quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

O blues brasileiro perde o grande cantor e gaitista Paulo Meyer

O cantor paulistano Paulo Meyer tinha quatro paixões: blues, gaita, prancha de surfe e a Kombi, a van mais popular dos anos 70 e 80 o Brasil (dura, rústica e pesadona, mas resistente e resiliente). Também gostava de redes sociais e vivia exibindo seus dotes em cima de uma prancha mesmo aos 67 anos de idade, ao lado de uma das netas.

Sorriso fácil, Meyer, que morreu nesta quinta-feira (17) em decorrência de problemas no fígado, se tornou uma espécie de guru do blues nacional. 

"Claro que é um orgulho, mas sou guru só porque sou o mais velho", divertia-se ao comentar o assunto nos intervalos de suas apresentações em uma choperia alemã em um shopping da zona norte de São Paulo.

A paixão pela Kombi, da Volkswagen, era tanta que nomeou o seu último album, "Kombi 72", onde esbanjava bom humor e competência nos vocais. Cantava alto e rouco, e era um gaitista inventivo e de bons recursos, embora não primasse pela técnica. Nem era essa a intenção.

"Com um time desses, o que menos precisamos é de virtuosismo. Temos de ter é blues na veia e feeling lá em cima", afirmou se referindo aos Thunderheads, a banda que o acompanhava quase desde sempre.

Zombeteiro e galhofeiro, adorava cobrar uma "dívida" que o Combate Rock tinha com ele. "Sou o amis velho bluesman e o único que ainda não gravou entrevista para o programa de vocês. Até quando vamos esperar?"

Vamos carregar essa dívida e a dor de manter essa lacuna para sempre, e nem uma pandemia de covid-19 vai nos redimir. Resta ouvir e reverenciar a boa música que produziu.

Como artista, sempre preferiu o blues rock em uma variação mais festiva e animada. Gostava também de MPB  folk music, mas a voz potente e rouca rasgava nos clássicos do rock. mandava muito bem nas músicas de Jimi Hendrix
 
“Eu ouvia muitas canções no rádio quando criança. Me lembro perfeitamente daquele vozeirão rouco da Elza Soares, que por sinal foi minha primeira influência para o blues, e em casa havia uma série de discos de nomes como Lamartine Babo. Uma madrinha que ouvia muito “Peter, Paul and Mary” me despertou o interesse no trabalho do trio, que era folk mas também fazia versões blues de algumas músicas, como certas canções de Bob Dylan”, lembrou em boa entrevista concedida e publicada no site do Jornal da Unesp.

Ele continuou descrevendo sua formação pessoal  musical. "Quando nasci, meu pai já tinha uma certa idade, mas me contaram que ele tocava flauta transversal em uma banda que se apresentava em sessões de cinema mudo. Tenho essa flauta até hoje. Quem herdou e toca esse instrumento é a minha filha, que estudou e está se formando em música na USP. Ela seguiu a tradição na flauta.",

Meyer iniciou sua carreira artística profissional tocando na banda do guitarrista Nuno Mindelis. Ele participou de gravações junto a nomes como Sérgio Dias Baptista e Alexandre Fontanetti, e trabalhou como intérprete de artistas estrangeiros na edição paulista do Festival de Jazz de Montreux e no Rio-Monterey Jazz Festival, ambos em 1980, e em todas as edições do festival de blues Nescafé Blues, na década de 1990. 

Ao longo de sua carreira, conheceu pessoalmente nomes lendários do blues como Champion Jack Dupree, B.B. King, Pinetop Perkins e Eric Burdon. Nos anos 1990, liderou a inovadora banda Expresso 2222, que influenciou toda uma geração de bluesmen paulistanos. 

Durante muitos anos, tocou blues e rock na cidade de Paraty, Rio de Janeiro, onde suas apresentações são consideradas uma das atrações turísticas da cidade e região. 

Em 2009 participou da décima edição do Festival de Blues & Jazz de Guaramiranga, Ceará, onde fez o show de abertura para o gaitista Toots Thielemans.

Seus trabalhos mais recentes estão atrelados ao grupo “Paulo Meyer e The Thunderheads”, com o qual já gravou dois belos álbuns: “Kombi 71” e “Kombi 72”. 

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