quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Mineiros clamam por reabertura do entretenimento; ainda não é hora para voltar

 Marcelo Moreira




A pandemia do coronavírus provocou mudanças de comportamento e de posturas tão violentas que certamente transformará de forma avassaladora a nossa forma de viver, principalmente no Brasil.

Diante da irresponsabilidade criminosa do presidente da República e de seus governo frente às necessidades impostas pela emergência sanitária - situação que pode ser aplicada aos governos estaduais e municipais - e da leniência de um povo ignorante e mal educado, não temos a menor perspectiva de superar essa tragédia.

Médicos e autoridades sanitárias do mundo continuam batendo na mesma tecla: isolamento e distanciamento social são fundamentais para conter o avanço do vírus, assim como o uso de máscaras e fechamento total de quase todos os serviços e atividades por certo período. 

Parece bem claro, mas parte do mundo resolveu ignorar essas orientações, o que explica mais de 1 milhão de mortos no mundo desde o começo do ano, sendo 141 mil no Brasil.

Como já era esperado, o setor de entretenimento, gastronomia, artes e cultura seria o mais impactado - o primeiro a sofrer as consequências econômicas e, provavelmente, o último a se recuperar.

Claro que é uma tragédia, e infelizmente pouco pôde ser feito no primeiro momento para assistir os profissionais e trabalhadores do setor que perderam emprego e trabalho. 

A indiferença do governo federal incompetente também demorou para articular algum tipo de ajuda, como a Lei Aldir Blanc, que pode ter pouco efeito na ajuda financeira aos necessitados.

Tudo isso é verdade, mas também é verdade que não é hora de relaxar e reabrir comércio e voltar ás atividades normais na área do entretenimento. 

A pandemia não acabou e está piorando em muitos locais do mundo. No Brasil, cidades e Estados enfrentam a volta do contágio em níveis alarmantes, o que torna a postura de negação de autoridades, como o nefasto presidente da República, crimes inacreditáveis, para não falar da irresponsabilidade generalizada de permitir a volta da atividade econômica como a reabertura de lojas, restaurantes e bares.

Diante desse quadro horrendo, fica difícil apoiar a iniciativa de profissionais da área de entretenimento e artes de Belo Horizonte (MG), que pressionam a prefeitura pela volta das atividades quase normais de shows, teatros e cinemas, entre outros. Mais uma entre tantas irresponsabilidades.

A categoria de profissionais da capital mineira pretende fazer uma manifestação na próxima segunda segunda-feira, 5 de outubro, na praça da Liberdade. O protesto é legítimo, por mais que a maioria das premissas esteja equivocada e não condizente com a emergência sanitária.

Os organizadores do evento não têm pudores em explicitar os objetivos: pressionar o poder executivo municipal para liberar a realização de eventos, "tomando todos os cuidados necessários". É uma vergonha sem tamanho.

"O setor entrou em uma crise sem precedentes. Em algumas cidades brasileiras, o segmento começa a retomar as atividades de forma gradual, mas em Belo Horizonte ainda não existe uma previsão para o
retorno", diz o manifesto da categoria. 

De acordo com Ederson Clayton, que integra a diretoria da AMEE (Associação Mineira de Eventos e Entretenimento), o objetivo da mobilização é unir as forças com profissionais e empresas do
segmento para gritarem por ajuda ao poder executivo municipal da capital mineira.

"O setor cultural é responsável por 2% do PIB brasileiro. Incluindo os eventos, emprega 5,2 milhões de trabalhadores. E não há nada que possamos fazer sem que exista um faturamento. Os caixas das
empresas estão zerados, não há previsão de receita, mas as responsabilidades e contas continuam existindo. Os salários de funcionários terão que ser pagos (ou possíveis rescisões), assim como os respectivos impostos, além de outras despesas fixas como aluguel, água, luz, comunicação, serviços de manutenção etc. Se nada for efetivamente feito, 2020 será marcado como o ano em que mais
empresas de eventos fecharam as suas portas em toda a história. O nosso setor está agonizando", diz o profissional.

É claro que lamentamos as consequências trágicas da pandemia. Não foi só o setor de entretenimento que sofreu. As estimativas mais conservadoras revelam que entre 2 milhões e 3 milhões de pessoas perderam empregos, trabalho e renda desde março no Brasil, em uma crise econômica sem precedentes em nosso país. É legítimo que se cobre soluções e ajuda de todos os governo, desde que haja responsabilidade e que não descumpramos as regras de isolamento mais do que estão sendo descumpridas.

Neste aspecto, ainda que irresponsavelmente a prefeitura de Belo Horizonte tenha relaxado quase que criminosamente as regras ao permitir a volta do comércio em vários níveis, acerta ao restringir e continuar proibindo o setor de entretenimento de funcionar. Resta saber se consegue fiscalizar o cumprimento destas regras.

"Entendemos a complexidade do momento e estamos planejando todos os cuidados necessários para
evitarmos o aumento de casos de Covid-19. Suplicamos ao nosso prefeito pelo direito de trabalhar. Já elaboramos rígidos protocolos que visam a realização dos eventos de forma segura, tanto para o público, quanto para quem estiver trabalhando, como, por exemplo, a limitação de 50% da capacidade dos locais. O nosso setor está agonizando e precisa de uma rápida retomada para que muitas empresas e empregos não deixem de existir", completa Ederson Clayton.

A reclamação é legítima e tem a sua razão de ser, mas que o prefeito Alexandre Kalil (PSD) tenha a sabedoria e não ceda. Não é hora para flexibilizar uma atividade onde a aglomeração é um requisito básico. 

Que os profissionais cobrem outro tipo de solução que não a reabertura, neste momento, de bares, e restaurantes e casas de show. Entendemos que os profissionais precisam trabalhar, mas desde que em segurança e com algum tipo de controle sobre o a covid-19, coisa que ainda está bem longe de acontecer. 

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