Nelson Souza Lima - especial para o Combate Rock
No último sábado, 1º de outubro, a Arena Anhembi, zona norte de São Paulo, recebeu alguns dos maiores nomes da música atual num evento que durou quase 20 horas.
O tradicional Encontro das Tribos não poderia fazer feio, afinal de contas, de apresentações em pequenos espaços da periferia, se agigantou ganhando status de megafestival.
Originado a partir do programa radiofônico de mesmo nome na 105,1 FM o Encontro das Tribos chegou à duas décadas de existência entregando o que prometeu: shows espetaculares e envolventes.
Segundo a organização mais de 25 mil pessoas passaram pelo Anhembi e conferiram performances irretocáveis dos gringos Cypress Hill, SOJA e Stick Fingers, além dos nacionais Maneva, Planet Hemp e Racionais MC's. Como deu pra perceber reuniu mesmo gêneros diversos como rap, reggae, pop e rock.
Minha expectativa era para conferir Cypress Hill, Planet Hemp e Racionais. Mas a maratona trouxe muita gente bacana e, confesso, algumas boas surpresas que me deixaram de queixo caído.
Não pude conferir as primeiras atrações que começaram logo às 11h30, porém não perdi nenhum show na parte da noite. Ao chegar rolava o show do paulistano Criolo.
O cara estava no gás, agitando a galera num transe no qual não faltaram as mãos ao alto pra lá e pra cá. Ladeado por sua competente banda, o poeta do Grajaú mandou canções bacanudas como "Grajauex", "Subirudoistiozin" e "Não Existe Amor em SP".
Chamou atenção a camiseta descolada do rapper trazendo uma urna eletrônica estampada na frente e um título de eleitor atrás. Criolo chamou atenção para a importância de votar no dia seguinte, primeiro turno das eleições deste ano.
Por volta das 17h50 o show de Criolo terminou com aquela louvação por parte dos fãs, rolando "Lovin You", da cantora americana Minnie Riperton nas pick ups. Showzão.
Não falei antes, mas a estrutura monumental montou dois palcos gigantes, um ao lado do outro, o que permitia um show começar imediatamente após o término do outro.
A cenografia de prima mostrava os palcos abraçados por um polvo enorme e camarada, enquanto elementos da vida marinha ganhavam vida nos telões, igualmente gigantescos.
Com sonoridade e recursos visuais irretocáveis. A TS Music não poupou esforços e deu ao público um espetáculo primoroso. Tô adjetivando, mas os caras mandaram bem demais.
Após o Criolo vieram os rappers do Conecrew Diretoria. Em uma hora de show, tempo estipulado para todos os artistas, o grupo mandou bem com músicas como "Bonde da Madrugada", além de cantarem "Zóio de Lula", do Charlie Brown Jr. O brother Black Allien fez participação especial empunhando o microfone.
E foi assim: um showzaço após o outro. Os regueiros do Maneva vieram com Mundo Novo , disco mais recente do grupo. Mas com direito a clássicos da música brasileira como "Metamorfose Ambulante", do Raul Seixas e "Anunciação", de Alceu Valença, em empolgantes versões reggae.
Às 20h30, os americanos do SOJA, sobem ao palco para uma das mais esperadas apresentações do festival. Formado em 1997, na Virgínia, EUA, o Soldiers Of Jah Army, mostraram que americano também faz reggae de prima.
Liderado pelo vocalista e guitarrista Jacob Hemphill, o grupo botou o público pra dançar, além de ser super simpático, agradecendo a tod instante o carinho dos fãs brasileiros. Ponto pra ele em outro showzão da noite.
Na sequência do SOJA vieram os cariocas do Planet Hemp. Minha expectativa em ver os caras era grande. Afinal Marcelo D2 e B. Negão voltaram a trabalhar juntos e anunciaram novo disco a ser lançado neste mês. O primeiro depois de 22 anos.
Com 30 anos de estrada o PH é uma instituição do rap core nacional e botaram a galera pra agitar em várias rodas e muita sonzeira. Mandaram "Legalize Já", "Queimando Tudo", "Mantenha o Respeito", canções clássicas da carreira, além de "Distopia", música nova, que no estúdio contou com a participação de Criolo.
Terminado o show do PH, começou a apresentação dos australianos do Stick Fingers. Com 14 anos de estrada e cinco álbuns lançados, sendo o mais recente "Lekkerboy", de 2022, o quinteto liderado pelo vocalista Dylan Frost, mandou seu indie rock de responsa.
Confesso minha ignorância, pois não conhecia o grupo. Porém o que vi foi uma banda competente e muito carismática. Frost é um front man que sabe conduzir a galera.
E a irreverência ficou por conta do tecladista Daniel Neurath que se apresentou de sunga e do batera Erick Gruener que se arriscou no português, para delírio geral e até chutou uma bola de futebol para platéia.
A empolgação dos fãs era tanta que as canções eram cantadas a plenos pulmões por todos. No setlist dos australianos músicas legais como "How To Fly", "Australian Street" e "Caress Your Soul".
Por volta das 23h46 os cubanos/californianos do Cypress Hill subiram ao palco pra fazer uma das melhores apresentações da noite. Com seu rap latino que mistura, hardcore, rap rock e gangsta rap o grupo que traz nos mics os rappers B-Real e Sen Dog mandou clássicos, entre eles, a matadora "Insane In The Brain". Completam o grupo o DJ Muggs e o percussionista Eric Bobo.
O último show que conferi foi dos Racionais MC's. Maior nome do rap nacional o quarteto formado por Mano Brown, Edy Rock, Ice Blue nos mics e KL Jay nas pick ups não deixou ninguém parado, numa performance de tirar o fôlego.
Numa pontualidade absurda, foram 60 minutos, devidamente registrado num enorme cronômetro no telão no fundo do palco os manos da zona sul mandaram discursos de luta e resistência da comunidade preta, entre eles, a clássica "Negro Drama".
Já passava da uma da manhã quando os Racionais encerraram sua apresentação. O festival continuou depois. Mas não resisti, pois a maratona foi intensa.
Encontro das Tribos é idealizado pelo empresário Charles Leandro, a concepção do line-up teve a parceria de Gustavo Sirotsky, nome à frente da Maia Entretenimento, empresa responsável pela curadoria artística do evento ao lado da Tribos Music, e a direção cenográfica é assinada por Thiago Silva, da TS Music.
Que venham mais Encontros das Tribos, um evento gigante que cresce ano a ano.
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