terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

O rock delas está cada vez mais forte - e elas se destacam também no hard rock



O ano de 2022 foi prolífico no rock pesado cantado e tocado pelas mulheres. Uma explosão de bandas e de trabalhos de boa qualidade surgiu envolvendo nomes promissores e artistas veteranas. 

Enquanto Leather Lone resgata o metal clássico do anos 80, as bandas The Riven, Stormstress e Space Elevator turbinam o hard rock com base no blues.

– A cantora norte-americana Leather Leone parecia ter um futuro luminoso dentro da música pesada. Como vocalista da banda Chastain, era furiosa e reunia algumas qualidades, como a voz rouca e poderosa e uma presença de palco insana. Seria algo como a versão americana da alemã Doro Pesch, então na banda Warlock nos anos 80.

Mesmo com boas críticas e desempenho satisfatório para uma banda underground, o Chastain não decolava e as tensões dentro da banda beiravam o insuportável, até porque o “dono” do negócio, o guitarrista David T. Chastain,cobava muito, mas tinha outros projetos (carreira solo, CJSS, que era metal instrumental, e Southern Gentleman, de blues). O sucesso não veio e Leather se desiludiu.

Fora da música, a moça passou por inúmeros subempregos e amargou a falta de grana, além de um ressentimento pelo rock pesado pelos negócios que estão por trás.

Foram quase 20 anos até que decidisse novamente pelos palcos e por uma carreira solo surpreendente e muito pesada, com direito até a uma rápida passagem pelo Brasil anos atrás.” 

Quando decidi voltar para a música, não era para ser uma grande coisa, era apenas algo muito próprio, sem grandes pretensões”, disse a cantora em entrevista ao Combate Rock anos atrás. “Eu simplesmente pedi à minha voz: ‘recupere a sua memória’. Comecei a entrar em estúdios e gravar faixas para ver até onde conseguiria chegar. Comecei um esquema de exercícios físicos e e de exercícios vocais diariamente. Minha voz rapidamente voltou a um nível bem satisfatório.”

A pandemia de covid-19 atrapalhou os planos, mas finalmente a veterana cantora lançou o ótimo álbum “We Are the Chosen”, o seu melhor em carreira solo e de longe o mais pesado e bem acabado.

Sem nenhuma preocupação em soar datada, Leather, como passou a ser conhecida, abusa dos anos 80 com toda a propriedade e entrega o que promete: heavy metal tradicional agressivo e com guitarras bem na frente, com timbres que estariam na vanguarda em 1989. E o resultado é bem interessante.

“We Take Back Control” é forte e beira o metal de arena, com ares de “hino” e letra típica do metal oitentista, da mesma forma que a faixa-título, que lembra bastante o Chastain e a própria banda alemã Warlock. É metal puro em seu clima épico e suas “cavalgadas” na guitarra.

Sem firulas, ela desfila qualidade e talento em “Shadows”, que é agressiva em uma estrutura de hard rock. “Always Been Evil” evoca os melhores momentos do Saxon, enquanto que o Iron Maiden aparece aqui e ali, como nas ótimas “Tyrants” e “Off With Your Head”.

O clima de nostalgia permeia todo o álbum, e isso não atrapalha. A ideia era essa mesmo, soar o mais próximo do que foram os anos 80 para o metal tradicional – e nada além disso. Se ignorarmos a total falta de originalidade, temos um disco bastante divertido.

– Celeiro de boa música, principalmente no rock, a Suécia começou a revelar em profusão bandas de mulheres ou com mulheres no vocal. A lista é bem grande: Blues Pills, Lucifer, Thundermother, MaidaVale, Arch Enemy…

The Riven não é exatamente uma novidade, mas com “Peace and Conflict”, seu novo álbum, atingiu a maturidade até de uma forma precoce lançando seu melhor trabalho até aqui é apenas o segundo lançamento.

Totta Ekebergh é uma cantora classuda, que compensa a falta de uma voz tão poderosa com uma interpretação visceral de um rock clássico. Ela brilha de forma intensa com uma entrega que é raro ver hoje em dia.

Embarcando na onda retrô que parece acometer essas bandas escandinavas nos vocais, The Riven parece parece estar deslocada no tempo, ao emular Blondie e Runaways, acrescentando uma certa sujeira nos timbres de guitarra, como na certeira abertura, “On Time”.

Assim como Blues Pills, o mergulho nos anos 70 é fundo e não tão pesado quanto a Thundermother. “The Taker” é ainda mais calcada no som mais acessível do Blondie, com um refrão matador e riffs e batidas que poderiam estar em qualquer dos primeiros discos do Aerosmith e do Kiss.

O som é gostoso e contagiante, faz com que o dia fique melhor. Não chega a ser um som festivo, mas é rock and roll que esbarra no hard rock e traz trabalhos de guitarra acertados e certeiros.

