Uma capacidade enorme de perdão e resignação diante de uma história conturbada e de muitas dificuldades. Essa é uma das explicações para a personalidade tranquila e a atitudes positivas diante de obstáculos recentes enfrentados pelo cantor inglês Brian Johnson. "Sou de Newcastle, onde as coisas nunca são fáceis para ninguém", disse recentemente em entrevista para o site Blabbermouth.
A segunda voz do AC/DC completou 75 anos de idade e está satisfeito em ter recuperado seu posto no disco mais recente da banda, o ótimo "Power Up". nada mais justo para quem participou da fase que tornou o AC/DC um gigante do rock.
A capacidade de perdão é uma prática comum para o rude músico do norte inglês, que teve de virar e desdobrar muito em vários empregos enquanto tentava a sorte no rock com o bom grupo Geordie nos anos 70. Foram pelo mens tr~es LPs interessantes lançados, mas sem o sucesso esperado - nem de longe.
Ao ser demitido sumariamente, por telefone, em 2015 pelo guitarrista Angus Young, chefe único do AC/DC, respirou fundo e resistiu à tentação de se afogar em garrafas de uísque.
Tinha gravado o bom "Rock or Bust", o primeiro sem Malcolm Young, guitarra-base e chefão que se afastou por doença em 2011 e morreu cinco anos depois, mas desenvolveu um grave problema auditivo durante o período de gravação. Sem poder sair em turnê, foi substituído sem pesar por Axl Rose, dos Guns N' Roses.
Recuperado após cirurgias e longa convalescença, desenvolveu outra virtude além do perdão: a paciência para esperar o tempo curar as feridas.
Sem muitas alternativas, Angus Young foi convencido a dar outra chance a Johnson no disco "Power Up". Não se desculpou. Apenas o convocou.
O vocalista aceitou sem fazer exigências, mas sabe que um dia as coisas terão de ser colocadas a limpo. Sente-se reabilitado com Justiça - esteve na formação em 37 do 42 anos de banda desde 1980.
O exercício a paciência mais uma vez foi fundamental para a reabilitação. Em 1980, a ponto de desistir da música e voltar a ser um operário da construção civil em Newcastle, recebeu o convite para fazer uma audição para uma "banda importante" em Londres.
Descobriu logo que era o AC/DC ao chegar à capital londrina. Conhecia a banda e seu Geordie já havia aberto um dos shows dos australianos no passado. Bon Scott, o vocalista icônico do AC/DC morto em fevereiro daquele ano, já tinha comentado mais de uma vez sobre as qualidades de Johnson. Reza a lenda que teria sugerido o cantor do Geordie para substituí-lo se fosse o caso.
Fez o teste, mas foi tratado com frieza pela banda. Voltou a Newcastle de trem (viajara com dinheiro emprestado) desanimado e nem mesmo outra convocação pra uma segunda audição melhorou seu estado de ânimo.
Recebendo um tratamento mas amistoso e respeitoso, percebeu que os ventos estavam mudando e finalmente, aos 33 anos de idade, se tornaria membro de uma banda importante - que se tornaria gigante meses depois, após o lançamento do maravilhoso álbum "Back in Black".
Sua potência vocal e a rouquidão transformaram o som do AC/DC. O hard rock safado e sacana dos tempos de Bon Scott se tornou um heavy rock furioso e mais encorpado.
Sem o carisma e a sensualidade de Scott - e sem o mesmo talento para as letras sarcásticas e bem sacadas -, Johnson apostou em uma dedicação sem precedentes dentro da banda.
Sempre disponível e topando todas as invenções dos irmãos Young, decidiu que não perderia aquela chance por nada. Uma aposta certeira, pois ficou rico e reconhecido em todo o mundo. Virou lenda no mundo do rock pesado.
Se alguém pode reivindicar o título de operário do rock por sua dedicação e comprometimento, Brian Johnson é o cara. Perdão ao "chefe" no AC/DC é apenas consequência de mais uma vitória pessoal de alguém que perseverou m seu sonho/objetivo. E o AC/DC ganhou uma sobrevida com seu retorno, mesmo ele ostentando nada desprezíveis 75 anos de idade cantando como uma serra elétrica transtornada.
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