Em passagens pelo Brasil, mestres americanos do blues costumavam dizer que o blues feito aqui era diferente. Nem melhor, nem pior do que na Europa ou na África. Apenas diferente. Hubert Sumlin disse isso, Charlie Musselwhite disse isso, James Cotton disso isso...
Os bluseiros brasileiros acreditam nisso, e um deles é o paulista Duca Belintani, que está com álbum novo no mercado.
"Electric Delta" é o resultado de um projeto ambicioso realizado antes da pandemia de covid-19: o guitarrista viajou aos Estados Unidos em 2019, passou um tempo em Chicago e depois percorreu estradas do interior para se inspirar. E não é que deu certo?
O som de Belintani é diferente. Consegue misturar o tradicionalismo do gênero com um toque particular que pode ser identificado com a música brasileira. É quase um folk blues se nao fossem os riffs elegantes e os solos bem encaixados e ferozes.
"No final de 2019, após um show que havia acabado de fazer, resolvi que o novo trabalho seria no seguinte formato: lançar de duas em duas músicas, mas não nas plataformas de streaming, mas e sim em vinil 7” (compactos). Seriam quatro ou cinco compactos, mas a pandemia mudou os planos", explica o guitarrista.
Ele gravou as canções em dezembro de 2020 e imaginava que as bolachinhas d vinil estivessem, prontas rapidamente, mas em janeiro de 2021 recebeu a informação de que a primeira leva só ficaria pronta entre 60 a 90 dias. Aí veio a pandemia.
"A fábrica só pôde operar em setembro e fui retirar os discos em novembro de 2021, que foi um ano em que nada foi possível ser feito. Parada total", contou Belintani. "Nesse período de pausa fui produzindo e gravado, mesmo com dificuldades e com todos a distância. Sem muita receita de shows e com o valor do dólar em alta inviável de lançar tudo em vinil."
Empolgado com a retomada da carreira, planeja lançar mais músicas ao longo de 2022 e, quem sabe, finalizar um álbum e lança em CD,
"I’m Back" teve boa receptividade em algumas rádios americanas em janeiro. É um blues mais próximo do rock, A produção simples realçou as linhas de guitarra, com fraseados limpos e rápidos em cima de uma batida marcante.
"A Long Time" segue por um caminho mais tradicional e, por enquanto, é apenas um bônus que sai apenas em compacto de vinil – são poucas as cópias – e poucos os felizardos que as possuem. Belintani não prevê lançá-la digitalmente, por enquanto.
Em relação ao último álbum de blues tradicional do guitarrista, "How Long", as novas canções se encaixam como uma sequência.
Belintani não é um estilista e não apela para arroubos guitarrísticos ou solos monumentais – nada contra isso. Consegue dosar de forma equilibrada fraseados elegantes e dedilhados incandescentes nos solos, o que acaba sendo uma característica de instrumentistas brasileiros do gênero, como Cris Crochemore, Big Gilson, Netto Rockfeller e Igor Prado.
Em 2019, Duca Belintani partiu de carro para percorrer a "Trilha do Blues", indo de Chicago até Nova Orleans, parando em bares e Juke Joint’s que encontrava pelo caminho, ouvindo os seus criadores mostrarem o verdadeiro blues.
O som do Delta do Mississippi traz em sua origem o músico solitário tocando em pequenas casas de música (Juke Joint) com a finalidade e levar diversão ao seu público.
Voltando ao Brasil, Duca resolveu que seu próximo disco teria a “pegada” dessa viagem e em especial ao Mississippi e criou seu novo álbum, inspirado principalmente em RL Burnside e Muddy Waters, dois dos maiores expoentes nascidos na região.
Neste oitavo registro de sua carreira, o guitarrista eletrificou todo o swing do blues inspirado na lama, nas histórias e na simplicidade das canções e, com isso, entrega um disco de blues bem diferente do que estamos acostumados no Brasil. É uma audição bastante instigante.
Além de Duca Belintani (guitarra e voz, além da produção), tocam no disco Vinas Peixoto (bateria e percussão) e Benigno Sobral (baixo) como banda de apoio. Participações especiais: Mateus Schanoski (teclado), Ulisses Da Hora (bateria), Ricardo Scaff (gaita), Luiz Bueno (guitarra) e Otavio Rocha (guitarra, da banda Blues Etílicos).
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