segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Pandemia é mais uma prova de resistência para o rock

 Marcelo Moreira 



Por que estamos gostando cada vez menos de rock?

Por duas vezes, mas de formas diferentes, eu me deparei com questionamentos desse tipo nas redes sociais neste começo de 2021.  Não consegui determinar a origem de tais pensamentos e nem o que os motivaram, mas bastaram para incendiar algumas comunidades de roqueiros pelo mundo afora.

Ainda embalados pelo "cancelamento" da banda Iced Schaffer, cujo líder estava na invasão do Congresso americano e está sendo procurado pelo FBI, muitos tontos defendem que o rock está morto, e que a constante guinada conservador que toma conta do gênero em muitos lugares justifica a sua "morte".

A pandemia de covid-não 19, por sua vez, não ajudou em nada para dissipar essa conversinha mole. Afinal, bradam os detratores, onde está a atitude dos roqueiros, sobretudo no Brasil?, Cadê a rebeldia? Cadê a contestação?

Os frequentes choramingos de músicos de rock no Brasil por conta da "falta de trabalho", com críticas veladas às cada vez mais necessárias medidas de isolamento e confinamento social, reforçam essa percepção de que muitos artistas, em quantidades alarmantes - muito maiores do que poderíamos esperar - estão na contramão da história e parecem ignorar a gravidade do momento em que vivemos.

Ainda assim, de onde vem essa percepção de que o rock morreu ou está morrendo? Por que tanta gente, inclusive roqueiros, anseia para que isso aconteça? Por que essa "torcida"?

O rock foi, sem dúvida, o maior prejudicado com as mudanças de hábitos de consumo de música e arte e com a derrocada da indústria fonográfica como a conhecíamos. 

Assim como jornalismo noticioso, a música ficou grátis, de muito fácil acesso, fazendo com que gerações de pessoas a partir dos anos 90 se recusasse a pagar por música e pela maioria dos conteúdos de internet. 

Esse avanço da tecnologia, aliado à miopia da indústria da música e à intensa pirataria, tornou a música algo fácil e de de nenhum valor. 

Hoje o comprometimento das pessoas com a arte é nenhum, ouve-se música no celular pagando meros R$ 17 por mês. Ninguém se preocupa mais com as informações sobre os artistas ou fichas técnicas.

 Diante dessa mudança de hábitos de consumo, o rock perdeu espaço e a tendência é virar música de nicho, como o blues e o jazz, coisa meio que para iniciados. 

Não vai morrer, pois sua força e resiliência são imensos, mas deixou de ser a música da juventude, rebelde e com atitude, de contestação, como uma vez o blues já foi. O rock não predomina, mas tem alguma força nos Estados Unidos e na Europa. 

No Brasil, sempre foi coisa de classe média, e só se popularizou nos anos 80 porque era uma época propícia a mudanças. A juventude daquela época queria mudar, e a trilha sonora tinha ser coisa nova, e não a fossilizada MPB de então ou os enterrados Tropicalismo e Bossa Nova. 

Quando os ventos da mudança passaram, a juventude gradativamente passou a se desinteressar do rock em favor de outros gêneros mais alinhados ao gosto popular brasileiro e às raízes de nossa cultura. 

Aquele gênero de classe média importado do Norte perdeu visibilidade e apelo, deixou de falar com a juventude dos anos 2000 e ficou tocando para ele mesmo. 

Talvez o rock hoje tenha o tamanho que sempre deveria ter tido para evitar um tombo tão grande. O rock não vai morrer, está se reinventando, mas não será grande novamente.

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