É hora de celebrar os maravilhosos anos 70 (e também 80) em uma série de lançamentos deste final de ano colocam artistas relevantes do cenário roqueiro em evidência. Do rock puro ao heavy metal, passando pelo hard rock saboroso e estupendo, o que chega ao mercado é de alta qualidade.
"Bagunça" é realmente uma bagunça, mas é uma bagunça contagiante e gostosa. É o mais recente álbum de Pepe Bueno e os Estranhos, uma banda que foi criada na época e década erradas, já que tem os dois pés fincados nos anos 70.
Pepe Bueno nunca se importou com rótulos. Costuma fazer rock puxado para o pop na banda Tomada, onde toca baixo, e um hard rock de ares setentistas no seu projeto solo com a banda Os Estranhos. O som é sempre diferente e, não raro, surpreendente, como foi no último lançamento, “Preces e Tentações”.
Baixista de muitos recursos e com larga influência do rock brasileiro e inglês dos anos 70, Bueno retoma os shows depois da pandemia de covid-19 para divulgar o novo trabalho, o EP “Bagunça”.
Mais do que uma homenagem a uma época de ouro do rock nacional, Pepe Bueno e Os Estranhos fazem uma celebração a si mesmos, já que os shows da banda costumam reunir uma galera imensa de amigos e colaboradores.
O grupo tem referências desde Guilherme Arantes a Rita Lee & Tutti Frutti, passando pelas versões que estão no disco como “Agora Eu Sei”, gravada por Roberto Carlos em 1972, uma versão em espanhol para “Dentadura Postiça”, clássico de Raul Seixas, além de psicodelias e rocks de Pepe Bueno, misturados ao blues, com muita brasilidade.
“Bagunça” é uma delicia e rock retrô, mas agora com mais influências de música brasileira, seja regional, seja de MPB, como comentou o cantor e baixista: “As influências são as mesmas, ainda mantenho a ideia de fazer uma música mais voltada para elementos de um rock mais clássico, mas desta vez acrescentei algumas coisas diferentes.”
O novo EP segue a trilha de “Preces e Tentações”, mas encontramos o artista, aqui, m
ais poético e nem tão orientado para as guitarras. São oito faixas produzidas por Gabriel Martini e Pepe Bueno, e gravadas no Orra Meu Estúdios e no Área 13 Estúdios.
“Discou” é uma das autorais e dá bem a amostra do que Pepe Bueno pretendeu – uma faixa dançante, quase “disco”, mas sem abusar das tralhas eletrônicas. É mais uma homenagem aos anos 70.
“Baião Blues” (escrita por Pepe Bueno/ Xande Saraiva/Chico Suman) é autoexoplicativa, na mistura de rock com baião bem ao gosto nordestino, lembrando as pancadas de um Alceu Valença ou um Zé Ramalho, por exemplo.
“Bagunça” (Pepe Bueno, Marcio Gonçalves e Vagner Nascimento) já nos remete a um som mais moderno, ainda que ainda prevaleça um ar setentista. É um rock mais denso e bel elaborado, com arranjos que capricham na melodia. E tem até rock rural, “Caipira Pira” (Pepe Bueno/Cesar de Mercês), que não é muito a praia de Pepe, mas que ficou muito boa.
As releituras escolhidas surpreendem pelas escolhas, como a balada gravada por Roberto Carlos, “Agora Eu Sei” (Edson Ribeiro/Helena dos Santos). Com delicadeza e uma interpretação mais descompromissada, Pepe Bueno a deixou mais leve.
“Dentadura Postiza” de Raul Seixas, foi gravada em espanhol com a participação do vocalista do Raíces de América Fabian Famin. É a única que soa estranha e muito diferentona, meio que destoado do resto do álbum. Dá uma quebrada no ritmo gostoso de rockão que sempre caracterizou os trabalhos do baixista.
O rock mais pesado aparece em “Nada é Concreto” (Pepe Bueno/ Fabian Famin), que traz riffs interessantes de guitarra e uma interpretação vigorosa de Bueno e participação excelente do violeiro Ricardo Vignini (Moda de Rocl e Matuto Moderno).
