quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

Em busca das raízes, suecos do Siena Root mergulham nos anos 70 em 'Revelation'

 Antes de Blues Pills e Lucifer existia o Siena Root. Aliás, muito antes. Dá para dizer que o quarteto deu o pontapé inicial para que o rock retrô sueco ganhasse os palcos europeus a partir de 2012 e inundasse o mercado com um som calcado nos anos 70 com guitarras pesadas e tons psicodélicos. Não há como as bandas do segmento não citarem o Siena Root como influência.

Curiosamente, apenas agora a banda começa a saborear os bons resultados de seus mais recentes discos e da "cena" que inspirou em seu país e que transcendeu as fronteiras escandinavas. 

"The Secret of Our Time", de 2020, é um grande álbum, mas sua divulgação foi prejudicada pelo isolamento social causando pela covid-19. "Revelation", que chega em breve - no Brasil pela Shinigami Records em parceria com a Atomic Fire Records - é a retomada de uma trajetória que estava novamente em ascensão depois de 25 anos de carreira.

"Sempre fomos elogiados pelo desempenho altamente contagiante para os palcos do mundo, e isso é o que procuramos levar pra as gravações no estúdio. Se fomos os pioneiros dessa tendência retrô? Acho que não, outras bandas vieram antes de nós", comenta o baterista Love Forsberg, um dos fundadores da banda.

 O seu novo álbum "Revelation", está sendo considerado o seu trabalho mais versátil até o momento, embora não haja um conceito por trás das canções. As 11 faixas foram gravadas de forma analógica mais uma vez no Silence Studio (Koppom, Suécia) e nos Root Rock Studios (Estocolmo, Suécia), onde também foram mixadas. A masterização foi feita no Cutting Room em Estocolmo.

A formação fixa da manda, digamos assim, tem a vocalista Zubaida Solid, o baterista Love Forsberg, o baixista Sam Riffer e o guitarrista e o guitarrista Johan Borgström.  Em 2017, a banda havia lançado o álbum "A Dream of Lasting Peace", um trabalho mais orientado para o hard rock/blues rock, mas algumas mudanças começaram a ocorrer.

O rock setentista ficou mais forte e evidente "The Secret of Our Time", de 2020, e estabeleceu o que os integrantes chamaram de formação "híbrida" do grupo, que chegou a ter nove membros. como uma boa família musical aos moldes de bandas americanas como Lynyrd Skynyrd e Allman Brothers.

Neste tempo, Zubaida foi efetivada como cantora principal, ainda que dividisse os vocais com a vocalista  Lisa Lystam, que lidera a banda Heavy Feather, do guitarrista Matte Gustavsson - que foi membro do Siena Root por muitos anos.

Em "Revelation", o Siena Root se volta mais para o passado e mergulha mais fundo nos anos 70 em uma tentativa de se diferenciar dos concorrentes. 

Como conta Riffer, a ideia era que o álbum fosse totalmente acústico ou semiacústico, embora mudanças tenham ocorrido durante o processo de composição e gravação. O resultado ficou muito bom, com um trabalho de guitarras bastante diferenciado
 
O disco abre com a forte "Coincidence & Fate", com um show de interpretação de Zubaida e guitarras ferozes e potentes. ""No Peace" e "Dusty Roads" resgatam os bons tempos setentistas em que o rock sulista dava as cartas e "Keeper the Flame", que fecha o trabalho, é o clássico épico da vez - é a melhor canção do trabalho. Também merecem destaque as interessantes "Leaving the City" e "Little Burden".  

Em entrevista exclusiva por e-mail ao Combate Rock, Love Forsberg e Sam Riffer falaram sore o atual momento da banda e o lançamento de "Revelation":

O mundo da música anda reverenciando bandas como Blues Pills, Thundermother, Vintage Caravan, Kadavar, Lucifer e Zodiac desde 2015, mas a banda Siena Root, ao lado de Samsara Blues Band, faz o mesmo tipo de som desde o começo do século. Na opinião de vocês, por que só mais recentemente esse tipo de música ganhou destaque na Europa?

Love Forsberg - Acho que tendências vem e vão. Siena Root não é o pioneiro do root rock como houve muitos antes de nós e muitos antes das bandas que você levanta. Vindo da Suécia, percebi uma nova onda em 2010 com a Graveyard ao assinar um contrato com a Universal. Acho que essa onda parece diferente do Brasil.

Sam - Concordo, as tendências vêm e vão. Nunca nos importamos muito com o hype que acabamos de tocar e escrever músicas que gostamos e nas quais acreditamos.

O resgate do rock com viés anos 70 ocorre de tempos em tempos, e a onda atual está forte. Que tipo de atração esse gênero exerce sobre os mais jovens? Isso é suficiente para revitalizar o rock em 2023?

Love - Todos os gêneros precisam de sangue jovem para se manterem vitais e fortes.

Sam - Não faço ideia se é o suficiente, mas certamente espero que sim. Mas acho que esses sons são tão fortes que sempre vão agradar as gerações vindouras!


 Com as rápidas e drásticas mudanças tecnológicas na indústria do entretenimento, mudamos a nossa forma de se relacionar com a música no século XXI. Ela ficou ais acessível, só que gratuita, o que limita, em muitos aspectos, a evolução de carreiras. Parece que as pessoas dão menos valor á música hoje, seja pelo imediatismo, pela pressa ou mesmo porque ficou gratuita. Como esse estado de coisas afeta a Siena Root?

