quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Elas tomam conta do blues: Hannah Wicklund, Ivy Gold e Ally Venable

 As mulheres saíram com tudo da pandemia de covid-19 e ocuparam de vez um espaço que progressivamente vinham abocanhando na última década. Nomes importantes como Samantha Fish, Joanne Shaw Taylor, Ana Popovic e Erja Lyytinen lançaram ótimos trabalhos e tivemos a explosão de Jackie Venson e Vanja Sky.

Os nomes da vez consagram duas guitarristas jovens americanas e uma cantora austríaca que aceitu liderar uma banda internacional tendo o blues rock como carro-chefe.

Na faixa dos 25 anos, Hannah Wicklund e Ally Venable esbanjam talento na guitarra, angariando elogios dos dois lados do oceano Atlântico. Manou, por sua vez, saiu de Salzburg para desfilar classe na Alemanha e na Inglaterra com a banda Ivy Gold.

Hannah Wicklund é uma garota da Carolina do Sul que mergulhou no blues desde criança para forjar a sia alma musical. Seu estilo de tocar guitarra incorpora elementos do rock e da soul musis, com solos cortantes que remetem a Robert Cray e um pouco de Stevie Ray Vaughan, além da estupenda Bonnie Raitt.

"The Prize", recém-lançado, é seu terceiro trabalho, depois de um EP e um álbum  caracterizados por sons marcantes e pesados. Agora ela reaparece mais madura emais diversificada, com acenos para o pop e sem tanto virtuosismo.

Há menos blues e mais baladas, em que ela acrescenta uma variedade de pianos e teclados e deixa de lado o virtuosismo e os solos faiscantes. Sem puder, deixa transparecer a influência de Taylor Swifr sobretudo nos vocais melódicos e agudos. Canta muito bem e mostra muitos recursos técnicos para transitar por vários estilos.

"The Prize" mostra outros caminhos traçados pela moça, agora sem a banda que a acompanhou desde sempre, The Steppin' Stones. Juntos tiveram um hit, "Mama Said", um blues rock suingado de acento sulista.

A abertura com "Hell in the Highway" é forte, embora seja mais acessível do que o blues rock anterior que fazia. Os arranjos são quase dançantes e a guitarra fica meio soterrada, mas é uma boa canção, assim como "Hide and Seek", que orgulharia Taylor Swift. 

O rock aparece com certo vigor em "Can't Get Enugh", enquanto o pop meloso dá as caras em "Lost Love". O encerramento com a melancólica e sombria "Dark Passenger" destoa do clima geral, mas é a melhor canção do álbum. O arriscado passo em direção ao pop provavelmente vai cobrar o seu preço, mas parece que ela i faz com convicção jamais abandonando o blues.

A banda estrelada Ivy Gold tem a voz de Manou como fio condutor a costurar a guitarra etérea do alemão Sebastian Eder e a bateria do americano Tal Bergman, que tocou por anos com Joe Bonamassa. "Broken Silence" mergulha profundamente no blues com um toque europeu - tecladista é o inglês Anders Olinder, com o baixista americano Levin Moore completando o time.

Se é que é possível dizer isso, é uma banda que faz um blues clássico maduro, ou adulto, sem muitas concessões a outros gêneros. Há pouco rock e as canções não tem nada de aceleração oi solos titânicos de guitarra. Tudo é orgânico e voltado para valorizar a voz de Manou.

"Broken Silence", recém-lançado, tem o mérito de evitar inovações. A ideia é fazer bem feito e com nuances modernas o velho blues urbano de Chicago. 

Com uma banda afiada, a cantora passeia com desenvoltura por bons temas com "Silence", "No Ordinary Woman" e "House of Cards", todas embaladas por guitarras fluidas e eloquentes, mas sem firulas desnecessárias.

Sebastian eder tem seus momentos de brilho na interessante "Sacred Heart" e na potente "Six Times Gone", enquanto a banda toda se sobressai no épico "Broken wings of Hope"; É um CD ára quem gosta de blues tradicional com alguns toque de modernidade.

Ally Venable é um legítimo produto deste século. Tem só 24 anos de idade, mas toca como uma veterana, a ponto de arrancar elogios de gente como Bonnie Raitt e Susan Tedeschi, duas das mais importantes guitarristas do blues moderno.

Texana como outra jovem durona e virtuose, Jackie Venson, Ally tem uma discografia respeitável e lançou recentemente "Real Gone", seu melhor trabalho e candidato ás listas de melhores do ano. Tem peso, tem timbre diferenciado e muita energia.

Suas referências são as melhores possíveis e, caminhando diretamente para o rock. Mas é no blues que ela se destaca co uma pequena ajudinha de amigos da pesada, como Buddy Guy na arrasa-quarteirão "Texas Louisiana". 

Os dois se divertem homenageando figuras importantes da música de seus Estados natais e demonstraram um entrosamento invejável - e improvável por conta da diferença de idade, 64 anos.

A moça esbanja qualidade em uma canção típica do cancioneiro blues acústico, com muita sensibilidade e delicadeza em "Blues Is My Best Friend", onde canta divinamente e transborda feeling e sensibilidade. Seu solo no meio da música é excelente e cativante.

O rock chega com tudo na faixa-título, onde certamente enche de orgulho Billy Gibbons, outra lenda texana que lidera o ZZ Top. Os riffs são certeiros, com solos que exalam urgência e força.

O onipresente Joe Bonamassa, maior nome do blues da atualidade, não poderia deixar de dar uma canja, ele que já produziu e tocou com Joanna Connor e Joanne Shaw Taylor.

"Broken and Blue" é uma balada blues que transpira sensibilidade e competência, onde Ally se revela uma cantora inspirada sob a batuta de um guitarrista estrelado. Uma canção que poderia estar em qualquer disco recente de Bonamassa.

E ainda tem pérolas como "Don't Lose Me", "Justifyin'", "Going Home" e uma saraivada de blues com pitadas de rock que soam incandescentes e frenéticos. Com seu novo álbum, chegou ao mesmo patamar de Ana Popovic, Samantha Fish, a citada Joanne Shaw Taylor, Joanna Connor, Jackie Venson e Erja Lyytinen. 

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