A última música, “Coração Devaneio”, possivelmente a melhor do trabalho, tem letra de Xande Saraiva (guitarrista e vocalista do Baranga) e fala sobre desigualdade social, racismo, fome e realidade brasileira sob o ponto de vista de um violeiro do interior, que não tem muita clareza sobre sua própria ideologia, ao mesmo tempo anda pelo país todo apenas vivendo e cantando: “Viajando no mundo / Pouco sonhos na vida / Hoje não comeu nada / Mente evoluída / Minha música não é de branco / Não é de preto / Minha música é coração devaneio.”
Veterano músico paulista e amante do blues, Kim Kehl ressurge com sua banda, os Kurandeiros, e lança "Cidade Fantasma", uma coleção de canções que resume bem mais de 30 anos de carreira, reunindo muitas influências e um instrumental forte e bem calibrado.
Curtinho, o EP é eficiente e agrada com músicas positivas e alegres como "Noite de Sábado" e "Cidade Fantasma", que funcionam bem ao vivo.
Kim é um bom guitarrista que passeia com desenvoltura neste mundo retrô, tendo colaborado com muita gente importante, como Made in Brazil, entre outros nomes, e faz um som bastante clássico e com um certo peso, com os anos 70 grudados em sua testa e incrustados na guitarra.
Em uma grande homenagem, o cantor Percy Weiss renasce em um CD histórico resgatado pela loja de CDs e gravadora Die Hard, de São Paulo.
Morto em um acidente de carro em 2015, Percy cantou no Made in Brazil e em outros grupos fantásticos dos anos 70 e deixou algumas gravações quase finalizadas, quase todas em parceria com o parceiro Theo Godinho (ex-A Chave do Sol), morto em 2010 em razão de um câncer.
O álbum póstumo chama-se "Percy's Band", creditado à Percy's Band, o último projeto do cantor. os produtores do álbum optaram or mexer o menos possível nos áudios para manter a fidelidade que o cantor imaginava ser o seu som do século XXI.
Por se tratar de um trabalho ainda em progresso, há uma certa irregularidade, o que não interfere na relevância do lançamento. Há boas ideias como "Coração Versus Razão", que tem um solo de Robertinho de Recife, "Eu Não Presto", um quase blues dramático, e "Perdi o Controle", a melhor faixa, um rockão explosivo.
Na área do metal oitentista, eis que surge um trabalho há muito aguardado. "1982-1987" recupera algumas gravações do Santuário, importante banda originada em São Vicente (SP) e que sempre teve a condução do guitarrista e vocalista Ricardo "Micka" Mickaelis, hoje um renomado publicitário.
O Santuário era da mesma estirpe de bandas como Centúrias, Harppia, Vírus, Taurus e outras que movimentaram a cena em São Paulo e Rio de Janeiro. O projeto surge dentro da série "Memóris Metálicas" da gravadora Classic Metal.
Com produção impecável, o material aparece em vários formatos e ainda vem acompanhado de um documentário fundamental sobre a trajetória da banda e imagens/informações sore a histórica turnê pela Colômbia em 1986, com depoimentos do cantor Nilton Zanelli, do Centúrias, que esteve naquela formação. material indispensável para a história do rock e do metal nacional.
Voltado aos anos 70, quem está de volta é a banda Casa das Máquinas, que foi um dos principais nomes do rock progressivo brasileiro. Depois de 46 anos, o grupo lança um álbum com material inédito, "Brilho nos Olhos", que chega nas plataformas digitais e também em LP e CD e com uma música extra num compacto de 7 polegadas.
Ainda que não tenha a mesma inspiração dos dois trabalhos anteriores, lá da década de 1970, o novo disco é muito bom. "A Rua" é uma canção sólida, com letra nostálgica e inteligente, assim como "Horizonte", uma legitima música prog nacional. As duas já tinham sido lançadas antes, como singles.
Outro bom momento é "Ato Lisérgico", composta por Kiko Zambianchi especialmente para a banda. Além do disco, a banda lança também um compacto em vinil 7 polegadas com mais uma música extra: o single "Recomeçar", talvez a melhor música dessa nova safra da banda.
A banda encerrou suas atividades em 1977 e retornou aos palcos em 2007, mas sem trabalhos inéditos. Atualmente a Casa é formada pelo membro original Mário Testoni (voz e teclados), Cadu Moreira (voz, guitarra e violão), Geraldo Vieira (voz e baixo), Lucas Tagliari (bateria) e o novo vocalista, Rodrigo Grecco, que substituiu Ivan Gonçalves, que gravou o disco. O retorno da Casa das Máquinas às composições é uma grande notícia em 2022.
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