas características do fascismo e do nazismo, adota a mesma postura em algumas áreas da administração, especialmente aquelas em que vê o predomínio de "ideias comunistas".

Já era sabido que a intenção do bolsonarismo era empreender uma guerra cultural em que a arma principal seria o desmanche das áreas da cultura e da educação. 

É difícil admitir, mas o sucesso do (des)governo é total nesses segmentos: a depredação é de tal forma devastadora que pouca coisa restará. Não basta ocupar, derrotar e desmontar. É preciso humilhar para mostrar que os novos tempos serão "devastadores", literalmente.

Não é por outro motivo que Bolsonaro escolheu como principais auxiliares na educação e na cultura gente que não só não era da área mas que apresentava, como currículo, a total incompetência em qualquer coisa que quisessem fazer.

Como é possível que o atual ministro da Educação, um inexistente e inapto pastor, não participasse das negociações sobre a permanência do Fundeb (Fundo da Educação Básica), que seria encerrado em dezembro?

Como o governo é fundado na incompetência e estupidez extremas, e claro que a Secretaria de Cultura, escanteada no Ministério do Turismo (??), teria de ser ocupada por uma série de titulares estapafúrdios e que não hesitaram em tentar impor as trevas e medidas destrutivas contra o meio cultural.

Depois de um aspirante a nazista e de uma atriz abilolada e equivocada desde sempre, chegou a vez de um figurante bajulador incapaz de articular um pensamento coerente sobre cultura.

Ator medíocre e que nunca passou de figurante em novela ruim, Mário Frias, o secretário de Cultura, ficou longe das conversas sobre a Lei Aldir Blanc, de auxílio a artistas e profissionais da área que ficaram sem trabalho.

Nem mesmo figuração nas negociações ele se dignou a fazer. Não tem capacidade sequer para atingir o nível de coadjuvante.

Incapaz de informar algum tipo de pensamento coordenado ou de alguma ideia do que fazer na cultura em âmbito nacional, restou ao figurante do ministério brincar de fazer vídeos toscos e caseiros explicitando o puxa-saquismo em relação ao presidente nefasto e outros ministros igualmente funestos.

Assim como a maioria dos auxiliares do presidente, Frias não sabe o que está fazendo no ministério, em termos técnicos. É um indigente intelectual que desconhece os rudimentos básicos da atividade cultural.

Sua escalação, assim como a de outros ministros e secretários, é um deboche. Bolsonaro quis mostrar que tem o poder de depredar áreas importantes para os seus "inimigos ideológicos" e colocou seres inúteis nas pastas apenas para mostrar o seu desprezo por elas.

Ninguém sabe se Frias tem algum tipo de ideia ou política para área da cultura. Sua nomeação provavelmente foi o ato mais estapafúrdio cometido por um presidente da República.

Ator desconhecido e há muito fora da TV e do teatro, apareceu do nada nas redes sociais e, de forma rastejante, proferiu fartos elogios a Bolsonaro nas redes sociais quando da demissão da atriz Regina Duarte, que já foi uma triz decente. Em vários vídeos de pura bajulação escatológica, colocou-se à disposição para assumir a secretaria de Cultura. Como assim?

Nem o mais empedernido e viciado em novelas se lembra do figurante Mário Frias. Sua nomeação mostra que qualquer estúpido que vomita "mito" e "Bolsonaro até a morte" corre risco de virar ministro.

A nomeação de Frias me lembra a piada do time grande em crise que tem um clássico pela frente e, no caminho para o estádio, alguém olha pela janela e vê uma pessoa alta e forte. "Aquele cara tem porte de atacante que faz gol", comenta com alguém. "Então para o ônibus e vamos chamá-lo para jogar hoje. Não pode ser pior do que o nosso atual centroavante..."

