terça-feira, 7 de novembro de 2023

Como a 'quebra' do Deep Purple, há 50 anos, mudou o hard rock dos anos 70

Uma banda que nunca teve medo de mudar, ao menos no seu auge. Esse era um dos vários motivos para o Deep Purple ser admirado e idolatrado nos nove anos de sua primeira e gloriosa fase, que foi de 1967 a 1976. De todas as grades bandas do rock clássico, somente Thin Lizzy e Uriah Heep tiveram coragem semelhante.

Faz 50 anos que o Purple não pestanejou em abrir mão de uma dupla dde músicos carismáticos e excelentes em seu auge criativo para mergulhar no incerto e duvidoso, abraçando dois novos e jovens integrantes que ajudaram a incendiar o mundo do rock pesado com um novo direcionamento. Ao mesmo tempo em que impunham mudanças de tal ordem que levaram à implosão da banda três anos depois.

Unidade e estabilidade nunca foram termos que compusessem o cotidiano do quinteto inglês, que sempre fez da tensão e da imprevisibilidade elementos fundamentais de sua ascensão. No começo era a pressão para fazer sucesso e ganhar algum dinheiro; depois, a busca paranoica por excelência e perfeição por parte do guitarrista temperamental Ritchie Blackmore.

A criação da banda juntou três virtuosos músicos com larga experiência no underground londrino e nos esfumaçados bares e boates da Alemanha. Blackmore finalmente encontrara no tecladista e maestro Jon Lord e no versátil baterista Ian Paice os parceiro ideais para vencer no mundo pop, mas demoraram encontrar os músicos complementares.

Lord era a figura proeminente naquele início, quando a banda fazia um rock psicodélico com tendência ao progressivo om pitadas dde soul music americana. Os teclados conduziam quase tudo e davam o tom nos três primeiros álbuns, que não tiveram muita repercussão nos de 1968 e 1969.

Era preciso mudar e Blackmore sacou isso bem rápido: o vocalista Rod Evans e o baixista Nick Simper não estavam rendendo o que ele queria e ele precisava de músicos mais incisivos e melhores, ao mesmo tempo em que convenceu Lord dde que o som tinha de er mais pesado e menos hermético e exemplificou: Jeff Beck Group, Jimi Hendrix Experience, The Who e Led Zeppelin.

Jon Lord concordou em mudar o som e integrantes, pois não tinha uito argumentos, mas exigiu antes levar a cabo o seu grande projeto: "Concert for Group and Orchestra", que misturaria música pop com  uma orquestra filarmônica executando composições eruditas suas. 

Primeiro renascimento

O álbum saiu em 1969 já com os novos integrantes, o vocalista Ian Gillan e o baixista Roger Glover, ambos do banda pop Episode Six. O álbum foi muito elogiado e considerado vanguardista, mas vendeu menos do que era esperado. Era o encerramento da primeira fase.

O rock pesado do Deep Purple foi uma mudança e tanto assustou os fãs, além de arrebatar e arrebanhar milhares de outros. Era bluesy, era pesado, e era bom, mostrando que o Led Zeppelin tinha finalmente um concorrente - o Black Sabbath só seria considerado dessa forma mais de um ano depois, com o seu segundo álbum, "Paranoid".

Finalmente o Deep Purple conheceria o sucesso e ganharia dinheiro com a música primeiramente conhecida como "rock pauleira" com os discos "In Rock", "Fireball" e "Machie Head", este trazendo o maior sucesso da banda e um dos hinos do rock de todos os tempos, "Smoke n the Water".

Foram quatro anos intensos de muito sucesso, muitos hows, muito estresse e muita briga. Deep Purple virou uma banda gigante, mas não foi o suficiente para manter Ian Gillan na banda, em constante tensão com Blackmore.  

"Who Do You Think W Are", dde 1973, não repetiu o sucesso dos três discos anteriores e refletiu o clima pesado no estúdio - ironicamente, o grupo soava menos denso e agressivo.

