terça-feira, 18 de outubro de 2022

Sammy Hagar, 75: fascinação e brilhantismo com e sem o Van Halen

 Um passo gigante e arriscadíssimo, ainda mais para um cantor e guitarrista que tinha uma carreira sólida de sucesso desde a década anterior. Entrar em uma banda imensas e substituir um vocalista carismático e adorado? Ele precisava disso?

Sim, Sammy Hagar precisava, como contou em sua interessante autobiografia. Ele precisava mostrar o quanto era bom e diferenciado, e o Van Halen precisava de uma estabilidade perdida com o estrelismo cada vez maior de Dave Lee Roth, em constante rota de colisão com o guitarrista Eddie Van Halen.

A união foi prolífica e bastante conveniente e transformou a banda. Se o Van Halen era um nome do topo do hard rock americano em 1984, subiu vários degraus com a chegada do "red rocker" Sammy Hagar.  E o Van Halen ficou maior do que Iron Maiden, Judas Priest, AC/DC e Ozzy Osbourne.

Sammy Hagar completou 75 anos de idade em outubro e é um artista realizado. Cantor excelente e com voz privilegiada, teve de ralar bastante para encontrar seu caminho na juventude até ser acolhido por um guitarrista generoso, mas instável e inconstante. 

Ronnie Montrose precisava de um braço direito, um músico que soubesse compor, cantar e servir de âncora artística. E então a banda Montrose decolou no começo os anos 70 como um dos nomes fortes da cena de rock pesado, quase arranhando o sucesso de bandas como Mountain e Grand Funk Railroad.

Mas a instabilidade e o caos administrativo em volta de Ronnie desgastaram a relação depois de tr~es ótimos discos lançados. Hagar queria mais reconhecimento e um pagamento maior, ou seja, mais participação no bolo dos direitos autorais das composições.

Os conflitos nunca resultaram em brigas homéricas, mas foram o suficiente para que o cantor buscasse o seu caminho na carreira solo. E fez muito sucesso entre 1977 e 1984, em discos cada vez melhores e crescendo como guitarrista. Por que então aceitar o posto de cantor do Van Halen?

Representante maior do hard rock festivo californiano, o Van Halen parecia exasperado diante de ma encruzilhada artística: continuar fazendo o rock mais alegre e irreverente ou partir pra uma aventura mais ousada, em busca de um público mais maduro e exigente? Como convencer David Lee Roth e a encarar a mudança?

A resposta do vocalista foi a sua carreira solo antes mesmo de debandar, naqueles meses fatídicos do fim de 1984 e começo de 1985. "Just a Gigolo" e "California Girls" (versão de clássico dos Beach Boys) eram puro glam pop oitentista que exaltava o mundo ensolarado em que vivia. O Van halen teria de procurar a solução com outra voz - e outra postura.

A profusão d sintetizadores e letras mais duras e menos luminosas em "1984" já mostravam  caminho a seguir, e a chegada de Sammy Hagar, ótimo compositor e competente guitarrista, solidificaram as mudanças e o acerto do novo caminho.

Nunca o quarteto venderia tanto e ganharia tantos prêmios como a sequência matadora de discos ótimos, como "5150", "OU812" e "For Unlawful Carnal Knowledge". 

A voz de Hagar colou em hits universais como "Why Can't This Be Love", "Summer Nights", "Dreams", "Right Now" e mais alguns. O Van Halen era a maior banda do mundo, rivalizando com o U2 e os então sumidos Rolling Stones. 

A música da banda ficou mais séria, mas concreta e, de certa forma, um pouco mais brega, já que  amor era tema recorrente abordado pelo novo vocalista.

Alcançou um novo e mais ampliado público, mas perdeu um pouco de sua essência - a irreverência, a jovialidade e a luminosidade ensolarada. em alguns momentos, o Van Halen ficou mais melancólico e sombrio, como no disco "Balance', de 1995, o quarto e último de Sammy Hagar com a banda.

Já havia uma série de ruídos entre os outrora amigões Hagar e Eddie Van Halen. As insatisfações do guitarrista eram grandes, mas aparentemente não explicitadas, a ponto de a saída de Hagar ter surpreendido o mundo e ele próprio.

Empresários já negociavam a volta de Roth ao posto, e Eddie "roeu a corda" antes do tempo. Roth fez exigências além da conta, demorou para aceitar e acabou irritando demais os irmãos Eddie e Alex Van Halen.

Uma aparição surpresa em numa cerimônia de entrega de prêmio musical e a gravação de duas músicas inéditas - "Can't Get This Stuff No More" e "Me Wise Magic" - foi o que rendeu a rápida reunião em 1996. Após nova briga, o Van Halen descartou o antigo vocalista e apelou para o amigo Gary Cherone (ex-Extreme), que gravou o fraco "Van Halen III" em 1998 e só.

Sammy Hagar já era um um artista mais do que realizado em 1996, ainda que machucado com a forma de como saíra do Van Halen. Retomou a carreira solo, gravou bons álbuns e tentou uma segunda chance com a banda entre 2003 e 2004, em uma turnê saudosista. Mais desavenças o afastaram de vez do grupo.

A carreira solo ia bem, de qualquer forma, assim como a casa noturna estrelada na costa do México e as vendas da sua famosa marca de tequila. A fase era tão boa que uma brincadeira entre amigos se tornou um projeto bem interessante.

Chickenfoot era a banda que reunia Hagar, Michael Anthony (baixista, demitido do Van Halen em 2006 pela amizade com Hagar), Joe Satriani na guitarra e o baterista Chad Smith, do Red Hot Chili Peppers.

Era o som que o Van Halen deveria estar fazendo nos anos 2000: leve, brincalhão, irreverente e bastante pesado. Foram dois discos de estúdio, um ao vivo e um DVD. Apesar do sucesso, nunca passou de um projeto paralelo, já que Satriani e Smith tinham outros planos com suas ocupações principais.

O Chickenfoot foi substituído por The Circle, e a nova encarnação virou Sammy Hagar and The Circle, com Vic Johnson nas guitarras e Jason Bonham na bateria. O novo disco da turma, o terceiro, é o mais puro hard rock inconsequente e festeiro, ainda que algumas letras sejam pesadas.

Sammy Hagar é um músico realizado e um exemplo de carreira sólida e bem-sucedida - e também um prêmio para um artista tão dedicado e que teve d enfrentar enormes dificuldades na juventude até conseguir projeção ao lado da banda Montrose.

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