Um ano que começa muito bem costuma terminar melhor ainda, como 2022 nos ensinou. Com o arrefecimento da pandemia da covid-19 e os bons auspícios de um governo federal no mínimo decente, em comparação com a tragédia que foi o anterior, saudemos os bons lançamentos os primeiros 45 dias.
E um artista se destaca entre os roqueiros com trabalhos novos na praça. O baterista Mike Portnoy lançou em fevereiro dois álbuns de dois de seus inúmeros projetos: The Winery Dogs e Transatlantic, sendo este último um trabalho ao vivo..
Tem o rock pesado dos suecos do Candlemass e o blues rock de uma guitarrista francesa de muita qualidade, Laura Cox, que coloca n mercado o seu melhor trabalho de uma carreira em franca ascensão.
- The Winery Dogs - "III" - O trio de hard rock norte-americano parecia hibernar para sempre até que o incansável baterista Mike Portnoy (ex-Dream Theater) encerrasse de vez o Transatlantic e se voltasse para esse projeto bem bacana com o guitarrista e vocalista Richie Kotzen e o baixista Billy Sheehan (Mr. Big). O terceiro álbum recém-lançado é o melhor até aqui, embora não contenha hits em potencial como os anteriores - "Elevate" e "Hot Streak" são gemas da melhor qualidade. Se não há um grande clássico, é o álbum cheio de groove e virtuosismo em canções de acento pop. Não há uma ruim, e Kotzen está cantando muito bem, sem a necessidade de dividir os vocais como no projeto Smith-Kotzen, ao lado do guitarrista do iron Maiden Adrian Smith. As duas primeiras músicas divulgadas indicavam que o álbum seria mais pesado e orientado para as guitarras - "Rise" é ótima, com um riff sensacional, enquanto que "Mad World" é mais cadenciada, mas cheia de virtuosismo e um baixo contagiante. E então eles aparecem com "Xanadu", um primor de hard rock igualmente contagioso, com um balanço quase "irresistível". Eles brincaram também com o som mais progressivo em "Stars", que lembra um pouco a fase atual do Iron Maiden, com riffs fortes de guitarra, e a melhor do disco, "The Red Wine", que tem um acento bluesy inesperado. Ouça também "Pharaoh" r "The Vengeance", canções hard com um pique bem acessível.
- Transatlantic - "The Final Flight: Live at L'Olympia" - Álbum ao vivo do projeto mais ambicioso de Mike Portnoy. Depois de 25 anos, o trabalho encerra as atividades deste supergrupo que manteve acesa a chama do rock progressivo por excelência. Gravado em Paris no começo de 2022, foi o encerramento da turnê do álbum "The Absolute Universe", o quinto de estúdio - a discografia contém ainda outros quatro ao vivo, sempre em CDs triplos. O último álbum de estúdio, de 2021, foi composto e gravado durante a pandemia de covid-19 no esquema colaborativo, em troca de arquivos, com algumas partes reunindo os quatro integrantes - Portnoy, Pete Trewavas (baixo e vocais, do Marillion), Neal Morse (teclados, violão e vocais principais, ex-Spock's Beard) e Roine Stolt (guitarra e vocais, dos Flower Kings). Este trabalho, assim como os outros de estúdio, é conceitual, mas não traz as longas suítes de mais de 30 minutos que sempre caracterizaram a banda - "The Whirlwind", a canção que intitula um dos álbuns de estúdio, tem 78 minutos de duração, e foi reproduzida na íntegra ao vivo. Este CD triplo ao vivo reproduz quase na íntegra o último álbum, que é extraordinário, e mostra uma banda completamente dona do palco e do repertório, encerrando da melhor forma possível uma trajetória impecável. Uma novidade é uma versão semiacústica de "WeAll Need Some Light", o maior hit da banda, digamos assim. Portnoy deerá manter a colaboração com Morse no Flying Colors e na Neal Morse Band.
- Laura Cox - "Head Above Water" - A guitarrista francesa de blues rock já tinha chamado a atenção com o intenso e pesado álbum "Hard Shot Blues" e tinha enveredado por um caminho mais pop em seguida. Só que o blues falou mais alto e temos aqui um grande disco, em que o talento guitarrístico da moça deu o tom em toda a obra. é um álbum equilibrado, sem canções fracas e sem oscilações. É quase uma coletânea, em que a canção-título puxa uma fieira de bons temas, como o pesado "Wiser", com um riff marcante, e a delicada "Seaside". Há boas ideias ainda em "one Big Mess" e "Soul", que caem mais para o blues tradicional, e as pesadas "Glassy Days" e "Swing It Out". É o melhor trabalho de Laura Cox em sua curta carreira.
- Candlemass - "Sweet Evil Sun" - A banda sueca caminha para os 40 anos de carreira e se orgulha de ter dado forma a um subgênero do metal, o doom metal, com uma sonoridade obscura, muito pesada e totalmente baseada no estilo do Black Sabbath. Sempre liderada pelo baixista e compositor Leif Edling, lançou "Sweet Evil Sun", um disco que remete ao que a banda fez de melhor no começo da carreira. Já faz algum tempo que o vocalista é Johan Langqvist, que tinha gravado o primeiro álbum, em 1986, mas não permaneceu no grupo. Com uma voz poderosa, mas não tão densa quando a do icônico cantor Messiah Marcolin, que integrou por duas vezes o Candlemass, Langqvist imprime o necessário clima lúgubre e funesto que o doom metal exige e brilha em canções como "Crucified" e "Black Butterfly", em que o baixo estrondoso e gigante de Edling massacra os ouvidos. "When Death Sight" talvez seja a melhor do disco, contando com o auxílio luxuoso da cantora Jennie-Ann Smith, da banda sueca Avatarium. É um disco que começa muito bem o ano para o heavy metal.
- Elisa C. Martin - "Nothing Without Fear" - Principal cantor espanhola de heavy metal, requisitadíssima por banda europeias de todos os calibres, aparece com seu primeiro disco solo. Sem ousar muito nas composições, apostou em uma agressividade controlada em cima de um instrumental moderno e muito pesado. O estilo varia entre os vocais agressivos e potentes de Doro Pesch (ex-Warlock) e Leather Leone (Chastain). "No Pain" é a música mais emblemática, com um riff contagiante de guitarra e um aspecto geral mais acessível. "Carry On" é quase nu metal, mas se livra do rótulo graças ao trabalho bem feito de guitarras e vozes. "Songfory é outro destaque - muito pesada, aprece também em versão cantada em espanhol, que ficou muito boa.
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