terça-feira, 16 de maio de 2023

Virada Cultural de SP descentralizada 'descarta' o rock e abandona conceito original

 Como já era esperado, a Virada Cultural 2023 na cidade de São Paulo está descaracterizada e sem o charme de edições anteriores. 

A descentralização de atrações, aplicada nas duas últimas edições, tem o mérito de levar mais atrações para a periferia, mas nega a experiência mágica de revitalizar o centro e desfrutar muito mais programas legais. O evento ocorre nos dias 27 e 28 de maio.

Havia o temor de uma Virada malfeita ou mesmo cancelada por conta dos problemas administrativos com a empresa escalada para viabilizar o evento. A Prefeitura de São Paulo reassumiu a liderança e conseguiu colocar de pé uma programação minimamente viável.

Serão 12 palcos espalhados pela cidade, e somente um no centro da cidade, no Vale do Anhangabaú, o único que será 24 horas e com o funcionamento de duas estações do metrô a noite inteira - São Bento e Anhangabaú. A Prefeitura informa que serão mais de 500 atrações culturais em mais de dez modalidades.

De forma lamentável, a programação total só é acessível em um site muito mal elaborado e com falhas no carregamento. Quem conseguir que tente em viradacultural.prefeitura.sp.gov.br.

Rock? Esqueça. A principal atração será Supla, o sexagenário personagem punk chique que vem se reinventando na carreira nos último anos. É muito pouco para um evento que já foi referência musical no continente. 

Ainda de acordo com a prefeitura, os principais artistas musicais escalados são Tom Zé no Centro Cultural Tendal da Lapa; Tássia Reis, Marina Sena, Supla e Anavitória no Palco Rio Pirajussara, no Butantã; Alessandra Leão e Sapopemba no Sesc 24 de Maio; Salgadinho no Palco Rio Piraporinha (Zona Sul); Karol Conká e Maria Rita na Capela do Socorro (Zona Sul); e Psirico, Dilsinho e Roberta Miranda em São Miguel Paulista (Zona Leste).

Além dos centros culturais, casas de cultura, CEUs, bibliotecas e do Theatro Municipal, a programação ocupa 16 unidades do Sesc SP. Na programação, Ellen Oléria cantando Beyoncé, um show acústico e intimista de Céu; o pernambucano Otto; Bruna Caram homenageando Gonzaguinha; Ivan Lins; e Clube do Balanço.

O evidente pouco apreço pela cultura dessa gestão ruim da Prefeitura de São Paulo - a mesma corrente política administra a cidade desde 2016 - se reflete na pouco inspiradora edição da Virada em 2023, que aparentemente sofre com o improviso e um planejamento deficiente.

A descentralização dos palcos e atrações, elogiada por muitos, é o principal fator para que a descaracterização do conceito original ocorra, evidenciando os equívocos conceituais e a decadência do evento. 

A ideia bacana de "virada", ou seja, passar a noite inteira curtido várias atrações, foi enterrada, já que apenas um do 12 palcos será 24 horas. Ocupação do centro? parece ser uma ideia que assusta a atual administração municipal incapaz de oferecer programas culturais com segurança.

Uma Virada Cultural dispersa por toda a cidade não contempla a ideia de integração da população com a sua cidade - até porque sempre houve eventos nos bairros em todas as edições anteriores.

Claro que devemos sempre valorizar a realização da Virada Cultural em qualquer circunstância, e com todas as atrações de graça, em um evento que requereu um investimento de R$ 400 milhões. Mas é evidente a piora na qualidade do evento, em todos os sentidos, a começar pelo conceito - não é mais uma Virada Cultural depredada por administradores que desprezam a cultura e coisas bem feitas.

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