quarta-feira, 10 de maio de 2023

Lulu Santos e Ritchie: os mestres que, há 40 anos, formataram o pop rock nacional

 A Blitz abriu as portas, mas não haveria rock nacional como nós o conhecemos se não tivéssemos Lulu Santos e Ritchie. A afirmação é ambiciosa e presunçosa, mas é corroborada por muita gente que ajudou a formatar o "subgênero" nos últimos 40 anos.

Os dois cantores chegaram aos 70 anos de idade com aura de decanos - que de fato são, ao lado de outro septuagenário, Marcelo Nova, do Camisa de Vênus. 

Se Ritchie viveu grandes hiatos e não conseguiu manter o estrondoso sucesso do álbum "Voo de Coração", Lulu se tornou sinônimo de hits e de sucesso absoluto por décadas. 

No entanto, está claro que foram os dois artistas que mais contribuíram para elevar o pop baseado no rock a altos patamares, colocando-o no topo das paradas. São os responsáveis por aproximar o rock do pop como nunca antes ocorreu no Brasil.

Os concertos comemorativos de Lulu Santos em comemoração aos seus 70 anos, que começaram em maio, evidenciam a imensa capacidade do guitarrista como habilidoso compositor e um melodista incomparável. 

Ousado, inteligente e versátil, descreve em poucas notas um arco rico de influências e possibilidades. Avançou tanto em relação à MPB e à música eletrônica que a incorporou ao próprio som. Absorveu de tal forma elementos de fora que não teve vergonha de se apropriar de tudo isso. Não erra quem atribui a Lulu a pecha de "sinônimo" de pop rock.

Descrever seus principais hits é desnecessário e repetitivo, assim como ressaltar sua qualidade artística e sua relevância. 

É possível discutir a importância de Lulu ao ponto de dizer se ele formatou ou não o verdadeiro pop rock nacional, mas é inegável que sua música quase que imediatamente virou sinônimos de rock, e de uma forma tão contundente que o catapultou a um lugar invejável dentro da música nacional.

A contribuição de Ritchie não foi tão intensa ao longo dos anos, mas a sua relevância é tal que ganhou bom espaço na imprensa cultural quando do anúncio de sua turnê para celebrar o 40 anos do álbum "Voo de Coração". Muita gente se surpreendeu ao se "lembrar" dele, enquanto outros não perderam tempo el louvar a sua importância.

Inglês de nascimento e carioca muito mais carioca do que a maioria dos brasileiros do Rio de Janeiro, Richard Court acrescentou o seu DNA britânico à música nacional de forma bastante específico: sofisticado e elegante, dominando totalmente a língua portuguesa, trouxe características bastante diferentes à música brasileira.

Muitas vezes comparado ao conterrâneo e contemporâneo Bryan Ferry, ex-vocalista do Roxy Music, o cantor inglês trouxe ao cenário brasileiro uma nova interpretação, digamos assim, para a música pop.

 Suas letras tinham uma certa eloquência muitas vezes observada na MPB dos anos 70, com boas metáforas e analogias, mas explicitadas de forma tão clara e acessível que conquistou rapidamente o público.

Seu texto é eloquente e até elegante, mas longe de um certo intelectualismo estéril que algumas obras brasileiras e estrangeiras apresentaram a parti do final dos anos 70. 

Com inteligência, conseguiu entender a alma do jovem brasileiro de classe média carioca e interpretou sagacidade os anseios dessa juventude. Já tinha mais de dez anos de praia e residência no Rio quando finalmente se lançou como artista solo. 

Desde o começo espantou o mundo profissional da área pela perspicácia no manuseio da língua portuguesa e pelo conhecimento musical e de produção. Mesmo morando no Brasil, tinha um "background" internacional respeitável, o que ajudou na formatação do som que criou.

Dá para falar em genialidade? Dá para falar em extrema competência e um talento espantoso, acima da média, e "Voo de Coração" é a sua expressão máxima.

Lançado em junho de 1983, o disco trouxe pelo menos meia dúzia de hits de rádio, como o hit eterno, “Menina Veneno”, e outros sucessos como “Pelo interfone”, “A vida tem dessas coisas”, “Voo de Coração” e “Casanova”.

“Voo de Coração” foi o LP mais vendido do Brasil naquele ano e permaneceu nas paradas nacionais por tanto tempo que, no fim do ano seguinte, ainda disputava a liderança com Roberto Carlos e “Thriller”, de Michael Jackson.

Nos shows, Ritchie, acompanhado de uma excelente banda, formada por músicos experientes como Hugo Hori (sax e flautas), Eron Guarnieri (teclados), Luis Capano (bateria), Renato Galozzi (guitarrista) e Igor Pimenta (contrabaixo), fará um apanhado de seus 40 anos de carreira e homenageará ídolos como Cat Stevens, Caetano Veloso, Peter Gabriel e Righteous Brothers.

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