A conversa é a mesma de sempre: "Vamos jogar bola!!!!!!!". "Não aguenta provocação? 'Pede' (sic) para sair." "Mimimi de jogador mimado que não aguenta pancada." "Até os negros na arquibancada, no Brasi,, xingam os negros..."
Isso tudo foi vomitado há mais de dez anos, quando o goleiro Aranha, do Santos, foi criminosamente xingado e atacado em um jogo contra o Grêmio na Copa do Brasil. Uma das meninas flagradas xingando o goleiro em Porto Alegre perdeu o emprego e respondeu a longo processo por injúria racial, e mais nada.
A semana começou com as mesmas pérolas acima vomitadas nas redes sociais para desmoralizar e desqualificar o atacante brasileiro Vinícius Jr, do Real Madrid, recorrentemente chamado de macaco em TODOS os estádios da Espanha, exceto talvez, no Santiago Bernabeu, o do seu time. (Quem garante que os madridistas não o xingam quando perde um gol?)
Não adianta mostrar aos racistas ou aos "isentões" (também racistas) que relativizam os insultos nos estádios que não se tratam de três, cinco ou dez. São milhares, como os vídeos e as TVs que transmitiram o jogo Valência e Real Madrid, como ficou claro. O estádio Mestalla inteiro o xingou de macaco, em uma das manifestações racistas mais nojentas em um estádio de futebol na história
Racismo é crime em quase 90% do planeta. Na Europa é crime. na Espanha, dizem, é crime. No Brasil é crime gravíssimo. Deveria ser gravíssimo sempre, todos os dias, em todos os lugares.
Em pelo menos dez locais nas redes sociais os racistas e isentões foram hostilizados e atacados - com toda a razão - com links de vídeos de duas músicas fenomenais que servem de trilha sonora antirracista nestes tempos difíceis.
"Fogo nos Racistas", da anda mineira Black Pantera, jogou na cara dos miseráveis que relativizam o crime toda a revolta de um povo cansado de apanhar e de ser marginalizado, vilipendiado e insultado.
Quando um imbecil reclamou dizendo que "este tipo de manifestação só estimula ainda mais a violência", outra pérola racista que pretende calar os protestos, tomou outra na cabeça: o link da maravilhosa "No Matter Lives", protesto gigantesco e violento da banda americana Body Count contra a hipocrisia do que cerca o bordão "Black Lives Matter" (vidas negras importam).
"Os 'pacifistas' adoram dizer que todas as vidas importam quando decidem combater o que chama de hipocrisia. Só que as vidas prestas continuam morrendo, assim como as vidas hispânicas, as vidas pobres, as vidas muçulmanas. Para esses pacifistas, na verdade, nenhuma vida importa", vocifera o rapper Ice-T, vocalista da banda de metal Body Count, formada por negros na Califórnia.
A cada reclamação de "estímulo" à violência feito por idiotas isentões e conservadores de viés fascista, novos links de porradas sonoras roqueiras apareciam, assim como de clássicos da música brasileira. Surgiu até uma versão ultrapesada de "A Carne" , que ganhou o mundo com a estupenda Elza Soares, com o projeto Black Metal Lives, projeto da empresa paulista Som do Darma.
"A carne negra é a mais barata d mercado", diz a letra ressaltando a pesada carga da luta antirracista dos tempos atuais.
Vinícius Jr resolveu comprar a briga e enfrentou todo um estádio, fervendo de indignação. Confrontou os racistas jogadores do Valencia, brigou e exigiu o respeito que todo ser humano merece.
Sacaneou a torcida adversária lembrando que o o time da casa está à beira do rebaixamento para a segunda divisão espanhola.
A coragem do menino é enorme, pois decidiu enfrentar todo um país ao se manifestar nas redes sociais contra o racismo de que é vítima.
Não mediu as palavras: a liga espanhola se tornou u evento que tolera o racismo e a Espanha, aos olhos do mundo, hoje é um pís racista, escreveu o jogador nas redes sociais.
Lamentavelmente, seus colegas negros do Real não se manifestaram publicamente até agora - gente importante o alemão Rudiger, o austríaco Alaba e o brasileiro Rodrygo. Negros e tão vítimas indiretas dos insultos racistas.
Muitos ainda temem as inevitáveis retaliações do "sistema" que certamente prejudicarão, de alguma maneira, suas carreiras, mirando o exemplo do americano Colin Kaepernick, astro do futebol americano (NFL) que ousou questionar e protestar contra o racismo, cuja carreira foi torpedeada pelo mundo branco fascista da corja do ex-presidente Donald Trump.
É possível respeitar quem evita o confronto (por mais que lamentemos isso) ou adota outro tipo de postura. Ronaldinho Gaúcho ignorava os insultos e provocações das arquibancadas e dos adversários. Em campo, preferia brincar e driblar, sempre com um sorriso no rosto, seja no Barcelona, no Paris Saint Germain ou no Milan.
Daniel Alves era mais corajoso/inconsequente e sarcástico. Em jogo do Barcelona fora de casa, atiraram uma banana nele quando se preparava para cobrar um escanteio. Não pensou duas vezes: pegou a fruta, descascou-a e a comeu ali mesmo, arrancando risos dos companheiro de time e do árbitro.
Roberto Carlos preferiu dizer a um idiota, quando jogou no russo Anzhi, que podia comprar milhões daquelas bananas atiradas contra ele, enquanto o agressor - que não foi incomodado - teria problemas para pagar a conta do aquecimento de casa no absurdo inverno do país.
São posturas que não podem ser condenadas, por mais que cobremos e esperemos maior engajamento dos nomes mais importantes do esporte contra o racismo e o fascismo.
Ainda prevalece a ideia de que o que ocorre no campo e nos vestiários deve ficar por lá, incluindo os crimes ocorridos e perpetrados pelas arquibancadas. Para azar dessa gente, cruzaram com o Vinícius Jr, pelo caminho, nem um pouco disposto a permitir que o racismo fique trancado nos vestiários ou impedido de ser denunciado após o apito final do jogo.
Para os racistas espanhóis, expostos ao vexame mundial, surge outro rótulo colado a suas testas depois de que o jogador brasileiro ousou apontar o dedo - a de não se importar com nenhuma vida, exatamente como bradou Ice-T em "No Lives Matter". Não dão a mínima para a tragédia dos imigrantes massacrados, humilhados e vilipendiados pelo sistema de segurança anti-imigração ibérico.
De forma asquerosamente hipócrita, vibram e gritam nomes de jogadores marroquinos, marfinenses, camaroneses, paraguaios e mexicanos quando estes marcam gols e ganham os jogos. Quando ganham e marcam gols, são geniais e bestiais quando perdem, não passam de "africanos de mierda".
Para todos os que acham que nenhuma vida importa, Vinícius Jr surge - e se insurge - para imputar-lhes a pecha de racistas criminosos, que devem receber todo o fogo possível, como protesta o Black Pantera. E então, deixe-os queimar...
Com pouco mais de 20 anos, Vinícius Jr se tornou um dos maiores brasileiros ha história - ao menos, certamnte, deste século.
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