sábado, 2 de janeiro de 2021

Grave Digger e seus 40 anos de aulas de história no heavy metal

Marcelo Moreira




Aulas de história em CDs e shows de heavy metal não são novidade desde que o Iron Maiden decidiu falar do Egito antigo em "Powerslave", de 1984. Outras bandas decidiram ir pelo mesmo caminho, até mesmo um pouco antes do então quinteto britânico, mas ninguém foi tão longe quanto a banda alemã Grave Digger, um dos pilares do heavy tradicional da Alemanha.

São 40 anos de música pesada e violenta para contra fatos históricos importantes ou não tão conhecidos, tudo sob a coordenação do vocalista Chris Boltendahl, o único que participou de todos os discos e formações.

Do heavy quase speed metal dos primeiros tempos até o som pesado mais elaborado e sofisticado dos anos 90 foi um verdadeiro parto, com direito a uma desastrada mudança de nome - virou Digger pra se adaptar ao mercado norte-americano, com um som mais comercial -, retorno ao nome antigo e a uma nova direção musical. 

E então veio uma saga de álbuns conceituais e que tornou a banda uma celebridade na Alemanha e na Europa. "Heart of Darkness", de 1995, era um CD baseado no livro fantástico chamado "No Coração das Trevas", de Joseph Conrad, que também serviu de base para o filmaço "Apocalypse Now", de Francis Coppola.

A banda pegou gosto e investiu em temas históricos, como "Excalibur", contando a saga do Rei Artur, na Inglaterra, "Knights at the Cross", sobre os Cavaleiros Templários, da Idade Média, até chegar a dois álbuns dedicados à história da Escócia - "Tunes of War" e "The Clans Will Rise Again" -, os maiores sucessos da carreira do Grave Digger.

Ao longo dos últimos 25 anos, que inclui um álbum duplo gravado ao vivo em São Paulo, Boltendahl escreveu ainda sobre a Grécia Antiga, sobre os romanos e sobre lendas históricas dos povos germânicos, mas não resistiu ao chamado dos clãs e novamente voltou à Escócia para escrever sobre as guerras contra os ingleses para manter a sua independência nos séculos XIII e XIV.

"Fields of Blood", lançado em 2020, comemora os 40 anos da banda. É um bom álbum, com todos os ingredientes que a música pesada da banda sempre teve, mas fica estampado um certo esgotamento da fórmula histórica. 

A banda aparece reciclando temas musicais já exaustivamente resgatados e mostra certo cansaço e pouca inspiração. É mais do mesmo? Até certo ponto sim, o que não chega a inviabilizar o trabalho. 

O DNA da banda está ali, com as guitarras pesadas e bem timbradas, mas a originalidade, infelizmente, ficou lá nos anos 90, nas duas primeiras partes da histórica escocesa.

Ainda assim, é uma banda bacana de ouvir e é legal saber que Boltendahl e seus colegas mantêm o fôlego para mostrar ao mundo a história por meio de heavy metal - cultura e conhecimento são cada vez mais necessários nestes tempos de trevas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário