terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Em tempos de escravidão moderna, o metal tenta nos redimir em tempos de trevas

Parecia premeditado. No momento em que  banda mineira Tuatha de Danann divulgava a sua nova música, "The Nameless", a imprensa divulgava o caso mais chocante de trabalho escravo moderno no Brasil, em no sul do país, em plena Serra Gaúcha, que está longe de ser um rincão perdido.

Form quatro anos de um terrível e nefasto governo federal de cunho quase fascista na face repugnante de Jair Bolsonaro (PL), que tentou implantar uma extrema-direita burra (redundância) e predatória, que facilitou invasão de terras indígenas e estimulou o garimpo legal - incluiu o que desmantelando as estruturas de fiscalização de Funai (Fundação Nacional do Índio), Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) e do Ministério do Trabalho.

No período, o combate ao chamado "trabalho análogo ao da escravidão", muito comum nos interiores de Minas Gerais, Pará, Mato Grosso, Tocantins, Rondônia e Amazônia, quase sempre no agronegócio, dessa vez ocorreu na vitivinicultura no Rio Grande do Sul em um ambiente que se supunha legal e moderno.

 Mais de 250 trabalhadores escravizados fora libertado em propriedades que prestavam serviço para empresas famosas que engarrafam vinhos.

Trabalho escravo em regiões que se dizem modernas e que frequentemente discriminam o "atrasado e pobre" Nordeste?

A letra de "The Nameless" é profética e certeira em relação ao caos mundial em relação ao mundo do trabalho e casou perfeitamente com a deflagração da operação que libertou os trabalhadores escravizados nas vinícolas gaúchas.

“Hear the cries, the nameless slaves, they cry. Try to hear the whispers of the kings… They are carrying the spoils they plundered and they are marching over those lying prostrate”. Em tradução livre: “Ouça os gritos, os escravos sem nome, eles choram. Tente ouvir os sussurros dos reis… Eles estão carregando os despojos que saquearam e estão marchando sobre aqueles que jazem prostrados.”

Bruno Maia, vocalista, guitarrista e flautista que lidera o Tuatha, comentou sobre a letra em entrevista recente: "Na letra tentamos trazer os excluídos, dominados e derrotados para o centro e foco da obra. Para o [filósofo Walter] Benjamin, só é possível haver justiça real se houver uma justiça histórica e uma justiça da memória. Esta música, tanto as melodias de voz, climas e letra tem em algumas dessas teses de História do Benjamin sua maior inspiração”.

Esqueçamos o eufemismo "trabalho análogo à escravidão". É trabalho escravo e pronto. O caso gaúcho é extremamente escandaloso porque é o ápice de uma circunstância que foi deliberadamente negligenciada por um governo destrutivo, que desarticulou a fiscalização oficial contra essa prática - sempre com o o apoio de deputados e senadores de extrema-direita que sempre fizera de tudo para minar, impedir, bloquear ou dificultar as fiscalizações, investigações, condenações e punições. Não é surpreendente, já que muitos desses eram alvos das próprias investigações.

É bom que uma banda engajada de heavy metal nos relembre e que tipo de mundo podre estamos vivendo especialmente no Brasil, onde vicejam e campeiam diversos tipos de atividades criminosas em quase todas as áreas tendo autoridades políticas como cúmplices, associadas ou coniventes.

A todo momento somos lembrados pela realidade que estamos mergulhados em uma fossa onde predominam práticas e ideias medievais que foram estimuladas pelo repugnante bolsonarsmo de inspiração fascista. 

"Trabalho análogo à escravidão" não é resquício de tempos obscuros, mas uma marca indelével da sociedade brasileira autoritária, escravagista, elitista e totalmente preconceituosa. É uma triste face dos tempos de trevas dos quais demoraremos muito para nos livrarmos.

Tuatha de Danann é aquela banda brasileira que anos atrás lançou um álbum com canções de protesto irlandesas, bem ao estilo folk metal, que louvavam a resistência do povo sofrido que enfrentou guerras, dominações, fome e todo o tipo de injustiças históricas. Não é surpreendente que tenham lançado um brado contundente contra a injustiça social em 2023.

Que continuem fazendo a trilha sonora do combate a nojeiras como a escravidão dos tempos modernos em terras brasileiras - e cada vez mais pertinho de você...

 

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