quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Finally Home acerta na celebração e indica grandes possibilidades com seu acústico



Era para ser uma celebração com amigos e convidados, mas acabou servindo como um termômetro: qual o fôlego que o projeto Finally Home teria se fosse estendido para palcos maiores em outras cidades?

É uma pergunta retórica, já que a plateia que lotou o Blue Note SP na noite de Halloween, 31 de agosto, estava ganha, mas ainda assim pertinente: boa parte de quem compareceu não era do mundo metal/roqueiro e, ainda assim, o resultado foi surpreendente.

Finally Home, para quem não lembra, foi uma boa ideia que reuniu ex-membros da segunda formação da banda Shaman, que tocaram juntos entre 2006 e 2011 e gravaram os álbuns "Immortal" "Origin", além de um DVD ao vivo.

Despretensiosa, a iniciativa recriou oito canções dos dois discos em formato acústico, e o resultado surpreendeu pela rápida aceitação. "Era para ser uma reunião de amigos para um som do tipo 'churrasco' de sábado à tarde, e então tinha todo um esquema armado para travar e filmar. Estava claro que não seria só isso", disse jocosamente o vocalista Thiago Bianchi (que é da banda Noturnall) no palco durante a apresentação intimista.

E ficou evidente desde o começo que a primeira apresentação de Bianchi, Leo Mancini e Fernando Quesada (violões e vocais) e Fabrizio Di Sarno (piano e teclados) não seria simplesmente uma reunião de amigos que tocariam para outros amigos.

Planejado e organizado detalhadamente, o primeiro show do Finally Home ocorreu no lugar certo e no ambiente ideal. Beirando a perfeição, os músicos à vontade dosaram bem o profissionalismo com o clima familiar necessário para a celebração.

Entre brincadeiras e contação de histórias (quase estouraram o horário estabelecido), Finally Home entregou um espetáculo intenso e emocionante, em que o esquema acústico verdadeiro, despojado de arranjos grandiosos e eloquentes, funcionou bem, indicando que as possibilidades de eventuais novas apresentações e turnês por casas de espetáculos intimistas são bem plausíveis.

Os dois violões, piano e voz foram acrescidos pontualmente por convidados especiais para a ocasião - Alex Batista, produtor e vídeo, fez a percussão em uma canção; Alê Costa, o proprietário da Cacau Show, tocou violão em uma versão correta de "The Show Must Go On", do Queen; e ainda teve o baixista Luís Mariutti (Sinistra, ex-Angra e Shaman) e a cantora Ciça Moreira, de apenas 17 anos, que brilhou em “S.S.D. (Signed, Sealed and Delivered)”

Ainda que a descontração prevalecesse, havia uma pitada de desafio entre os músicos, especialmente no impressionante cantor Thiago Bianchi: parecia que eles queriam provar a eles mesmos que a empreitada tinha estofo e tamanho necessários para gerar o impacto que a história da segunda encarnação do Shaman merecia. O que tinha nascido de forma despretensiosa crescera de forma "descontrolada e rápida". O que fazer a partir de agora?

A esfuziante reação da plateia foi a resposta: no curto prazo, Finally Home precisa voltar aos palcos e espalhar o álbum já lançado nas plataformas digitais. É um prato pronto para o sucesso imediato de público. Será que a agenda dos músicos vai permitir uma necessária turnê?

Em uma apresentação maravilhosa, dá para destacar a sensibilidade e a delicadeza da performance de Bianchi, visivelmente emocionado, percebendo a cada instante a importância de estar se apresentando em uam icônica casa de shows em um momento importante dos sus 30 anos de trajetória musical.

Equilibrando a suavidade e a agressividade desesperada na interpretação de canções como a linda "Finally Home" e a forte "Ego", mostrou que não tem rivais no continente em cima de um palco atualmente - só Edu Falaschi consegue ombreá-lo.

O ponto alto foi a ótima "Infernal Veil",  que tem arranjos de violões fabulosos e uma densidade surpreendente n formato acústico. 

O novo formato de canções originalmente gravadas dentro do power metal, pesadíssimas em alguns, não só preservou suas grandes qualidades como, em alguns casos, as realçou, como na ótima "The Yellow Brick road" e na dramática "In the Dark".

Assim como o Dr. Sin fez um trabalho primoroso no CD duplo "Acústico", recém-lançado, valorizando a qualidade de canções sem exageros, o Finally Home ressuscitou músicas importantes e as ressignificou de forma surpreendente. Não poderia haver melhor homenagem a si memos do que essa nova roupagem para uma parte importante do heavy metal nacional.

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