Novo desmonte

Farto e cansado, Gillan anunciou a sua saída em meados de 1973. Não foi uma completa surpresa, dada a grande insatisfação do vocalista. O que surpreendeu mesmo foi a inclusão de Glover na barca, ele que se mostrara um excelente compositor. 

Pesou contra ele, entre outras coisas, a amizade com Gillan e uma certa independência de pensamento crítico, além de ua atividade paralela de produtor - abraçou com gosto o trabalho com banda escocesa Nazareth.

Já que era para mudar, então que fosse para valer. E então foi feito o convite para o baixista e vocalista Glenn Hughes, de 21 anos, da ascendente banda Trapeze. Este nem pensou muito e aceitou, mas teve de engolir o fato de que não seria o vocalista principal, já que Blackmore não queria um integrante que recebesse excessiva atenção.

Paul Rodgers, o excelente cantor do então finado Free e e no processo de criação do Bad Company, fi sondado para ser o vocalista principal, e se surpreendeu como o convite. "Não acreditei quando me disseram do interesse em me contratar. O som deles era muito pesado, fora da minha praia, e ainda por cima já tinham Hughes, que eu conhecia fazia temo. Eu disse isso para eles. Não me arrependi de ter optado pelo Bad Company", declarou o cantor em uma entrevista para a revista Classic Rock.

Blackmore não sossegou e fez inúmeras audições até que um desconhecido cantor de pub e ex-balconista de loja de roupas chamou a sua atenção. David Coverdale tinha voz rouca e bluesy que tanto procurara para consolidar a mudança total. Além disso, era mais tímido "menos encrenqueiro" e "mais focado" do que Gillan, segundo o guitarrista comentou na época.

Mal sabia que ele que os novatos revolucionariam o som do Deep Purple  também a dinâmica interna do grupo, a ponto de causar desgosto em Blackmore a ponto de provocar  sua saída em maio de 1975.

O tecladista Jon Lord aprovou as mudanças e simpatizou logo com os dois garotos - que eram cerca de dez ano mais novos. No entanto estava inseguro e desconfiado sobre a pertinência de tais contratações e mudanças profundas.

O guitarrista Ritchie Blackmore, empolgado, foi contagiado pela exuberância e otimismo dos dois novatos do Deep Purple, Eles estrearam meses depois, já em 1974, em um concerto gigantesco nos Estado Unidos, o California Jam.

Houve uma qumíica excelente antes, no estúdio, e então o álbum "Burn", que completará 50 anos de seu lançamento em 2024, transformou a vida da banda.

Para muitos, o Deep Purple era a personificação do que se convencionou chamar de "rock pauleira" dos anos 70, o hard rock por excelência, até mais do que o Led Zeppelin, que tinha um som mais diversificado. 

Com o álbum "Machine Head" e o ao vivo "Made in Japan", o quinteto inglês levou o rock pesado às grandes massas e catapultou Blackmore para os holofotes como um dos grandes heróis da guitarra, para não falar na ascensão de Ian Gillan, o vocalista magistral apelidado de "Silver Voice" (voz prateada, na tradução literal).
 
Coverdale e Hughes empreenderam uma guinada em direção à música negra, encharcando o som do Purple com soul music e doses cavalares e contagiantes de funk, como ficou patente nos discos posteriores, 

"Burn" costuma frequentar listas de melhores discos de rock e hard rock de todos os tempos, assim como "Machine Head". O som ainda era pesado e a guitarra de Blackmore preenchia tudo, com proeminência, mas o baixo ia para outros terrenos, com muito mais groove e linhas trabalhadas. A velocidade e  precisão de Glover deram lugar a uma cadência e coloridos diferentes.

