As coisas nunca foram fáceis para o cantor Thiago Bianchi, ainda que ele exale um astral ótimo em qualquer conversa. Superando vários problemas de saúde driblando os percalços para manter as bandas sob seus cuidados, ele tratou de fazer de sua carreira um exemplo de perseverança em empreendedorismo no rock nacional.
"Cosmic Redemption", o quarto álbum de estúdio de sua banda, a Noturnall, se encaixa perfeitamente em seu "perfil profissional": superação acima de tudo e drible no destino que parece conspirar contra em algumas vezes.
Quando entrou no Shaman, há quase duas décadas, parecia que a decolagem era certa, até porque a segunda formação da banda era um verdadeiro time de astros brasileiros.
Dois discos de estúdio e um ao vivo depois, o desgaste implodiu o projeto - rápido demais - e Bianchi e outros três músicos da banda precisaram partir para o Noturnall por volta de 2012. E, com essa banda, foram vários os recomeços devido a muitos problemas, com direito a uma pandemia de covid-19 no caminho.
Gravado há algum tempo, "Cosmic Redemption" prometia ser o grande trabalho da Noturnall para celebrar uma estabilidade na formação. Não deu, infelizmente.
O ótimo guitarrista americano Mike Orlando (ex-Adrenaline Mob), morando em Nova York, saiu em meados do ano passado quando a banda tinha compromissos em São Paulo.
A solução teve de ser caseira, com a segunda volta do guitarrista Leo Mancini. e não e que tudo e encaixou, reforçando a aura iluminada de Bianchi?
Engatando uma turn^com mais de 40 shows pelo Brasil neste ano ao lado de Paul Di'Anno (ex-vocalista do Iron Maiden), as coisas parecem estar se encaixando e se assentando. época propícia para finalmente lançar o novo disco.
Com produção certeira e ótimas músicas, "Cosmic Redemption" é a confirmação da evolução artística de uma banda que nasceu grande e que passou por cima do pessimismo. É o melhor dos quatro trabalhos de estúdio.
Mais do que maturidade, o trabalho ostra uma banda que esbanja confiança. Não há exageros e nada tão ousando a onto de causar estranhamento. É um conjunto de músicas que estabelece uma marca e faz da Noturnall um nome brasileiro de padrão internacional definitivamente. Hoje, oferece mais certezas do que dúvida.
Duas músicas já tinham sido divulgadas como aperitivo. "Scream!!! For!!! Me!!!" é power metal explosivo, que ganhou um clipe ainda com a presença de Orlando. Guitarras perfeitas conduzem um trem aparentemente desgovernado a um final apoteótico. E tem a luxuosa participação de Mike Portnoy (Sons of apollo, winery Dogs, ex-Dream Theater) na bateria.
"Try Harder" é outra canção poderosa que trilha o metal tradicional. Se ela não apresenta inovações ou algum tipo de ousadia, oferece energia e peso necessários para uma boa canção de apresentação de um novo trabalho.
As duas músicas, entretanto, não entregaram o principal: a versatilidade e profusão de boas ideias em "Cosmic Redemption", cuja faixa-título já tinha sido executada na turnê russa ao lado do Disturbed antes da pandemia.
No estúdio ela soa mais sofisticada, com riffs incisivos de guitarra e uma seção rítmica que transmite total segurança - o baixo de Saulo Xakol é pulsante e pesado e a bateria de Henrique Pucci é firme e sólida. É a música que sintetiza o álbum.
"Cosmic Redemption é o disco que mais lutei para lançar e provavelmente um dos mais fortes de minha
carreira. Depois de toda uma reestruturação da banda e uma pandemia, por muitas vezes achei que não conseguiríamos…", comentou Bianchi quando do lançamento.
O cantor expressa gratidão pela perseverança da banda e de seus colaboradores e se diz orgulhosos do que foi elaborado. "Metal é isso aí, é uma força maior do que os indivíduos de uma banda… e tem
vida própria. Orgulho gigante dos meus parceiros de banda e desse disco. Redenção Cósmica é exatamente o que estamos passando enquanto raça."
"Reset the Game" segue na mesma toada, e é possivelmente a melhor do disco entre um punhado de ótimas músicas. É metal na melhor amplitude da palavra, com os melhores e refrões que a banda produziu nos últimos tempos.
Tem ainda uma ótima balada quase blues, a bela "Shadows (Walking Through)", carregada de simbolismos e que reflete alguns momentos difíceis da banda desde ano passado. Os arranjos orquestrais foram coordenados pelo guitarrista Michael Romeo, da banda Symphony X.
Outra participação bem especial é a de David Ellefson, ex-baixista do Megadeth e que hoje toca na banda internacional Dieth. É a mais rápida do disco, quase um speed metal que se destaca pelos belos arranjos de guitarra.
A surpresa foi a inclusão de "O Tempo Não Para", versão para o clássico de Cazuza que ficou emocionante com a participação de Ney Matogrosso, em outro golaço da Noturnall.
A versão é carregada de emoção e dramaticidade em cima de uma base de guitarra pesada e eloquente. a canção destoa do restante do álbum, mas acaba funcionando por conta de ser inusitada e acrescentar um charme ao trabalho.
"Cosmic Redemption" resgata a Noturnall das tormentas e aponta para um futuro muito interessante no médio prazo para uma banda trabalha muito e cria bastante. A boa colheita agora e bem merecida.
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