quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

Falastrão e histriônico, Roger Waters recua no apoio à invasão russa na Ucrânia

 Não há como não reconhecer a coragem e a paixão com que o músico inglês Roer Waters erra e acerta, especialmente fora dos palcos e dos estúdios. É um cidadão que luta com convicção por seus pontos de vista e, com isso, tornou-se um dos ativistas mais engajados do mundo das artes.

Claro que isso atrai mais inimigos. Faz parte, ainda mais quando um deles foi companheiro de banda, o Pink Floyd, por quase 20 anos. Para azar de Waters, seus erros são tão colossais que frequentemente ofuscam e anulam seus acertos.

Notório socialista e antifascista, o ex-baixista do Pink Floyd investe pesado contra tirados e ditadores de todos os tipos. Foi um ferrenho crítico do ex-presidente Donald Trump e comprou briga com o mundo nefasto do bolsonarismo ao ironizar o protofascista Jair Bolsonaro, que depredou a vida institucional e social do Brasil por quatro anos.

Em várias contendas, exibe argumentos sólidos para criticar o Estado de Israel e clamar por um boicote cultural e esportivo contra aquele país por conta da vergonhosa postura de opressão contra a população palestina, vizinha e a que mora dentro das fronteiras israelenses. E as críticas vão contra a postura política sórdida do Estado, seja governado por esquerda ou direita.

Se tais posturas merecem respeito e consideração, sua relativização em relação ao Estado terrorista russo e à sanha expansionista e imperialista do ditador Vladimir Putin é simplesmente asquerosa.

A Rússia invadiu de forma nojenta e absurda a vizinha Ucrânia por conta de uma suposta aproximação deste país com o Ocidente e a União Europeia. Já tinha sido assim em 2014, quando anexou o território ucraniano da Crimeia, de forma ilegal, quando o governo pró-Rússia foi derrubado e substituído por um que pregava a aproximação com a Europa. 

Putin vive vomitando que invadiu por questões de "segurança". Foi execrado por quase todo o mundo, apoiado por uns poucos países párias e avessos à democracia, além de contar com a "isenção" criminosa da China.

Roger Waters foi um dos artistas que se alinharam contra a invasão e ele manifestou apoio à Ucrânia e aos artistas ucranianos que resistiam e denunciavam a barbárie da invasão russa.

Só que o antiamericanismo de Waters falou mais alto - mesmo com o fato de que a maioria dos rendimentos dos shows dele têm origem ans longas turn~es americanas. 

O músico decidiu que Putin "merecia" ter sua versão ouvida e há alguns meses considerou plausível muitos argumentos do ditador russo para encampar qua guerra em que está perdendo depois de um ano.

Com muita razão, o mundo interpreta a atitude de Waters como apoio a Putin, o que resultou em avalanche de críticas. A mais pesada foi de Polly Samson, escritora e jornalista inglesa, que o chamou de antissemita por suas críticas a Israel) e idiota por apoiar e dar razão a Putin. 

Ela é mulher do guitarrista e vocalista David Gilmour, ex-companheiro de Waters no Pink Floyd. Nunca foram amigos, mas viraram inimigos m 1984 quando o baixista quis acabar com a banda e Gilmour, com o apoio do baterista Nick Mason, conseguiu na Justiça o direito de usar o nome e manter a banda na ativa até 1995. 

Os dois chegaram a se encontrar ao menos três vezes no palco em eventos beneficentes, mantiveram a compostura, mas nunca negaram que eram desafetos. A situação piorou quando Gilmour apoiou, nas redes sociais, as críticas da mulher ao ex-companheiro.

Às voltas com a preparação de mais uma turnê mundial, Roger Waters fez um recuo estratégico e não respondeu a Samson ou a Gilmour. Também silenciou as entrevistas e a se manifestar, ainda que parcialmente, a favor de Putin.

Waters participou nesta semana de uma sessão virtual no plenário da ONU (Organização das Nações Unidas) onde amenizou o tom de suas declarações e se declarou um "democrata e pacifista", pedindo o fim da guerra entre Rússia e Ucrânia e, de forma meio enviesada e envergonhada, criticou a invasão russa, "que iniciou a guerra".

O boquirroto Waters mostrou tenacidade e resiliência quando sofreu boicote do mundo fascista de Donald Trump aos seus shows pela América do Norte. Como contava com apoio maciço do mundo democrático e, em termos morais, estava do lado certo, resistiu e ganhou pontos.

Agora a coisa é diferente. Antigos apoiadores  criticam e ameaçam com boicotes na próxima turnê americana. Uma coisa é antagonizar Trump, uma figura bizarra e nefasta que era ridicularizada dentro do próprio país. Outra é apoiar um notório autocrata que é inimigo do mundo ocidental e democrático.

 O recuo na ONU sinaliza que Waters deve, ao menos moderar eventuais "apoios" que podem influenciar os negócios. Quem assim seja. Que isso jogue luz a sua mente embaçada e o coloque nos trilhos do bom senso, abandonando qualquer palavra positiva a favor de Putin.

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