Quem ainda compra música, e mais ainda: quem ainda compra CD, DVD, LP ou mídia física? Muita gente, como atesta o proprietário, Luiz Calanca, que também é produtor musical e que chegou á Galeria do Rock em maio de 1978. Se ainda existe algo parecido com o que foi uma Galeria do Rock, é graças a empresários e visionários como Calanca.
Entre os vários clichês estão resistência e resiliência. Com as mudanças de hábitos culturais e de consumo, a música se tornou apenas um detalhe, fácil de obter de graça na internet e totalmente descartável - menos na Baratos Afins, que ainda é um dos templos de bom gosto e de cultura sofisticada na cidade de São Paulo.
São 45 anos de atividade que nos lembram como o rock é forte e como a música é importante. A Galeria do Rock, como a conhecemos, não existe mais. Foi de descaracterizando com a chegada d ovos empresários e novos negócios.
Das outrora 140 lojas de discos e DVDs, restam muito poucas - menos de 30, segundo um lojista crítico do que o conjunto comercial Grandes Galerias (o nome oficial da Galeria do Rock).
A maioria dos espaços foi tomado por lojas de roupas, de produtos da cultura geek (como bonequinhos) e alguns estúdios de tatuagem.
A música no templo foi morrendo aos poucos o valor agregado na medida em que ficou de graça, desvalorizada, urgente e sem a mesma importância de outrora na vida das pessoas. O tempo para ouvir música ficou escasso, e boa parcela da população nem se importa mais com isso.
Calanca e outros abnegados continuam se importando e lutam contra forças do "imponderável" para manter a Galeria do Rock viva, essa instituição cultural que um dia foi "personagem" de novela da TV Globo e também um ponto turístico da cidade de São Paulo - conhecida internacionalmente como um dos grandes centros de comércio de música do mundo.
A longevidade e a existência da Baratos Afins nos mostram que a cultura resiste bravamente mesmo depois dos terríveis tempos bolsonaros.
Mais do que resistência e sobrevivência, a Baratos Afins representa vida, movimento e inteligência, coisas que a decadência da região central da cidade e a negligência/indiferença da prefeitura e do governo estadual om segurança e zeladoria pública não consegue destruir
A Baratos Afins é uma instituição da cultura nacional que o septuagenário Luiz Calanca segura firme e leva adiante com tenacidade, para orgulho de todos nós.
Sinônimo de bom gosto
A humildade é cativante e reforça a admiração por este farmacêutico que adorava música e era colecionador compulsivo de LPs.
A humildade é cativante e reforça a admiração por este farmacêutico que adorava música e era colecionador compulsivo de LPs.
Humilde, mas perseverante, já que largou tudo para criar uma loja de música em pleno centro de São Paulo, uma área que era decadente já em 1978.
Luiz Calanca e Baratos Afins são sinônimo de Galeria do Rock. "Não fui o primeiro a abrir a loja de música lá, mas sou o sobrevivente."
O lojista é uma figura cultural tão importante para São Paulo que inspirou um personagem de novela da TV Globo, assim como a sua loja foi a base para o estabelecimento da obra de ficção.
O lojista é uma figura cultural tão importante para São Paulo que inspirou um personagem de novela da TV Globo, assim como a sua loja foi a base para o estabelecimento da obra de ficção.
Sua influência na música da cidade é tão grande que a loja foi tema de palco na Virada Cultural e se tornou parada obrigatória de artistas para bater papo, tomar café e comprar CDs e vinis.
É possível, no mesmo dia, esbarrar em Ed Motta ou Marcelo Nova (Camisa de Vênus) nos estreitos corredores onde os LPs se concentram.
Há aqueles que não têm muito apreço pela Baratos Afins, ora por causa dos preços considerados altos dos produtos – dependendo do caso, são mesmo -, ora porque se trata de artistas que acharam que iam se dar muito bem e ganhar dinheiro estando vinculados ao selo Baratos Afins, coisa que não ocorreu.
Há aqueles que não têm muito apreço pela Baratos Afins, ora por causa dos preços considerados altos dos produtos – dependendo do caso, são mesmo -, ora porque se trata de artistas que acharam que iam se dar muito bem e ganhar dinheiro estando vinculados ao selo Baratos Afins, coisa que não ocorreu.
"Como eu adoraria que isso ocorresse com todos os artistas que trabalharam comigo, mas uma rápida analisada no mercado musical atual explica tudo. Sei que pode ter alguns por aí que me culpam por não terem estourado. O que vou dizer sobre isso? Deixo que os artistas que estão comigo falem por mim e por eles", afirma resignado o lojista..
Quando a Baratos Afins completou 35 anos, em 2013, tudo indicava que a loja se tornaria uma instituição cultural da cidade e, por que não, do país.
Quando a Baratos Afins completou 35 anos, em 2013, tudo indicava que a loja se tornaria uma instituição cultural da cidade e, por que não, do país.
As tempestades econômicas e políticas, aliadas às velozes mudanças na forma como se consome música na atualidade parecem ter atrasado a "concessão" da honraria – como se isso fizesse alguma diferença, pois a loja, reduto de inteligência, realmente se tornou a tal "instituição".
A Baratos é sim uma instituição cultural das mais relevantes da cidade de São Paulo, independentemente da progressiva mudança de perfil comercial da Galeria do Rock, dos consumidores e da forma de como se consome música.
A Baratos é sim uma instituição cultural das mais relevantes da cidade de São Paulo, independentemente da progressiva mudança de perfil comercial da Galeria do Rock, dos consumidores e da forma de como se consome música.
Entrar na loja é tomar um banho de cultura, de inteligência e bom gosto. A Galeria do Rock virou ponto turístico, mas perdeu parte de seu apelo cultural. Ainda bem que a Baratos Afins ainda está lá para evitar o descalabro e manter vivo o rock and roll em Sampa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário