segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Um desentendimento entre gênios, e Jeff Beck, sem saber, mudou a sua carreira

 Era para ser uma colaboração entre gênios, coisa corriqueira entre os grandes da música. Jeff Beck, o estupendo guitarrista britânico que orreu há um ano, aos 78 anos, voaria até os Estados Unidos a pedido do amigo e admirador Stevie Wonder, e colocaria ua genialidade em uma nova canção e, mais tarde, em outras de um álbum. E, por conta de uma decisão de produtores e empresários, os dois quase romperam – só que, sem saber, o “incidente” mudou a carreira do guitarrista.

Isso ocorreu há 51 anos e se tornou uma história bem bacana que demonstra como é possível extrair de uma desavença algo maravilhoso, mas que só tomaria forma três anos depois. A história foi lembrada pelo jornalista André Barcinski no site Revista Lado B

Depois do fim da primeira encarnação do Jeff Beck Group, em 1969 – uma banda de blues que tinha rod Stewart nos vocais e Ron wood no baixo -, o guitarrista mudou tudo e mergulhou na soul music, no funk e no jazz com outra formação entre 1970 e 1972. E resolver mudar tudo de novo.

Desde 1968 ele mantinha amizade com dois integrantes do Vanilla Fudge, banda americana dos primórdios do hard rock e do hard blues. Ele realente admirava o baixista e vocalista Tim Bogert e o baterista Carmine Appice e prometeu que um dia fariam algo juntos.

Ninguém botou muita fé, mas um dia Beck encontrou os dois nos Estados Unidos, em 1971, e reafirmou a intenção de tocar com os dois. Nascia então Beck, Bogert & Appice, uma banda de rock pesado que tomaria forma no começo de 1972, mas demoraria um pouco finalmente voar.

O grupo faria sucesso e quase catapultaria o trio para o topo se não fosse a inconstância de Beck e sua sede de fazer coisas novas sem se importar muito com os companheiros de banda, fossem eles quem fossem.

Ainda em fase de entrosamento com os novos músicos, Beck foi convidado por Stevie Wonder a participar do disco “Talking Book”. Durante as gravações, o guitarrista adorou uma das canções selecionadas, “Superstition”, clássico absoluto do rock e da soul music/funk.

Com a fase era boa e havia fartura de material, Wonder concordou em “dar” a música a Beck para ser incluída no primeiro disco de Beck, Bogert & Appice, que só seria lançado em 1973. E assim foi feito.

Os dois artistas não contavam com a astúcia e percepção aguda de produtores e empresários de Wonder: “Superstition” era maravilhosa e potencial hit mundial.  Decidiram lançar a canção em compacto simples, descumprindo o acordo com Jeff Beck, e incluí-la em um álbum de Stevie Wonder a ser lançado rapidamente, antes da versão do britânico.

Surpreendido e desiludido, o guitarrista pensou em tirar a canção de seu disco com o trio e ameaçou romper a amizade com o amigo americano – e fez chegar a ele  sua intenção.

Conciliador e boa praça, Stevie Wonder mandou diversos recados ao amigo inglês e aplacou a fúria dele com mais promessas: entregava a ele os esboços de duas canções, quase tão geniais quanto “Superstition” – são os tais “presentinhos” que Barcinski cita no texto.

Wonder demorou u pouco par finalizar “Thelonius” e a maravilhosa “‘Cause We’ve Ended As Lovers”, e faz com que Beck acompanhasse o progresso do trabalho. 

Hiperativo e esperto, percebeu o potencial das novas canções e resolveu guardá-las na gaveta, pois já mirava novos projetos além de Beck, Bogert & Appice. Na verdade, tinha se desiludido como hard rock e com a ferocidade da “cozinha” dos então amigos e planejava novas mudanças.

https://youtu.be/xiOPvOBd8IA

Pouco mais de um ano de trabalho e apenas um álbum, Beck praticamente abandonou Appice e Bogert durante as gravações do segundo álbum, no começo de 1974, e começou a entabular conversas com George Martin, que produziu quase todos os discos dos Beatles. 

Com base nas duas canções que recebera de Wonder, decidiu mergulhar na música instrumental e no jazz quase puro, influenciado por um amigo de longa data, o inglês John McLaughlin na virada dos anos 60/70.

Jeff Beck não sabia, mas as duas canções presenteadas por Wonder para reparar uma quebra de promessa mudaram a sua carreira de forma definitiva. Elas se tornaram dois dos três carros-chefe do álbum Blow by Blow”, o seu primeiro totalmente instrumental e totalmente jazz, lançado em 1975. 

Por muitos anos foi o seu maior sucesso comercial e é considerado o seu melhor trabalho. Beck só tem a agradecer a Stevie Wonder pela guiada na carreira, e tudo por causa de uma desavença or conta de um acordo desfeito por culpa de empresários e produtores. 

O guitarrista jamais imaginou que aquelas sessões de gravação em 1972 transformariam totalmente  sua vida musical. 


https://youtu.be/MlUpSmbXiog

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