Quando um trio de malucos de uma cidade inglesa chuvosa e fria decidiu blasfemar nos anos 80, jamais imaginaria que daria origem a um subgênero maldito e, mais ainda, cultuado por amantes de rock mais extremo.
Foi um disco do Venom, de Newcastle, norte inglês, que deu origem a um subgênero mais pesado, insano e infame (no bom sentido): black metal. A intenção era apenas blasfemar e criticar pesadamente a religião, em especial o cristianismo e todo tipo de dogma religioso. Eram os dourados e acelerados anos 90.
Por ser uma vertente mais extrema, de barulho absurdo e devastador, aliados ao conteúdo radical e iconoclasta, o black metal se tornou algo maldito, mas pelos motivos errados.
É altamente louvável que faça a crítica necessária a qualquer tipo de religião e suas consequências – a religião, qualquer uma, descontadas suas explicações teológicas e antropológicas, é um câncer para a humanidade.
Entretanto, justamente por seu extremismo sonoro e de mensagem, atraiu todo tipo de fanático, da política ao comportamento mais enviesado. Não é difícil entender como o black metal atraiu nazistas, neonazistas, fascistas e terroristas de extrema-direita – da mesma forma que vertentes mais obscuras do punk e hardcore abrigam todo tipo de nazistas,
Essa coisa de apropriação cultural é um perigo, seja por existir de forma mais forte hoje em dia, seja pelo fato de que muita gente insiste em ignorar. Não dá para dizer que é mimimi os negros protestarem pela suposta apropriação cultural do rock pelos brancos; não dá para aceitar passivamente a apropriação da camisa amarela seleção brasileira pelos fascistas/extremistas de direita bolsonaristas.
Sendo assim, é triste ver que o black metal tenha sido tomado por criminosos e desequilibrados, como ocorreu na Noruega entre 1990e 1993. E, neste século, o black metal foi tomado por toda uma escória de nazistas em várias partes do mundo.
A prisão de um neonazista em Almirante Tamandaré, no Paraná, associou novamente o subgênero ao fascismo e ao extremismo de direita. O dejeto humano, que não teve o seu nome revelado, era produtor musical e disseminava música black metal com conteúdo criminoso neonazista.
É claro que os apressados e os comunicadores de caráter duvidoso logo associaram o black metal ao nazismo e ao fascismo. Essa postura asquerosa, infelizmente, ainda predomina e, no extremo, acaba vinculando o som mais pesado a esse conteúdo político extremista e altamente perigoso.
Nestes tempos perigosos, precisamos redobrar os cuidados para não cair nas armadilhas das fake News deliberadas com a intenção de manipulação.
O verdadeiro black metal é uma legítima expressão cultural e musical , com relevância em muitos círculos roqueiros e, mais ainda, relevante no conteúdo contra religiões e seitas da pior espécie.
No fundo, a defesa do black metal, quem diria, torna-se necessária por conta da nojenta apropriação cultural, algo que pode contaminar toda a cena roqueira.
Black metal nacional dominada por nazistas parece coisa de lunático e de contos de terror, mas não nos iludamos: os extremistas do fascismo não têm pudores de tomar conta de tudo e usar coisas decentes para cometer crimes e disseminar lixo.
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