sexta-feira, 21 de outubro de 2022

Versão 'Super Deluxe' de 'Revolver' reforça a genialidade dos Beatles

Quando os Beatles lançaram "Rubber Souol, em dezembro de 1965, John Lennon foi perguntado por um repórter o que significada "Norweggian Wood", uma canção de inspiração folk e belíssimos arranjos de guitarra e cordas. Tudo muito diferente do que a banda já tinha feito anteriormente.

Naquele momento, Lennon não tinha revelado que era uma música cifrada a respeito de um de seus muitos casos de infidelidade, mas deu uma resposta crua e e direita. "Estamos avançando e melhorando. Evoluímos. Não dá para escrever 'Love Me Do' [música do primeiro disco, de dois aos antes, mas lançada em single ainda em 1962]."

A imprensa não tinha ideia do quanto a banda estava evoluindo, a ponto de mudar definitivamente a história da música e das técnicas de se gravar qualquer coisa. Na verdade, nem eles mesmos tinham ideia do quanto eram revolucionários.

"Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band", de 1967, é considerado o melhor disco de todos os tempos, mas cresce a parcela de fãs e críticos que afirmam categoricamente que "Revolver", de 1966, é o melhor e mais importante da maior de todas as bandas. 

Com atraso, a versão "Deluxe" de "Revolver" foi lançada, e sem muito estardalhaço, com quatro CDs. Contém versões diferentes das canções do disco, com outras mixagens e versões demo. Sem muita novidade para os fanáticos (tudo já saíra em edições piratas), mas ainda assim é instigante.

Originalmente lançado em 5 de agosto de 1966, o álbum passou sete semanas no número um na parada de álbuns do Reino Unido, enquanto um single duplo do lado A, com "Eleanor Rigby" e "Yellow Submarine", liderou a parada de singles no país por quatro semanas em agosto e setembro. 

Para variar, a versão americana foi mutilada, já que “I’m Only Sleeping”, “Doctor Robert” e “And Your Bird Can Sing” foram escolhidos para o lançamento de junho anterior da coletânia "Yesterday and Today".

As caixas "Super Deluxe" em CD e vinil incluem um prefácio de Paul McCartney, uma introdução de Giles Martin (filho do produtor George Martin, morto em 2016) , um ensaio do baterista do The Roots, Questlove, e um longo ensfaio do historiador dos Beatles Kevin Howlett.

O material também traz fotos raras e inédit19as e imagens de memorabilia (letras manuscritas, caixas de fitas, folhas de gravação, anúncios impressos) e trechos da graphic novel de "Voormann, o nascimento de um ícone: REVOLVER". 

Klaus Voorman, artista plástico e músico alemão, conheceu os Beatles quando a banda tocou em Hamburgo, cidade portuária alemã, entre 1960 e 1962. Perdeu a namorada, a fotógrafa Astrid Kirchher, para o então baixista Stu Sutcliffe na época, mas ficou amigão de Lennon. Fez a capa de "Revolver" e chegou a tocar baixo na banda solo do beatle no final dos anos 60.

Tudo é muito caprichado a ponto de reacender o interesse pelo álbum e pelas magias que cometiam no estúdio ao lado de George Martin e a equipe dos estúdios de Abbey Road, em Londres.

Foram nas gravações do disco que surgiram algumas inovações aparentemente inocentes, mas que fizeram toda a diferença, como os tape loops, double tracking automático, microfonação próxima da bateria e dos instrumentos diversos e fitas reversas.

Antes mesmo que as bandas de rock progressivo invadissem a área, os Beatles inventaram a utilização de quarteto de cordas em "Yesterday", no ano anterior, e repetiriam a dose, com um octeto, em "Eleanor Rigby", além de criar toda uma ambientação para pérolas como "Here, There, and Everywhere", ou a descoberta de timbres inusitados como em "And Your Bird Can Sing", "Taxman", "Good Day Sunshine" e "Got to Get You Into My Life".

O auge foi em "Tomorrow Never Knows", onde os quatro beatles perturbaram George Martin para acrescentar inúmeros efeitos sonoros. Lennon quis testar a paciência de Martin ao "exigir" um coro com mil monges tibetanos. Diante da impossibilidade, deixou a cargo do produtor "resolver" o problema. O resultado foi uma das maiores engenharias musicais de todos os tempos.

O engenheiro Geoff Emerick, aos 21 anos, mas desde os 17 em Abbey Road, foi o engenheiro de som e aquele foi o seu primeiro trabalho com os Beatles. Em seu livro sobre a convivência com os quatro, contou que aquele disco "mudou a maneira como todos os outros faziam discos". 

O álbum recebeu nova mixagem estéreo criada a partir das fitas master originais de quatro faixas de gravação, o que foi possível devido aos avanços na tecnologia de desmixagem desenvolvida pela equipe de Emile de la Rey na WingNut Films, de Peter Jackson (que demonstrou esse trabalho impressionante no documentário "Get Back", de 2021). 

Além de nova mixagem, os formatos Super Deluxe incluem o mix mono original de 1966 proveniente das fitas master originais; 28 tomadas iniciais e alternadas; três demonstrações em casa; e um EP de quatro músicas com novas mixagens estéreo e as mixagens mono originais para o single não-LP “Paperback Writer” b/w “Rain”.

Foi criado também um novo mix surround em Dolby Atmos, mas pela primeira vez o mix surround é apenas digital e não será incluído em um pacote físico. 

Para os curiosos, há tales diversos das canções do álbum despidos da produção grandiosa de Martin, em versões iniciais ou de ensaios simples; há oytos takes com mixagem diferente, com arranjos diferentes e leves alterações.

Os chamados discos "Sessons" apresentam mais de duas dúzias de takes raros e inéditos que exploram o making of das canções, como a primeira tomada dos Beatles de “Tomorrow Never Knows”, da sessão de 6 de abril de 1966. Outra preciosidade é uma mixagem mono alternativa que foi lançada em um pequeno número de álbuns antes de ser recortada com a mixagem adequada.

"Taxman", de George Harrison, aparece com letras alternativas e John e Paul nos vocais de fundo em falsete. A primeira versão de "Got to Get You Into My Life", ou pouco diferente, divide espaço com uma mixagem especial enfatizando os overdubs de metais.

"Yellow Submarine" surge bem diferente, com uma mistura de seus efeitos sonoros inusitados; as duas primeiras tomadas da faixa "Paperback Writer", lançada antes, em single, são verdadeiras raridades, assim como duas versões de "Rain", lado B da canção anterior (as duas não entraram no álbum original).  

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