Love - Tentamos desafiar esse desenvolvimento produzindo álbuns/LPs de uma forma totalmente analógica.

Sam - Sim, isso fica cada vez mais difícil e, infelizmente, piorou desde que começamos. Ganhar a vida como músico hoje em dia não é nada fácil.

"Revelation" traz o Siena Root mais experimental e com mais peso em algumas músicas. Vocês identificam essas mudanças no som de vocês?

Love - Acho que "Apocalypse" tem muitas semelhanças com "Differents Realities" e "A New Day Dawning". Eu queria focar em melodias fortes e atmosfera.

Sam -  Acho que é difícil para mim ouvir isso nesta fase. Eu estive tão envolvido no processo de fazer o novo álbum que leva um tempo até que eu possa realmente ouvir como um novo trabalho soa comparado aos antigos. Dito isso, também acho que é semelhante a "A New Day Dawning" em muitos aspectos. Outra diferença é que no "Revelation" tivemos a ideia inicial de fazer um álbum totalmente acústico desde o início. Não acabou assim no final, mas ainda assim temos muitas músicas acústicas no "Revelation".

The Secret of Your Time", lançado em 2020, é um álbum maduro e com ótimas canções, mas que reflete um momento diferente em termos de vida e carreira. mais de dois anos depois e uma grave pandemia no período, como vocês avaliam o processo de composição e gravação de "Revelation"?

Love - "Revelation" começou com algumas ideias de músicas acústicas. As canções tratam de conceitos diferentes do álbum anterior. Mas usamos parcialmente o mesmo estúdio. Eu acho que o "Apocalypse" é mais focado.

Sam - Foi diferente, mas a pandemia também nos deu tempo para realmente trabalhar em um novo álbum, já que não podíamos fazer muitas turnês. Mas a gravação de "Revelation" foi basicamente dividida em três estágios diferentes - a sessão no estúdio Omnivox, em Dalarna, a sessão no Silence Studio, em Värmland, e as sessões finais em nosso próprio Root Rock Studio, em Estocolmo.

 Enquanto as bandas da atual geração de música vintage, digamos assim, expandem suas possibilidades para o blues mais tradicional e a soul music, como Blues Pills, ou para o hard'n'heavy, como o Lucifer, a Siena Root mergulha ainda mais no som característico dos anos 70, com riffs fortes de guitarra e presença dava vez maior dos teclados. "Coincidence & Fate" é um bom exemplo. Nunca cogitaram avançar por outros caminhos?

Love  -  O que Siena Root sempre defendeu é a integridade da arte e da composição musical. Nosso ponto de partida é a inspiração e foco no que queremos dizer em um processo criativo com todos os envolvidos. Não é tanto um mentor estabelecendo uma agenda a respeito do que vai vender discos.

Sam - Acho que nossa força (e fraqueza) é que sempre seguimos nosso próprio caminho, não importa se está certo ou errado, por assim dizer. Mas sempre estivemos interessados em ser progressivos e seguir em frente. Tentamos não fazer a mesma coisa repetidamente, mas sim experimentar novas maneiras para cada álbum.

Os temas abordados por vocês mantém uma saudável ironia e sarcasmo, mas dá perceber em algumas passagens um pouco de ceticismo e até alguma melancolia. Seriam consequências dos efeitos da pandemia?

Love - Talvez você esteja parcialmente certo, não foi possível evitar a pandemia. Há também outras questões que criam melancolia, bem como inspirações para a composição de músicas.

Sam - Claro que sim, algumas das letras foram escritas durante a pandemia muito relacionadas.

Siena Root foi uma banda bastante elogiada na primeira década do século XXI por apostar em um som mais psicodélico e progressivo, especialmente em concertos gravados para o programa Rockpalast. Hoje a música da banda é mais direta e não tão rebuscada, ainda que mantenham o mesmo nível de sofisticação. É uma percepção válida? Em caso positivo, como explicam essa mudança de direcionamento?

Sam - Na verdade não faço ideia, se é como é percebido é claro que é muito válido mas não é de propósito (risos). Apenas acontece. Não planejamos nossa direção musical, apenas seguimos o que vem até nós.

A pandemia certamente atrapalhou planos de celebração de 25 anos de carreira, caso eles existissem. Pensam em retomar projetos para celebrar a data?

Sam - (risos) Nós tínhamos alguns planos vagos, eu acho, mas obrigado pelo lembrete, eu tinha esquecido disso.

Recentemente as bandas suecas de vários estilos redescobriram a América do Sul e a incluíram em suas turnês. Blues Pills, Lucifer, enforcer e Opeth são algumas delas. Tocar por aqui está nos planos de vocês em futuro próximo?

Sam - Tivemos esses planos mas infelizmente não aconteceram. Mas realmente esperamos que isso aconteça no futuro!

O estilo vocal e Zubaida Solid nos remete, em muitas passagens, ao da cantora escocesa Maggie Bell, da banda Stone the Crow. Essa cantora e a banda podem ser consideradas uma influência? 

Sam - Vou perguntar a Zubaida, não sei se ela ouviu Maggie Bell. Na verdade eu amo Maggie Bell. Grande voz ,com certeza, assim como Zubaida.

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