quinta-feira, 27 de outubro de 2022

A voz de deus tem nome: Milton Nascimento, que faz 80 anos

O cantor inglês Jon Anderson, que foi o vocalista do Yes por 40 anos, nunca teve dúvidas a respeito: "Se deus, ou alguma divindade, tivesse uma voz, seria a d Milton Nascimento". 

A afirmação foi feita a esse jornalista anos atrás, em plena avenida Paulista, quando o artista, de ótimo humor, se divertia com o assédio e com a cultura popular que encontrava em São Paulo, ao lado da tímida filha Deborah, que integrava a sua banda solo como vocal de apoio - além de assessora para tudo.

Milton Nascimento completa 80 anos de idade om um reconhecimento internacional do mesmo nível do de João Gilberto: é um dos nomes mais estrelados da chamada world music, superando o rótulo de MPB que ainda insiste em colar em Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil. 

Seu prestígio é grande que a jazzista americana Stacey Kent, amante da música brasileira e que fala português fluentemente, o coloca com frequência entre s seus cinco preferido de todos os tempos.

Não é à toa que suas participações em discos de rock, como do Angra, são cultuadas e festejadas por todos os roqueiros com discernimento para reconhecer a sua qualidade  importância.

Para coroar uma existência plena e maravilhosa, seu mais importante registro fonográfico foi considerado o melhor disco brasileiro de todos os tempos.

Em outras votações do gênero, nunca “Clube da Esquina”, de 1972, havia alcançado o primeiro lugar. Lançado em 1972, é resultado de um trabalho ousado.

Milton Nascimento, já um artista consagrado, se aliou a dois garotos: Lô Borges (na época com 18 anos) e Beto Guedes (um ano mais velho) e, reunindo outros parceiros habituais, como Fernando Brandt, Márcio Borges e Ronaldo Bastos, gerou um álbum duplo – raridade no Brasil daquela época – encharcado de psicodelia, toques de jazz, rock progressivo, harmonias que remetiam aos Beatles e música brasileira.

Não sei se por ter sido contemporâneo de estrelas mais midiáticas na MPB como Caetano , Gil ou mesmo Roberto Carlos, Milton Nascimento acabou se situando em um segundo escalão da música brasileira. Os meninos Lô e Beto, então, mesmo engatando bem sucedidas carreiras, ficaram mais ainda escondidos dos olhos do grande público, emplacando um hit ali, outro aqui.

A partir dos anos 2000 é que, com os relançamentos de vários álbuns daquele período é que muita gente passou a ter um contato mais quente com o Clube da Esquina. 

A partir de então, começamos a ver seu legado – ao abandonar sua fase dancehall, o Skank mergulhou de corpo e alma nos sons esquinianos. Bandas mais novas ainda, como O Terno e Boogarins, também trazem ecos de Clube da Esquina em seus momentos mais psicodélicos. Em especial, essas duas bandas incorporaram no repertório de shows que realizaram em conjunto anos atrás, uma reverente versão de “Saídas e Bandeiras Nº 1”.

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