A ideia era realçar a boa iniciativa de fechar a avenida São João aos domingos para lazer e shows musicais dentro do programa "Ruas Abertas", mas a Cracolândia e a incompetência dos governos prometem não deixar isso acontecer.
Os novos episódios de violência registrados no domingo, dia 28 de janeiro, com novos saques a comércios da área central da cidade, devem congelar a iniciativa e começar a revitalizar várias ruas do entrono da Galeria do Rock, que pretendia encampar o palco rock no Lardo do Paissandu..
O descontrole atingiu tal ponto que deixou de ser uma questão de saúde pública para se tornar, cada vez mais, em um escandaloso caso de (falta) de segurança pública.
Desde o final de 2023 foram pelo menos quatro saques a lojas e lanchonetes, tanto à noite como de dia, afugentando os consumidores do entrono da rua Santa Ifigênia, o maior pólo de vendas de material eletroeletrônico da América Latina e um dos maiores do mundo.
Em uma rápida enquete realizada por uma emissora de rádio paulistana, 60% das pessoas ouviidas aprovaram o fechamento da avenida São João para o lazer, mas 44$ disseram que não iriam ao local aos domingos com medo da violência da Cracolândia e dos roubos e furtos.
Com o desespero e a perda de pudor dos doentes e viciados em drogas em atacar comércio à luz do dia para obter dinheiro para o consumo de entorpecentes, definitivamente tornou a região central da cidade em uma zona proibida para lazer e compras. A avenida São João fechada para lazer ficará para outra ocasião.
Tanto a Prefeitura de São Paulo quanto o governo estadual, que toma conta da Polícia Militar, responsável pelo patrulhamento ostensivo, insistem que os saques são "casos isolados" , afirmando que n]ao há insegurança no centro da cidade. Pena que não convencem ninguém.
A preocupação é com o carnaval que se aproxima, quando milhões de pessoas pretendem frequentar os blocos de rua, muitos deles na área central - a data e uma das fontes mais importantes de arrecadação por conta do turismo. Carnaval com Cracolândia?
Sem solução
Na Galeria do Rock, que não fica longe os epicentros da Cracolândia e dos sem-teto da Praça da República, a diminuição do público, principalmente de turistas, é sensível desde 2022, ainda que a Polícia Militar tenha reforçado o policiamento no Largo do Paissandu, o que é insuficiente.
A questão agora afeta a realização de eventos, underground ou não, na área do chamado Centro Velho, que abrange a Galeria do Rock e outros locais importantes, como Galeria Olido e pequenas casas e bares com shows ao vivo.
Segundo pessoas do meio cultural ouvidas pelo Combate Rock, instituições e empresas desistiram de organizar pelo menos seis eventos gratuitos no ano passado, como minifestivais de rock e metal, no centro da cidade por conta da falta de segurança diretamente ligada à Cracolândia. Duas bandas de metal não viram confirmadas suas apresentações em locais da região central.
Se observarmos a linha de evolução do que ocorre na Cracolândia, até que as consequências demoraram diante do aumento crescente da violência, dos confrontos por conta da ação repressiva desastrada das forças policiais e da falta de efetividade nas ações de combate ao tráfico de drogas, que não é incomodado;
Prender dois ou três vendedores de trouxinhas não só é inútil como ridículo, expondo as forças de segurança a uma vergonha imensa.
A Prefeitura de São Paulo está tão perdida que a melhor ideia que teve foi dar isenção de IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) para 947 imóveis afetados da área central, fato que está sendo analisado pela paralisada e improdutiva Câmara Municipal.
Uma piada paliativa, que apenas mostra que a administração da cidade, de viés conservador, não tem ideia de como lidar com o problema - ou não quer, como suspeitam alguns comerciantes da região, que veem na medida uma cortina de fumaça.
Drama e desumanização
É um problema de 30 anos que divide especialistas importantes sobre a forma de debelar a questão: como conciliar a infelizmente necessária repressão policial contra o tráfico e a violência dos doentes, e a também necessária assistência médica e social por parte do poder público.
Diante da falta de referências, a direita política que domina na prefeitura e a Câmara defende a internação compulsória de doentes e aumento sistemático de policiais para reprimir todo mundo, com evidente apoio de parcela expressiva da população.
Qual é a alternativa proposta pela esquerda? Deixar como está é melhor do que as "ações paliativas" de bater em usuário, como assumem sem pudor pessoas bem intencionadas do campo progressista... Assim fica difícil travar um debate sério sobre a Cracolândia.
Nestes 30 anos de Cracolândia, quem lidou melhor, ou menos pior, foi o prefeito Fernando Haddad (PT, 2013-2006), que tentou uma abordagem mais humanizada com o Programa Redenção, que oferecia algumas possibilidades de recuperação médica, tratamento, hospedagem em hotéis populares, requalificação profissional e emprego, ainda que nada muito substancial.
Entretanto, não conseguiu o apoio do governo estadual conservador de Geraldo Alckmin, então do PSDB, e a questão principal, o fornecimento de drogas e o aumento exponencial de usuários, não foi atacado. Houve quem acusasse, sem provas, o governo estadual de sabotagem, embora uma má vontade fosse perceptível.
A trinca de prefeitos seguinte - João Doria e Bruno covas, do PSDB, e Ricardo Nunes, do PMDB - virou a abordagem do assunto de cabeça para baixo, desmobilizando e desmontando o Redenção e tentando implantar, sem sucesso, programas assistenciais de baixa adesão.
Uma solução para este problema é mais do que imediata, é urgente, sob pena de inviabilizar comercialmente uma área importante da cidade e que é referência internacional, como os eletrônicos da Santa Ifigênia e os serviços do miolo das ruas Barão de Itapetininga, 24 fr Maio e 7 de Abril, além da praça Dom José de Barros.
Como o crime organizado e o tráfico de drogas se infiltraram de forma absurda na Cracolândia, novos confrontos entre polícia e bandidos, e polícia e usuários, serão inevitáveis, quando não necessários, infelizmente, para que a repressão, feita de forma planejada e inteligente,
Sem a abordagem assistencial e humanizada, entretanto, não haverá como resolver de forma definitiva. É necessário um investimento forte o social, coisa que os conservadores e extremistas de viés fascista nunca se dispuseram a fazer e jamais o farão.
De forma conveniente, muitos políticos que apoiam e apoiaram as últimas administrações conservadoras da cidade e do Estado dizem que a situação é insolúvel, como o conflito entre israelenses e palestinos. é o mesmo tipo de gente que tem horror a pobre e que fazem de tudo para administrar somente para os privilegiados da avenida Paulista, da Faria Lima e dos Jardins.
Estamos desperdiçando oportunidades para resolver de forma humana um problema de saúde pública, assistência social e segurança, com um custo financeiro e social por conta da demora.
Da forma om que governo estadual e prefeitura lidam atualmente com a Cracolândia, parece que o objetivo é acentuar o estado de degradação da área central de São Paulo, ensejando acusações veladas, sem provas, de que quanto mais degradada, pior fica e mais barato se torna para a especulação imobiliária.
O que dizem prefeito e governador
A pelo menos três emissoras de rádio, o prefeito Ricardo Nunes disse no segundo semestre do ano passado que mais leitos para internação de dependentes químicos estão sendo criados e mais de 200 traficantes foram presos.
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