sexta-feira, 5 de maio de 2023

Censura, liberdade e a alma vilipendiada pela ignorância

 "Se até o Google é contra, então a coisa é séria mesmo. Querem acabar com a nossa liberdade." Sem medo de passar vergonha, o guitarrista de uma banda gospel importante do segmento vomitou tal preciosidade no almoço enquanto prestava a atenção a uma reportagem de TV no restaurante sobre o Projeto de Lei 2.630, o PL das Fake News.

Cheio de razão, o cidadão, que também toca em uma banda secular de heavy metal em sua cidade, mostrou os áudios ridículos do grupo de WhtasApp da igreja, onde o pastor vomitava sandices de que o projeto era um plano maligno do diabo e da esquerda para "acabar com os cultos e proibir os religiosos de falar a verdade". 

Quem me mostrou os áudios, um antipetista histórico amante de rock progressivo e devoto fiel da democracia, não teve dúvidas em vaticinar: "O credo liberal falhou no campo da comunicação. Sempre repudiei ideias absurdas de regulamentação da mídia, imprensa e comunicação, propostas de ponta da esquerda. As redes sociais, por caminhos tortos, deram razão à esquerda. E eu tenho de apoiar."

A discussão simplista de "ataque à liberdade de expressão" não resiste a dois minutos de argumentação, mas a ignorância é forte nos dias atuais e mostra que a luta contra o negacionismo, as mentiras e a disseminação do ódio é permanente e não arrefeceu com a derrota do bolsonarismo abjeto e criminoso.

Parte da sociedade brasileira não se deu conta- ou não quer se dar - da gravidade da questão e das implicações a respeito no Congresso Nacional.

O projeto é mais do que necessário para assegurar punição a quem comete crimes. É um dever social em nome das vítimas de crimes de ódio perpetrados com estímulo de patifes nas redes sociais - quando não planejados e disparados pelas próprias redes.

Se a regulação/regulamentação já era mais do que necessária em 2018, quando crimes eleitorais foram praticados e ficaram impunes, a terra sem lei que é a internet ficou ainda mais perigosa de lá para cá com a explosão da violência incentivada via redes sociais.

Grupos fascistas e nazistas surgiram nas sombras e trevas m todo o mundo com a omissão/conivência das grandes empresas de tecnologia, agora desesperadas com várias iniciativas mundiais de limite a sua atuação. 

A campanha contra o PL 2.630 feita pelo Google e outras plataformas não só é nojenta como criminosa, sendo combatida com eficiência surpreendente por um governo que ainda patina em outras áreas.

Com um texto apenas razoável, que perdeu força por conta da pressão exercida por políticos evangélicos e ultraconservadores/fascistas no Congresso, ainda assim é necessário para restringir a atuação de criminosos e tornar solidárias as empresas na investigação/acusação de eventuais crimes caso não ajam para conter os abusos.

O fato de não haver um órgão regulador específico para fiscalizar as redes e as empresas e estabelecer "tratamentos diferenciados" para parlamentares que cometerem crimes virtuais enfraqueceram bastante o texto, o que ressalta a extrema dificuldade de discutir o assunto com seriedade em uma sociedade doente.

Em circunstâncias normais, atacar e se opor à necessidade de regulação revelaria um perigosa, preocupante e quase criminosa deformação de caráter. Mas quem disse que certas bancadas no Congresso estão preocupadas com isso.

De forma lamentável, a deformação de caráter se espalhou por toda a nossa sociedade. Entre artistas a aficionados, com a presença de roqueiros que não é insignificante, o discurso anticultura e a favor das fake news não só não é combatido com veemência como é adotado por gente que diz gostar de punk rock e, a mesmo tempo, de Pink Floyd, do esquerdista Roger Waters.

É assustador perceber que, mesmo com o bolsonarismo escorrendo para o esgoto, ainda sobrevive no meio artístico/musical/do rock, gente ultraconservadora a favor de censura contra "a esquerda e contra quem não defende os valores da família e da pátria". 

Esse lixo eu li nos comentários de um post de um guitarrista paulistano antipetista e bolsonarista. Gente que gosta de rock e do meio artístico ser a favor de censura e esbravejar contra a democracia. De que profundezas ou planeta escroto essa gente emergiu?

Ninguém disse que seria fácil nos livrarmos das trevas fascistas. O Combate Rock tem sido bastante repetitivo, mas é necessário: metade da população brasileira é fascista e se orgulha de sua ignorância ao votar e apoiar o que há de mais atrasado  e medieval em todos os sentidos.

É uma população que não tem vergonha de votar em ladrão e em criminosos que apoiam e praticam a escravidão moderna - esse mesmo tipo de lixo humano que investe contra qualquer tipo de regulação das redes sociais e da atuação das grandes empresas de tecnologia.

Não existe receita pronta e segura que, aplicada, extirpe esse câncer social, mas sabemos que é necesssário usar todo tipo de arma para conter e eliminar as tendências fascistas - inclusive adotando medidas fascistas contra os intolerantes para manter a democracia. A aprovação do Projeto de Lei 2.630 é fundamental para destruir essa ideologia/gente nefasta.

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