sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Caso 'Taylor Swift': lições de gestão de riscos para o setor de entretenimento

Daniela Coelho e Helder Assis* - especial para o Combate Rock

Quando falamos de gestão de riscos e vulnerabilidades, uma forma muito simples para entender a aplicação dos conceitos é fazer uma analogia com a chuva. Imagine o seguinte cenário: você está em casa e antes de sair olha a previsão do tempo, olha o céu e decide se vai levar o guarda-chuva. Ou não. Se há indícios de probabilidade de chuva e você decide não levar o guarda-chuva, você resolveu assumir o risco de se molhar - ou se resfriar. 

Como o risco é uma possibilidade, a ausência do guarda-chuva não é a confirmação de que você se molhará, pois não se sabe se irá realmente chover. Acaba sendo uma aposta. E muitas vezes, espera-se contar com a sorte.

Trazendo essa analogia simples para o mundo dos negócios, podemos ver muitas empresas apostando e arriscando a ficarem molhadas. Mas, na realidade, os impactos podem ter magnitudes maiores, seja para a sobrevivência dos negócios ou até mesmo das pessoas envolvidas com essas empresas.

O que estamos vendo com grandes eventos nos últimos meses indica que empresas organizadoras talvez precisem levar a avaliação de riscos e continuidade de negócios com uma maior seriedade, uma vez que esta abordagem traria maior clareza sobre diversos fatores, dentre eles, a forte volatilidade climática, que pode impactar grandes espetáculos. Podemos listar algumas intercorrências recentes:Em outubro, o festival Tomorrowland no interior de São Paulo cancelou um dos dias de show. A organização do evento afirmou que foi "devido aos fortes temporais, chuvas e alagamentos", que danificaram o estacionamento e as vias de acesso.

Ainda no estado de São Paulo, houve o desabamento do teto de uma arquibancada do autódromo de Interlagos durante as classificatórias para a Fórmula 1. Mais uma vez, a chuva atuou.

E mais recentemente, tivemos toda a repercussão do show de Taylor Swift, no Rio de Janeiro, envolvendo calor extremo, cancelamento em cima da hora e, lamentavelmente, a morte de uma fã. Esse evento, em especial, teve desdobramentos inclusive no fluxo aéreo da cidade, impactando e atrasando voos em dias posteriores ao evento.

Mas será que todos esses problemas são relacionados às intempéries e ao clima? O que as empresas organizadoras e o poder público estão fazendo a respeito? Será que é tão difícil prever situações que possam sair ao controle?

Inicialmente, tratamos no impacto que as questões climáticas estão trazendo para os eventos. Mas podemos ampliar muito esse assunto, como, por exemplo, o que tange a cadeia de fornecedores de um evento? As estruturas montadas contam com centenas de fornecedores de diversas categorias. 

Qual é a garantia de que o fornecedor de segurança está com todo o contingente disponível e treinado para agir em situações de agressões e confusão? E o que dizer do fornecedor que emprega mão de obra análoga à escravidão?

Os exemplos são inúmeros. Mas todos levam a um ponto em comum: a Gestão de Riscos. Esta disciplina corporativa nos auxilia a identificar incertezas e planejar respostas. O objetivo da gestão de riscos é nos fazer enxergar claramente as probabilidades e os impactos de ocorrência de eventos inesperados para que, assim, possamos dizer, "Eu vejo bem agora, eu vejo bem agora", como diz a cantora Taylor Swift, em The Archer.


A gestão de riscos eficiente, associada a um plano de gestão de crises, pode criar um ambiente de maior controle, minimizando exposição desnecessária do público, prejuízos e danos de imagem – que muitas vezes recaem não apenas sobre a empresa organizadora, mas também para o artista, a cidade e o país onde o evento foi realizado. Identificar quais são os riscos e pensar nas contingências - para caso tais riscos se materializem - antecipa os problemas e suporta a tomada de decisões ágeis.


As empresas de entretenimento precisam deixar de contar com a sorte e aplicar a gestão de riscos e continuidade de negócios em suas operações para minimizar essas situações. 

Gerenciar riscos em grandes eventos não é apenas utilizar técnicas, habilidades e ferramentas para evitar problemas, mas também uma maneira de garantir a continuidade dos negócios e o entretenimento seguro do público.

A previsão do tempo pode ser incerta, mas a preparação e a prevenção podem fazer toda a diferença. Além disso, avaliar crises ocorridas, reconhecendo que a empresa deveria ter tomado algumas ações alternativas são iniciativas que não resolvem a ocorrência passada, mas pode contribuir para evitar um dano futuro.

E no mundo dos negócios, essa prevenção pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso. Portanto, é hora de não permitir mais que a chuva estrague o espetáculo. 

Podemos até suplicar como o cantor Robbie Willians faz na música "Better Man": "Na chuva torrencial, dê-me um verão sem fim". Contudo, é imprescindível sempre levar um guarda-chuva.

*Daniela Coelho é diretora de Gestão de Riscos; Helder Assis é gerente sênior de Gestão de Riscos e Continuidade de Negócios. Ambos atuam na Protiviti, empresa especializada em soluções para gestão de riscos, compliance, ESG, auditoria interna, investigação, proteção e privacidade de dados. 

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