quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

'Stop Making Sense', importante filme dos Talking Heads, completa 40 anos

Bandas de circuitos universitários adoram o rótulo de alternativas até fazerem sucesso e ganhar muito dinheiro. Quando isso acontece, "rechaçam "rótulos" e fazer de tudo para serem inseridas na música pop temendo ficar restritas seja lá onde for. 

Duas grandes bandas da história do rock americano surgidas no final dos anos 70 se enquadram neste combo e deixaram claro que a distinção é nebulosa, dependendo do ponto de vista. Uma delas é o ótimo R.E.M,, uma joia rara que uniu guitarras estrondosas e melodias pop de alta qualidade.

A outra é o quarteto Talking Heads, inovador e criativo que aspirava atingir e inventar outras formas de arte unindo experimentalismo e boas doses de minimalismo. Foram dez anos extremamente produtivos que renderam bons álbuns e alguns hits grandes, como "Psycho Killer", "Road to Nowhere" e "And She Was".

Mas há uma característica bem interessante que ressalta a import}ancia do quarteto americano liderado por um escocês: é uma das poucas bandas cujo álbum ao vivo e tão ou mais importante que a maioria dos discos de estúdio.^

"Stop Making Sense", dirigido por Jonatham Demme, é referência história entre os filmes que registram bandas ao vivo, no palco. Está completando 40 anos de seu lançamento e sua trilha sonora, que saiu em LP e CD, é item obrigatório nas discotecas de colecionadores e admiradores das músicas dos anos 80.

Ambicioso e ousado na mesma medida da arrogância e prepotência do guitarrista e vocalista David Byrne, o filme é um bom retrato do que eram os anos 80 e a explosão da cultura pop de alto consumo. É uma explosão de criatividade em consonância com um desempenho elogiável de uma bana então afiada.

Até hoje é lembrado, entre outras cenas, pelo início em que Byrne entra em palco, pousa o rádio-gravador com toca-fitas no chão e começa a tocar os primeiros acordes de "Psycho Killer", o maior dos hits da banda.

Progressivamente, o resto da banda começa a aparecer em palco. Tina Weymouth (baixo) aparece para tocar "Heaven" enquanto o resto do palco começa a ganhar forma. Chris Frantz (baterista e marido de Tina) e Jerry Harrison (guitarra e teclados) entram nas músicas seguintes.

Os conceitos estéticos são diferentes e desafiadores, pois colocam a banda a serviço da câmera em um show ao vivo, aparentemente sem cortes por conta de erros. Os enquadramentos são interessantes, assim como os movimentos ágeis de câmera .

Essa agilidade é fundamental para que a banda desenvolva uma apresentação roteirizada, com cara de musical. Foi tão inusitada na época que ninguém conseguiu imitar ou copiar - nem mesmo Demme, que foi o diretor de longas-metragens impactantes, como "O Silêncio dos Inocentes" e "Filadélfia".

Com origem em Rhode Island (costa leste americana" e com ligações com escolas de moda e design, os integrantes abusavam de um visual que ajudou a dar o pontapé inicial no movimento new wave pós-punk. 

O som era pop, a atitude, punk, mas o conceito era quase progressivo-experimental. Se alguém clamava por um som diferente naqueles anos 80, os Talking Heads eram a banda indicada. O sucesso da banda coincidiu com a ascensão da MTV, criada pouco tempo antes. Foram queridinhos da emissora por tempo.

"Stop Making Sense" foi filmado em 1983 ao longo de quatro noites no Pantages Theater, em Hollywood, Los Angeles, e realizado por Jonathan Demme, que teve bastante trabalho nas filmagens e na edição.

"Burning Down the House", single do álbum "Speaking In Tongues", de 1983, é um dos pontos altos, colocando à prova excelência pop de uma banda inteligente e ousada. 

Com uma coreografia esquisita e figurino colorido e diferenciado, os Talking Heads (nome inspirado nos locutores de TV da época que apareciam apenas do peito para cima) deixam claro que estavam se divertindo e curtiram bastante tocar outras canções boas, como "Life During Wartime", "This Must Be the Place", "Once in a Lifetime" e "Girlfriend Is Better". 

O autoritarismo e um certo desrespeito por parte David Byrne elevaram as tensões internas e banda acabou em 1991. Tina e Frantz criaram o Tom Tom Club; Harrison virou produtor e músico ocasional e Byrne engatou um,a carreira solo e criou selos e gravadoras para apoiar artistas considerados de world music, entre eles o baiano Tom Zé.

 Reuniram-se em 2002 na cerimônia de indução da banda ao Rock and Roll Hall of Fame e, no ano passado, se juntaram de novo para comemorar os 40 anos das gravações de "Stop Making Sense". O filme foi restaurado e remasterizado para 4K IMAX após uma sessão de debates moderada pelo cineasta Spike Lee. Não há previsão, por enquanto, de eventos comemorativos dos 40 anos do lançamento do filme neste ano; 
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