Marcelo Moreira
O baterista inglês Bill Bruford já tinha decidido sair do Yes enquanto gravava o álbum “Close to the Edge”, em meados de 1972. Não tinha mais paciência coma falta de coleguismo e o hermetismo desnecessário dos integrantes ,algo que soava presunçoso e prepotente.
“Tudo era difícil, tudo precisava ser debatido, era necessária uma assembleia para decidir de tocaríamos em si ou em lá. Isso me irritava”, comentou o músico em entrevista à revista “Classic Rock nos anos 90. “No entanto, ‘Close to the Edge’ é um disco sensacional, foi uma bela despedida para mim”.
O sempre crítico Bruford, hoje aposentado, mas cada vez mais ácido ao comentar sobre os ex-colegas, teve de se render ao disco que é a obra máxima do Yes, lançado em 1972. Era o auge do rock progressivo na Inglaterra e reunia tudo o que o gênero pregava – inteligência, virtuosismo e muito conhecimento, mas também prepotência, autoindulgência e muita arrogância.
O quinto álbum do Yes foi o segundo e último a reunir a formação clássica – Jon Anderson (vocais), Steve Howe (guitarra), Chris Squire (baixo), Bill Bruford (bateria, que seria substituído no fim daquele ano por Alan White) e Rock Wakeman. Completou 50 anos em 2022,mas só agora a edição comemorativa hegará ao mercado.
A edição de luxo de “Cloqse to the Edge” terá cinco CDs, um disco e vinil e um Blu-Ray, sendo que parte das músicas foi remixada pelo músico inglês Steven Wilson, do Porcupine Tree, responsável pelo mesmo tratamento de clássicos do Jethro Tull e The Who, entre outros.
Como é praxe nestes lançamentos, haverá muitas faixas nunca lançadas, entre versões demo, com mixagens diferentes e apenas instrumentais. Não haverá canções inéditas, mas o material de arquivo é suculento. Os dois últimos CDs registram uma apresentação ao vivo do Yes no Rainbow Theatre, em Londres ainda em 1972 com trechos do álbum.
Por mais que fosse moda, o rock progressivo causava arrepios nos executivos de travadora naquele ano mágico. As inovações/invenções era tidas como maluquices anticomerciais, por mais que os números de Pink Floyd e do próprio Yes desmentissem as afirmações de que aquelas bandas não vendiam.
Foi uma uma luta para conseguir convencer a gravadora a aceitar um lado A de vinil/LO com apenas uma música, de longos 18 minutos e cinco suítes – a maravilhosa faixa-título. Também houve muita batalha para emplacar “And You and I”, de mis de nove minutos, uma das canções mais belas de todos os tempos. “Siberian Khatru”,a terceira e última canção da obra, tinha quase oito minutos...
Se fosse possível resumir o rock progressivo em apenas um álbum, poderia ser “Close to the Edge”, em todos os sentidos, ao lado de “The Dark Side of the Moon”, do Pink Floyd. Em meio a altas doses de presunção e uma aspiração latente de se aproximar do mundo erudito, o álbum tem composições sublimes e execuções instrumentais de excelência.
Entre a precisão e a perfeição, a guitarra de Steve Howe estabeleceu parâmetros surpreendente ao criar, em uma mesma canção, solos variados e e climáticos, em parceria extraordinária com os teclados multidimensionais de Wakeman, que soam exuberantes nas três músicas.
Menino prodígio das teclas, Wakeman tina formação erudita e uma irreverência acima do tom. Não perdia a piada e não poupava nem a sim mesmo. Odiava a sisudez da música clássica, mas ainda mais a falta de noção dos companheiros, que se achavam dignos de serem equiparados a os gênios como Mozart e Beethoven.
Tinha chegado no anterior, para o álbum “Fragile”, substituindo o pouco ambicioso Tony Kaye. Sairia pela primeira vez no começo e 1974 para uma estrelada carreira solo. “Os caras se levavam a sério demais, não havia bom humor. Achavam que iriam mudar o mundo”, reclamou o tecladista em uma entrevista nos anos 2000, mas com bom humor. “Preferia viajar nas turnês no ônibus das bandas de abertura, como o Black Sabbath, que em que os caras bebiam todas, como eu.”
Com Rick Wakeman, o som, do Yes cresceu, e muito. Incorporou a exuberância que o tecladista já mostrava na sua banda anterior, The Strawbs O som preencheu todo o ambiente e ofereceu à banda novas possibilidades sonoras e melódicas, além de fazer cresce também o baixo onipresente de Squire.
Wakeman faz muita diferença no álbum. É impossível imaginar “And You And I” sem seus teclados e toa da ambientação climática que criou. É considerado um dos principais arranjadores do rock.
Se o disco concentra alguns dos pecados atribuídos ao rock progressivo, serve, por outro lado, como exemplo maior do quão maravilhoso é esse subgênero do rock, demonstrando como presunção e prepotência, com doses fartas de arrogância, podem criar coisas ótimas.
CD 1 & LP – 2025 Remaster:
1. Close To The Edge
I. The Solid Time Of Change
II. Total Mass Retain
III. I Get Up I Get Down
IV. Seasons Of Man
2. And You And I
I. Cord Of Life
II. Eclipse
III. The Preacher The Teacher
IV. Apocalypse
3. Siberian Khatru
CD 2 – Steven Wilson 2025 Mixes
Remix:
1-3 – mesmo conteúdo do CD 1
Instrumentals:
4-6 – mesmas faixas sem os vocais
CD 3 – Rarities:
1. America (single version)
2. Total Mass Retain (single version)
3. And You And I (promo radio edit)
4. Siberia (studio run-through of "Siberian Khatru")
5. Close To The Edge (rough mix)
6. And You And I (alt. version)
7. America ("Dry" mix)
Steven Wilson edits:
8. Siberian Khatru
9. Cord Of Life
10. Total Mass Retain
CD 4 – Live At The Rainbow, London, England, December 16th, 1972 – part 1:
1. Siberian Khatru
2. I’ve Seen All Good People
a. Your Move
b. All Good People
3. Heart Of The Sunrise
4. And You And I
I. Cord Of Life
II. Eclipse
III. The Preacher The Teacher
IV. Apocalypse
5. Close To The Edge
I. The Solid Time Of Change
II. Total Mass Retain
III. I Get Up I Get Down
IV. Seasons Of Man
CD 5 – Live At The Rainbow, London, England, December 16th, 1972 – part 2:
1. Excerpts From "The Six Wives Of Henry VIII"
2. Roundabout
3. Yours Is No Disgrace
4. Starship Trooper
a. Life Seeker
b. Disillusion
c. Würm
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