Marcelo Moreira
A moca odiava quando a plateia se manifestava nos cinema, fosse qual fosse o filme. É comum no Brasil gente aplaudir finais felizes e gritar quando o vilão apanha u morre. Só que desta vez foi diferente, porque ela fez questão de aplaudir de pé.
Em uma sala de cinema de um shopping em bairro nobre de São Paulo, com uma trilha sonora com Caetano Veloso, Erasmo Carlos e Tim Maia, todo mundo vibrou e lavou a alma depois de mais uma sessão lotada.
“Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles e com a “nova” musa, Fernanda Torres, reforçava a crença de que era um antídoto para mal em forma de força sociopolítica que teima em nos assombrar nestes tempos difíceis e estranhos.
No táxi, a caminho de m bar de rock em Pinheiros ao lado de uma amiga, a moça escutou a notícia no rádio do carro. de que duas pessoas morreram em um ataque a m assentamento do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) em Tremembé (Vale do Paraíba). Na sequência, começou a tocar “Até Quando Esperar”, da Plebe Rude. JNão poderia ser mais sincronizado...
“Nunca estive tão pessimista como agora”, comentou o taxista, ex-eleitor de Jair Bolsonaro, o nefasto ex-presidente. “Todo mundo quer resolver as coisas na bala e no golpe. Eu vivi a ditadura e sei como foi ruim. Só vejo retrocesso. Lula ter ganho foi um milagre...”
Retrocesso parece ser a palavra do momento. Fernanda Torres saboreia o seu o prêmio de melhor atriz dramática no Globo de Ouro em Los Angeles, em pancada violenta nos fascistas extremistas de direita “viúvas” da ditadura militar. Só que aqui no Brasil a bala come solta;
Enquanto parlamentares da pior espécie insistem na anistia aos terroristas de 8 de janeiro de 2023, as polícias militares de todo o Brasil continuam matando indiscriminadamente.
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FOTO:: M,ARCELO MOREIRA |
Em São Paulo, o número de mortes de pessoas em confronto com PMs, ou envolvendo-os, aumentou 60% entre janeiro e novembro d 2024, na comparação com igual período do ano anterior. O governador. Tarcísio de Freitas (Republicanos), é bolsonarista e expoente da extrema-direita.
Além do atentado contra os sem-terra em Tremembé, houve pelo menos dois ataques a indígenas em suas terras nos últimos 30 dias, sendo o mais grave em Guaíra, no Paraná, deixando quatro feridos a tiros. Nas redes sociais, parlamentares fascistas culpam as vítimas e são aplaudidos, inclusive por artistas de rock.
Nunca é demais lembrar que um expoente do rock reaça brasileiro “culpou” o ex-deputado Rubens Paiva, assassinado pela ditadura militar, pela própria “morte” em discussão pelas redes com Marcelo Rubens Paiva, filho do assassinado e escritor autor do livro que inspirou o filme “Ainda Estou Aqui”.
Os ataques a bala contra movimentos sociais e indígenas dão o tom de como será 2025, um ano em que os extremismos retrógrados, perigosos e assassinos pretendem avançar, como nos casos dos totalitários ditadores Vladimir Putin (Rússia) e Nicolás Maduro *Venezuela).
É o ano em que Donaldo Trump, novo presidente dos Estados Unidos, pretende empestear o mundo com o lixo que costuma vomitar, apoiado por seres deploráveis como Bolsonaro e Javier Milei (Argentina), gente que semeia o ódio e a violência.
Chegando ao bar de rock em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, a moça que ilustra o começo do texto pediu uma cerveja importada e se juntou aos amigos que a esperavam em um animado papo sobre as chances de “Ainda Estou Aqui” vencer o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e de Fernanda Torres, o de Melhor Atriz.
Todo mundo exaltava o filme e o que ele representava nestes dias tão complicados de guinadas à direita. E então ela ouviu, na mesa ao lado, um cidadão grande e gordo, de meia idade, com camisa preta do Metallica, falar alto o suficiente para que ela e seus amigos escutassem – e bem no momento em que o som ambiente tocava “London Calling”, de The Clash: “A polícia fez bem em atirar nos invasores sem terra e na menina na zona leste. Tudo bandido” – ele se referia a uma garota de 16 anos morta por um disparo “quase acidental” da arma de um PM.
“O retrocesso é evidente e preocupa muito, mas não é só isso”, comentou a moça comigo. “´E uma questão de falha ou falta de caráter. É uma doença grave essa que acomete a nossa sociedade e a última eleição mostrou isso. Até quando vamos esperar?”
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