Frias cai de para-quedas em uma área sensível no pior governo federal de todos os tempos. É o cara errado na pior das horas. Nem estofo ideológico tem para empreender a destruição da cultura desejada por Bolsonaro, embora esteja bastante empenhado em destruir. 

Até nisso ele é dependente: terá de ser tutelado pela ala ideológica do Palácio do Planalto enquanto faz vídeos caseiros bajulando Bolsonaro e estimulando os imbecis que são contra as vacinas.

As sucessivas bobagens cometidas na Secretaria da Cultura desde o começo de 2019, quando perdeu o status de ministério, podem ser consideradas a cara do governo Bolsonaro: uma grande e completa estupidez, a tal ponto que os defensores do presidente perceberam que é furada tentar procurar algum argumento para justificar o que acontece na área da cultura. Ou seja, envergonha ate mesmo o bolsonarismo.

Defendido por artistas bolsonaristas quando assumiu, Frias perdeu esse apoio diante da inércia e da inexistência de sua administração. Ninguém mais espera coisa alguma de sua gestão. Nem mesmo traquejo para a figuração demonstrou ter.

Por outro lado, conseguiu o que seus antecessores atingiram: ridicularizar a si mesmo e o governo ao criticar charges, memes e paródias em vídeo do humorista Marcelo Adnet, um dos mais ácidos contestadores do bolsonarismo.

Suas paródias nem foram tão interessantes, mas o suficiente para despertar a ira da extrema direita e mostrar o quão ridículo é o governo Bolsonaro e sua corte de bajuladores e puxa-sacos burros e despreparados.

Sem capacidade até mesmo para ser o figurante de plantão - motivo de sua contratação, afinal -, o secretário se mostra tão inapto e indigente quanto seus antecessores. 

Entretanto, deixar cada vez mais explícito o quanto a cultura e as artes se tornaram marginais, assim como o tamanho da destruição que está ocorrendo.

A única atuação diga de nota de Frias, além de servir de espinafração geral e escárnio por parte de Adnet, foi intimidar e ameaçar o órgão independente que vai escolher os representantes brasileiros no Oscar 2021. Informou à diretoria da Academia Brasileira de Cinema que os indicados "teriam de estar alinhados com o pensamento e as diretrizes do atual governo". É claro que não foi levado a sério.

Com dificuldades extremas até para conseguir se tornar um mero figurante, Mário Frias ao menos está cumprindo o único papel que lhe restou no governo Bolsonaro, o da total irrelevância, Assim sendo, nem os bajulatórios vídeos toscos que têm protagonizado lhe garantirão sobrevida nesta nau sem rumo.

No desespero, parte da classe artística direitista - um verdadeiro contrassenso - aplaudiu e apoiou o figurante de coisa alguma na secretaria. Bastaram algumas semanas para que o vazio de conteúdo fosse detectado, assim como o sabujismo laudatório em relação ao "herói" de seu vídeo ridículo.

Abandonado até pelo pequeno séquito de gente indigente intelectual da cultura que apoia Bolsonaro, o que resta para o secretário que rapidamente virou zumbi, assim como Regina Duarte e os antecessores?

Sem orçamento, sem metas, sem uma luz para clarear algum tipo de política que seja pelo menos assistencialista, sobra um imenso vazio. Não há nem mesmo um contra-ataque às seguidas e frequentes críticas à paralisia, à imobilidade, à completa falta de ideias - esqueça as rudimentares ruminações contra o "bobão" Adnet.

Ao agir como um miliciano pronto a morder pelo chefe quando atiçado, Mário Frias serve somente como uma distração enquanto a verdadeira milícia perigosa atua no Palácio do Planalto e na Casa Civil destruindo a educação, a saúde e meio ambiente.

Figurante em seus próprios domínios e desprezado quando reduzido a mero pastor alemão adestrado, Frias pensa estar cumprindo o seu papel. O problema é que ninguém está aplaudindo. Faltam até mesmo os sabujos de sempre para bater palmas para que os loucos dancem.

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