Marcelo Moreira
Neste trágico 25 de setembro, o Brasil chegará à marca de 140 mil mortos pela covid-19, a pior pandemia da humanidade em 100 anos.
Escolha a melhor comparação, ou que mais cause impacto: queda de cinco aviões por dia, dois Maracanãs lotados inteiros de mortos, uma explosão atômica em Hiroshima...
Os números são tão absurdos e fora de propósito que até mesmo anestesiam, como se referissem apenas a algum conto distópico de escritor de realismo fantástico ou de filme de ficção científica.
O estado de anestesiamento, além de ensejar comportamentos criminosos, como os de presidente nefasto, governadores e prefeitos, provoca alienamento coletivo, como se a pandemia tivesse sido extinta - e claro que só isso não explica praias, bares e festas lotadas sem os menores cuidados sanitários.
Portanto, não surpreende que tenhamos uma notícia lamentável no mundo do rock em total desrespeito às normas vigentes e ao bom senso: um show do Krisiun em São Paulo, no Carioca Club, em novembro.
O Sepultura continua sendo a grande banda brasileira de rock de todos os tempos, mas hoje é o Krisiun que desfruta de prestigio sem igual internacionalmente. É o nome nacional mais respeitado e venerado dentro do metal extremo.
Além disso, granjeou fama como banda engajada e com opiniões fortes de seus integrantes em assuntos de caráter progressista e de defesa dos direitos humanos, democracia e liberdade de expressão, posicionando-se francamente contra o fascismo.
Como então o trio de irmãos gaúchos entra em uma "roubada" dessas, derrapando inapelavelmente na ânsia de querer que tudo volte à normalidade?
O anúncio do show em São Paulo está rodando primeiro nas redes sociais. É uma apresentação no Carioca Club no dia 8 de novembro, com abertura da banda Desalmado. Fala-se em um "show especial".
Caso realmente aconteça, deverá ser o primeiro show de rock supostamente presencial no Brasil desde o inicio das medidas de isolamento e confinamento social por conta da pandemia.
No texto de divulgação, a banda fala em "respeitar todos os protocolos de segurança", com distanciamento entre as mesas, uso de máscaras, sanitização dos ambientes, aferição de temperatura e demais procedimentos.
"O evento acontecerá para um número limitado de pessoas e os ingressos serão vendidos apenas de forma antecipada pela internet. As mesas serão ocupadas por ordem de chegada", diz o anúncio.
Os exemplos mais recentes de novas ondas de contaminação parecem não ter sensibilizado a banda e os organizadores.
Cidades e Estados que antes registravam estabilidade em número de casos e mortes, ainda que em patamares altíssimos, voltam a observar aumento da incidência do vírus.
Times de futebol inteiros, como o poderoso Flamengo, perdem mais da metade do numeroso elenco por conta da doença. Leitos de hospitais e UTIs voltam a ficar ocupados em níveis alarmantes, sobretudo em cidades do litoral.
O que mais é preciso para que as pessoas se conscientizem de que ainda não acabou e que não deve acabar tão cedo?
Que tipo de otimismo é esse que faz com que o Krisiun e seus fãs acreditem piamente que a situação vai melhorar dentro de 45 dias para que voltem a desfrutar de m show de rock como antes?
Como era esperado, a notícia despertou reações apaixonadas. Parte dos fãs de rock e da banda vibrou com a possibilidade de ir a um show presencial; outra parte, bem mais expressiva, expressou reservas quanto à iniciativa e criticou a banda de forma ponderada. Poucos foram os que ficaram irados e consideraram uma tremenda irresponsabilidade, o que, de forma, é.
Um show do Krisiun é um tremendo gol contra em plena pandemia ue mata mais de 800 pessoas por dia no Brasil ainda - quatro aviões lotados caindo todos os dias.
O Combate Rock entrou em contato com a banda para repercutir a notícia do show, mas ainda não recebeu resposta.
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