Na hora de soar mais elaborada, a banda se sai bem na faixa-título, mais cadenciada e com soluções rítmicas surpreendentes para aquilo que deveria ser apenas uma canção de rock and roll. O baixo é o fio condutor da coisa toda e mostra que a banda é diferenciada.

A segurança que Totta passa é invejável, transitando entre mundos complicados com a mesma desenvoltura que Elin Larsson, do Blues Pills.

Com a mesma garra demonstrada, a vocalista é o destaque em “Sorceress of the Sky”, um clássico hard’n’roll onde a melodia bluesy casa perfeitamente com sua voz. Os riffs são lentos e pegajosos e destacam Totta como não havia acontecido no álbum.

A coisa fica mais pesada em “On top of Evil”, onde a certa luminosidade que dominava o ambiente dá lugar a uma melodia sombria e tons lúgubres, antecipando aquela que é a canção mais pesada, onde a cantora mais uma vez dá um show de interpretação, tanto na primeira parte, totalmente blues, como na explosão hard do final.

“Death” é a canção mis progressiva do disco, adicionando peso e densidade de forma equilibrada, formando uma boa cama para Totta desfilar sua classe e sua garra.

The Riven mostra um trabalho de ótima qualidade, bem melhor que a estreia, que já tinha sido boa em 2019. E Totta Ekebergh se candidata a se tornar a nova diva do rock escandinavo.

– O trio feminino de Boston pretendia ser uma banda punk, mas as meninas perceberam a chance de avançar e mostrar um repertório autoral de respeito. E o álbum de estreia, “Silver Lining”, surpreendeu com um hard rock bem feito e com bastante energia.

Stormstress é formado pelas irmãs gêmeas Tanya Venom (guitarra e vocais) e Tia Mayhem (baixo e vocais) , além da talentosa baterista Maddy May Scott. O som e forte, pesado e bem tocado, e elas se definem como uma banda de heavy metal, embora o om esteja mais para o hard rock,

O grande hit da banda é “Fall With You”, uma canção poderosa e com um refrão bastante cativante. Para uma banda que esperava ganhar terreno no punk, a virada foi grande. A canção é quase uma balada hard, mas de extremo bom gosto e solos interessantes de guitarra.

Em obra curta e econômica, as meninas investiram em temas com destaque para a energia e aos riffs e guitarra. “You Can’t Hurt me Now” abre os trabalhos com peso e uma urgência contagiantes, coisa que conseguimos perceber na canção seguinte, “Paint the Mask”.

“Internal Divide” e “Gold” transitam entre o hard rock e o heavy metal, mas sem grandes novidades, deixando as canções mais vigoras para o final, com “Corpses Don’t Cry” e “I Wish I Could”, uma faixa mais densa e com boas soluções melódicas. O disco é pesado, mas também é pop e acessível, disposto a agradar vários públicos.

– Uma união improvável em uma banda de hard rock com pretensões a ser uma referência também no rock progressivo. A pretensão era grande, mas o veterano baixista Neil Murray decidiu topar a empreitada e se divertiu com o primeiro trabalho ao lado de uma cantora.

“Persona Non Grata” é a estreia da banda inglesa Space Elevator, que consegue finalmente alçar um patamar acima a cantora conhecida como The Duchess (A Duquesa) em um trabalho elegante e bem gravado.

Murray é um músico rodado na Inglaterra. Tocou com Tony Iommi, Brian May, Whitesnake e chegou a fazer parte de uma das formações menos memoráveis do Black Sabbath, no final dos anos 80 e também em 1995, além de tocar com The Snakes, formada por ex-membros do Whitesnake.

O virtuoso guitarrista é David Young, o responsável pelas linhas melódicas mais intensas e pesadas mas o suporte dado pelo baixista Elliott Ware, que foi músico de apoio de The Who, fundamental para definir o som da banda. Completa o time o baterista Brian Greene.

Embora possa ser definida como uma banda de hard rock, o Space Elevator se caracteriza por um som mais fácil de ser assimilado. O começo do disco “Persona No Grata” é progressivo, com as duas partes da faixa-título, uma grande sacada sonora, mas é com as músicas mais simples que a banda deslancha.

O hit do momento é “Stevie Nicks Smile”, uma canção que transborda ironia, mas que também é uma homenagem à cantora do Fleetwood Mac. A guitarra tem momentos inspirados dentro de uma melodia de fácil assimilação.

“Passive Agression” é mais pesada e agressiva, com guitarras mais contundentes, enquanto que “First Girl on the Moon” e “Love You Better” transitam por uma área mais pop, com boas ideias melódicas e riffs de guitarra bem construídos.

“I Will Hold On to You”, apesar de mais sombria, é mais pop e oferece mais possibilidades de diversificação sonora aproveitando a versatilidade da cantora, que dá um show de interpretação em todas as canções. É uma banda nova com músicos veteranos que certamente ascenderão dentro do nicho classic rock.

Nenhum comentário:

Postar um comentário