- Em uma rara entrevista para uma emissora de rádio norte-americana, a guitarrista e cantora Lzzie Hale se enfureceu quando ouviu uma pergunta de cunho machista, ainda que sem a intenção: "Você se considera uma uma musa improvável do rock or sua rebeldia?" Sem perder tempo, emendou: "Sou uma musicista improvável, e até uma guitarrista improvável. É por isso que quero ser conhecida e reconhecida."
A voz e a cara da banda Halestorm não perde tempo quando se trata de defender o seu legado e o de sua banda de hard rock - como se ainda precisasse provar o tempo todo a qualidade de seu trabalho.
Claro que ela não ignora o apelo que sua beleza traz e que impulsiona a sua música, mas fazdesav questão de dizer que isto está em segundo plano. "Back to the Dead", o quito álbum de estúdio da banda, corrobora essa tese.
Mais furiosa e mais irritada, a moa parece desabafar em cada palavra gritada no novo trabalho. É o mais pesado e mais bem elaborado dos cinco discos, e certamente estará em várias listas de melhores do ano de 2022.
Claro que a pandemia ajudou a fomentar a raiva, mas o álbum soa como um brado de reafirmação do trabalho do quarteto e reforça o que todo mundo percebia desde a estreia, há mais de dez anos: Halestorm sempre foi uma banda de hard rock, e se afastou cada vez mais do pop - tanto que Lzzle e sua voz forte e rasgada ajudou a lustrar canções de bandas como Dream Theater e Adrenaline Mob.
"Back From the Dead", que abre o álbum, é um senhor heavy metal de primeira, com os pés fincados nos anos 90 e com guitarras bem timbradas, com afinação baixa. Coloca a moça raivosa cantando sobre uma cama densa de riffs simples, mas poderosos.
A banda não alivia em "Wicked Ways" e "Strange Girl", que vêm na sequência e detonam em riffs igualmente poderosos e um certo jogo de guitarras - não são duelos, mas arranjos interessantes que fazem com que se complementem, especialmente na segunda canção.
"Brightside" retoma um pouco as ares mais antigos do grupo, com um hard rock encorpado, mas sem muitas concessões, enquanto que "The Steeple" recupera o fôlego mais pesado, com uma letra mais agressiva, quase como um protesto.
O pique é mantido em quase todo o álbum, com direito a um violão bem interessante na introdução de "My Redemption", enquanto que "Terrible Things" traz Lzzle mais intensa e "soberana". O final surpreendente com "Raise Your Horns", só com a moça e o piano, é um belo encerramento para um álbum muito bom.
- Suzi Quatro está de bem com a vida depois dos ótimos álbuns que lançou nos anos na companhia do filho mais velho, Richard Tuckey, um produtor e guitarrista elogiado. Assim, permitiu-se dar um refresco e se divertir no estúdio para gravar versões de canções que ouvia quando era jovem e que moldaram seu jeito de tocar baixo e de compor músicas pop e rocks pesados.
"Uncovered" é um EP com seis músicas e irradia alto astral pela escolha certeira do repertório. aos 72 anos de idade, faz seu baixo soar macio e insinuate para que um monstro do rock americano brilhe - Steve Cropper, que tocou em duas canções que coescreveu - "In the Midnight Hour", que teve a voz Wilson Pickett, e "(Sitting On) The Dock Of The Bay”, de famosa com Otis Redding.
As duas versões ficaram bastante reverentes, mas exalam um certo frescor justamente por conta da presença de Cropper, um frasista excelente e um mestre da melodia.
Do repertório do Creedence Clearwater Revival ela sacou a bela "Bad Moon Rising", que ficou um pouco mais pesada, só que um groove diferente, mas roqueiro.
O mesmo ocorre em "I Feel The Earth Move", de Carole King, que perde o acento folk para ganhar mais peso e um balanço na linha de baixo - que é o destaque em "The Boss", de James Brown, conduzindo tudo e empurrando a canção.
O clássico eterno "Walking The Dog", de Rufus Thomas, encerra a rápida obra sem grande destaque, atendo-se bem à versão original. Quando Suzi Quatro se diverte no estúdio isso se dissemina em qualquer tocador de música.
- As suecas do Thundermother também aproveitaram a pandemia da melhor forma possível. "Black and Gold", o quinto álbum, é ma das melhores coisas lançadas em 2022: hard rock muito bem feito, pesado, melódico e com certa originalidade, ainda que não deixe as influências de Runaways, Girlschool e Joan Jett, além de um pique à la AC/DC reconhecível.
A produção é excelente e ressalta principalmente as poderosas guitarras, que dão um show em praticamente todo o álbum. São canções fáceis, agradáveis, mas não necessariamente acessíveis.
A primeira música já dá o tom do que vem pela frente. "The Light in the Sky", assim como a abertura do álbum da Halestorm, é forte e pesada, com guitarras espalhando riffs pegajosos e solos incandescentes, típicos daqueles shows em combustão e para levantar o astral de qualquer festa.
Não há alívio no que vem seguida. "Black and Gold" e "Raise Your Hands" recuperam a leveza de um hard rock de certa forma puro e ingênuo, mas energético, como costmavam ser os shows das Runaways.
No quesito sujeira e descarrilamento para o lado mais heavy, temos as ótimas "Watch Out", "Wasted" e "I Don't Know You", esta última uma porrada no queixo.
As letras não são as que costumamos escutar no hard em geral ou nas bandas em que as vocalistas são as protagonistas, escancarando são sentimentos e sua visão meio crua do mundo, como Lzzie Hale ou Amy Lee (Evanescence). Há canção de amor, como a já citada "I don't Know You" a menos interessante "Try for Love", mas o tom é diferente: mais maduro, menos (melo)dramático.
E há as baladas, um diferencial da banda, com uso desmedido de violões, com muito bom gosto. São elas "Stratosphere" e "Borrowed Time", que equilibram o tom confessional e sentimentos mais positivos. Um belo trabalho de rock neste ano.
A formação conta com Guernica Mancini (vocais), ótima em todo o álbum, Filippa Nässil (guitarra) e Emlee Johanson (bateria). A vbaixista Majsan Lindeberg saiu no ano passado, mas registrou sua presença em algumas músicas. Sua substituta é Mona Lindgren.
- Depois de muito tempo em silêncio, eis que a banda Nashville Pussy voltou ao mercado com um disco ao vivo. "Eaten Alive" é interessante, com muita energia, mas não tanto quanto o seminal "Keep on Fucking in Paris", de 2003. oo
Gravado antes da pandemia, em shows de 2019, tem o grande mérito de conter 19 músicas que são um bom resumo do que é o grupo de hard rock mais temido dos Estados Unidos, segundo o próprio vocalista e guitarrista Blaine Cartwright.
E tome sequência alucinante de hits, como "Go, Motherfucker, Go", "Piece of Ass", "We Want a War", "Go To Hell", "I'm the Man", "Struttin' Cock" e vários outros, tudo recheado com muitos palavrões.
O grande destaque é a guitarrista canadense Ruyter Suys, casada com Blaine - formam um dupla infernal, repsonsável pelo conceito de misturar AC/DC com Motorhead, com resultados excelentes. O baterista desde o começo, ao lado do casal, é Jeremy Thompson, e a baixista da vez - a quinta - é Bonnie Buitrago.
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