terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

O rock delas cada vez mais forte - e o blues se mistura com o pop e o rock



Guitarras pesadas costumam caracterizar artistas e bandas com fome de mercado e sucesso neste século XXI, mas as mulheres que decidiram enveredar por esse campo em 2022 acrescentaram um que de experimentalismo e ousadia. O blues se misturou com o pop e com o hard rock em meio à delicadeza e sutileza em lançamentos interessantes que chamaram a atenção

A guitarrista australiana Orianthi costuma ter uma postura mais distanciada e autossuficiente, do tipo “não tenho mais nada a provar a ninguém”; já Taylor Momsen, cantora da banda Pretty Reckless, prega sempre que tem de provar tudo a todos a todo momento. Para Stacey Savage, resta apenas aprender com as duas estrelas do hard rock atual .

– A influência direta de Richie Sambora (ex-Bon Jovi) fez bem para a guitarrista australiana Orianthi. Ou não, dependendo do mau humor. A moça lançou dois álbuns em 2022, sendo um ao vivo, mas o de inéditas é o que nos interessa.

“Live in Hollywood” trouxe a guitarrista imprimimndo mais peso a temas conhecidos de sua carreira e do rock, mas “Rock Candy”, disco de inéditas, é o que nos interessa diante das mudanças que ela pretende imprimir em sua carreira.

O hard’n’blues que dominou o começo de sua carreira dá lugar aqui a um rock mais pesado, com timbres de guitarra típicos do hard rock, mas com acento pop, bem ao gosto do Bon Jovi – cortesia de Sambora, ex-namorado e ex-parceiro no projeto RSO.

Boa aprendiz e instrumentista de ótimos recursos, Orianthi fez bem a lição de casa e apresenta uma coleção de canções de certa forma surpreendente.

“Rock Candy” é um álbum orientado para as rádios norte-americanas, embora não se saiba se isso é necessariamente uma boa ideia m 2022. Lançado há 10 ou 15 anos emplacaria ao menos dois hits nas paradas pop, mas hoje? Chamará algum atenção, e certamente atingirá um outro público, Mas o risco é grande de passar em branco.

Não é um CD ruim, mas parece deslocado na tentativa de ampliar o público apelando para uma sonoridade mais pop. “Where Did Your Heart Go”, por exemplo, é uma canção forte e intensa, mas remete a um passado distante, mesmo que seja candidata a hit – e mesmo que seja brega.

Com certeza essa não foi a preocupação de Orianthi. Ela não teve vergonha de cair no sentimentalismo amoroso na maioria das canções, em uma visão romântica bem tradicional e sem novidades. É o caso de “Living Is Like Dying Without You” e a delicada “Witch Th & The Devil”.

No aspecto estritamente guitarrístico, o álbum tem boas ideias em “Void” e “Burning’, com riffs mais roqueiros e solos interessantes. “Red Light” e “Fire Together” apresentam uma sonoridade mais pesada, ainda que as guitarras estejam soterradas por efeitos eletrônicos, vozes processadas e baterias chapadas.

O saldo é bem razoável, e louvemos a coragem dela de empreender mudanças bem complicadas e arriscadas. É um disco de rock mais acessível. Poderia ser mais pesado? Sempre pode, mas aí o conceito seria desvirtuado, pois espantaria uma parte do público mais “soft” que ela pretende atingir.

– A moça decidiu ir à forra. Depois de aguentar meio que calada as críticas de que era um rostinho bonito a frente de uma poderosa banda de hard rock – e mais nada -, Taylor Momsen mandou um recado poderoso em “Other Worlds”: “Eu sei cantar e canto bem”.

O mais recente lançamento da banda Pretty Reckless é um disco acústico com duas canções elétricas com mixagens diferentes. E Taylor mandou bem em todas as canções.

“Loud Love” é um tema duro e pesado e ganhou uma roupagem que remete a coisas bem pesadas do Led Zeppelin da fase “Physical Grafitti” e o resultado ficou muito bom. O remix de “Got So High” ´altamente dispensável e nada acrescenta.

Os outros nove temas acústicos semiacústicos trazem despojamento e interpretações leves e suaves. E, sim, a moça sabe cantar, e bem. “The Keeper” é a prova disso, as também “Quicksand” e “25”.

Nas canções só com voz e violão ela se destaca ainda mais, com delicadeza e força bem equilibradas em “Death by Rock and Roll” e na ótima “Only Love Can save Me Now”. Ela se dá ao luxo de brincar com a própria voz em “Harley Darling” e soar bastante emotiva em (What’s So Funny ‘Bout) Peace, Love and Understanding” uma balada delicada e melancólica.

Não é uma obra que crescente muito à discografia interessante da banda americana de hard rock, ainda que tenham sido corajosos em fazer versões acústicas de verdade, totalmente despojadas. Serve mais como uma prova de que Taylor Momsen é sim boa cantora.

– A banda americana Savage Master chega ao quarto álbum ainda indecisa se abraça o hard rock ou se mergulho direto no heavy metal. O seu hard’n’heavy parece indeciso e tolhe o bom potencial que demonstra. “Those Who Hunt at Night” é um álbum que merece a atenção tanto pelos seus méritos como por seus defeitos.

A cantora Stacey Savage é esforçada e faz bem o seu serviço, mas são as guitarras o grande destaque são as guitarras, agora a cargo de Nick Burks, na banda desde 2021. Os solos em ‘Hunt at Night” e “Rain of Tears” são inspirados e de bom gosto.

Stacey Savage não tem uma grande voz, mas compensa com um jeito estranho de cantar. Empresta um ar meio cafona em algumas canções, como em “Spirit of Death” (não passa muita credibilidade no tema macabro), mas se redime em temas mais pesados, como “Hangman’s Tree” e “A Warrior’s Return”.

A questão da credibilidade é um pequeno problema porque a Savage Master abusa dos clichês do metal mesmo em seu quarto disco. Por mais que a cantora se esforce, o grupo não consegue soar “malvadão” em “Queen Satan” e “The Death of Time”.

O instrumental convence em alguns momentos, mas não em outros, talvez pelo fato de a produção não ter valorizado timbres mais limpos nas guitarras e na bateria, esta bastante opaca e sem pegada.

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