Era o caso de duas canções icônicas e que sinalizariam as mudanças: "You Fool No One" e "Might Jut Take Your Life", que dividiram as opiniões dos fãs antigos, mas que ajudaram a arregimentar uma nova leva de apreciadores mais novos que não se restringiam ao rock pesado da era anterior.

"Burn", a música, ainda tinha resquícios do peso cru do hard rock, com seu riffs maravilhoso e um peso impactante, mas o groove e o baixo tortuoso e insinuante dava as caras. Tudo com duetos e duelos vocais maravilhosos de Hughes e Coverdale. E ainda tinha "Mistreated", um baita bluesão com 
toques épicos e letra brega.

Ascensão e queda

Assim como ocorreu com a segunda formação, o sucesso inicial foi imediato e banda cresceu ainda mais na Europa e no Japão, mas logo o mau humor de Ritchie Blackmore começou a contaminar o ambiente. 

A tendência soul do som da banda ficou cada vez mais acentuada e Blackmore, decepcionado com o que considerou uma certa "omissão" de Paice e Lord, foi lentamente largando o barco, o que se refletiu no disco "Stormbringer", também de 1974, muito mais bluesy e soul, mas com menos pesado e sem a mesma inspiração nas guitarras.

A mudança de 1973 foi tão impactante e impressionante que mudou definitivamente a via do Deep Purple e do então chamado rock pesado. a ascensão da nova formação foi meteórica, assim como sua queda foi rápida e direcionou a banda para o fim.

Blackmore saiu em maio de 1975 e logo formou  Ritchie Blackmore's Rainbow absorvendo os integrates da banda americana Elf, do vocalista então não muito conhecido Ronnie James Dio. Mais feliz, o guitarrista voltou a fazer um hard rock mais puro e reto, com sua guitarra ganhando muito mais proeminência.

O substituto de Blackmore no Purple foi uam surpresa, uma joia chamada Tommy Bolin, americano que tocaram no Zephyr e na James Gang. Era original e muito habilidoso, além de exímio conhecedor de música americana. No entanto, era indisciplinado e egocêntrico, a ponto de exigir manter uma carreira solo paralela.

Bom compositor e, em muito momentos, guitarrista brilhante, Bolin sucumbiu aos vícios em drogas e álcool e começou a comprometer as apresentações da banda - assim como Glenn Hughes. 

Inertes e desinteressados, Lord e Paice deixaram Coverdale lidar com o problema. O ótimo álbum daquela formação, "Come Taste the Band" (1975), deu algum fôlego, mas o vocalista não teve paciência e anunciou que estava saindo da banda no camarim depois do último show da turnê inglesa de 1976.

Para seu desgosto, ninguém pareceu se importar e ele declarou dias depois que a banda tinha acabado sem nem mesmo consultar os ex-colegas. Ninguém o contestou e o Deep Purple morreu.

Seriam necessários oito anos para que houvesse a ressurreição com as voltas de Gillan, Glover e Blackmore, além das de Lord e Paice, ou seja, a segunda formação, fato que foi bastante impactante e bem-sucedido.

David Coverdale lançou dois bons discos solo, que venderam razoavelmente bem, antes de montar o grupo Whitesnake, com o qual está até hoje. 

Glenn Hughes engatou uma carreira solo e parcerias com os guitarristas Pat Thrall e Gary Moore, além de passagem complicada elo Black Sabbath. Viciado em drogas, finamente aceitou ir para a reabilitação no fim dos anos 80 para entrar na década seguinte limpo e sóbrio. 

A retomada da carreira solo foi um sucesso e fez parcerias com Tony Iommi (guitarrista do Black Sabbath) e integrou as bandas Dead Daisies e Black Country Communion.

Tommy Bolin foi a única vítima dessa longa história de muito altos e baixos. Fora do Deep Purple, caiu ainda mais de cabeça nos excessos em Los Angeles quando tentava levantar a sua carreira solo, Morreu no final de 1976 em consequência de uma overdose, aos 25 anos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário