Na primeira década do século XXI, uma tendência registrada dez anos antes ameaçava ganhar corpo entre algumas bandas de rock pesado - e também de pagode, por incrível que pareça: acrescentar guitarras pesadas, pandeiros e tamborins aos seus sons, emulando o que os Virgulóides tinham feito com algua repercussão.
Em vez de inovação, não passava de extravagância. Os resultados ficaram aquém do esperado e as tentativas foram minguando. A banda paulista Huaska insistiu na ideia com álbuns irregulares e alguma repercussão, mas nada que fosse muito além da mera curiosidade, ao menos por enquanto.
No momento mais que esperado por muita gente, a chegada de um Carnaval pleno depois de dois anos de pandemia de covid-19, uma banda de heavy metal do interior de São Paulo arriscou e decidiu juntar som gótico com samba. O resultado foi suurpreendente, ainda que não plenamente satisfatório.
"The Queen of the Seas" é o novo banda Fenrir's Scar, que faz um metal gótico com temas mais complexos. É um duo formado pelo músico André Baida (vocal, baixo, guitarra, teclados e sintetizadores) e pela vocalista e letrista Desireé Rezende.
O nome Fenrir é inspirado no mito do lobo nórdico, combinado com a palavra da língua inglesa “Scar” (cicatriz) referenciam um som pesado e em busca de transmitir emoções diversas.
O som novo é uma homenagem a Iemanjá, a deusa dos mares nas religiões de matriz africana. A letra mistura inglês e português sobre uma base pesada de guitarra distorcida e adornada por pandeiros e tambores de samba.
Pelo lado exótico, ficou interessante à primeira audição, já que não dá para imaginar o que vem pela frente. Aparentemente, metal e samba não tem quase nenhuma conexão, mas há casos em que a percussão brasileira assume o protagonismo, como nas vezes em que o Sepultura usou a pesada bateria de escolas de samba ou Olodum para complementar uma ideia.
O duo Fenrir's Scar conseguiu surpreender e equilibrar na medida certa o samba e o metal gótico embalado pelas vozes masculina e feminina.
A estranheza inicial deu lugar a uma sensação positiva no momento em que os instrumentos brasileiríssimos deixam o protagonismo para as guitarras pesadas e o baixo pulsante e poderoso.
O equilíbrio exato entre os dois mundos fez a diferença em uma canção que, ao que tudo indica, não é uma tendência no som da banda. O experimento foi válido, mas precisa de mais algumas audições para que nos acostumemos. Ainda considero que são mudos incompatíveis, por mais que consideremos válida a iniciativa.
Desde que Sepultura e Angra inauguraram a fase de uso de elementos da cultura brasileira em seus álbuns - quase nunca o samba puro -, outros artistas do rock nacional fizeram o mesmo com ótimos resultados, como Plebe Rude, Paralamas do Sucesso e as bandas de metal Tuatha de Danann e Caravellus.
Não dá para cravar que uma eventual proliferação de metal com samba não passará de um exotismo pontual, até porque or rock já foi combinado com ritmos africanos e orientais com cert frequência e bons resultados. mas, á primeira vista, assim como no caso do Huaska, o exotismo soou exatamente como isso - exotismo, e nada mais.
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