Marcelo Moreira
As imagens são chocantes, tanto pelo racismo explícito como pela "normalização" que a sociedade faz em situações diárias semelhantes neste país asqueroso.
Em uma rua de Santos (SP), um policial militar resolve abordar, do nada, um jovem negro que apenas passava perto. Surpreso, o jovem tenta argumentar e o PM simplesmente diz: "Tu tem cara de ladrão". E decide tentar revistar e "analisar" os documentos do cidadão.
Tudo muito simples, rápido e "eficiente". E ninguém se levantou contra tal postura racista e abusiva.
Depois que as imagens ganharam as redes sociais e geraram reportagens "indignadas" em quase todas as emissoras de TV e portais de internet, os comandantes estaduais da PM e os locais, em Santos, disseram "que não compactuam com comportamentos como esse e que os policiais serão afastados até que haja uma investigação".
Uma resposta meramente protocolar, que não dá em nada e que apenas reforça o que todos sabemos: os PMs que cometeram tal atrocidade serão perdoados, quase sempre por "falta de provas", e voltarão ao trabalho como se nada tivesse acontecido.
E mais uma vez será reforçada a imagem da corporação como tolerante aos desvios de conduta, às posturas autoritárias, de teor fascista e, principalmente, a de uma entidade que apoia a impunidade, como ocorre em tantos casos em que policiais militares assassinam cidadãos inocentes, quase sempre negros e pobres.e r
O flagrante abusivo e racista em Santos ganha contornos catastróficos quando vêm à tona informações sobre um projeto de lei, na Câmara dos Deputados, que pretende diminuir e até retirar o comando das PMs de governadores e transferir tão "controle" para a o governo federal, embora não fique claro como isso ocorreria e quem comandaria.
Entretanto, o que fica claro é que a intenção do ser execrável que pretende propor tal barbaridade e facilitar a blindagem dos PMs envolvidos em qualquer crime, especialmente homicídios, além de facilitar a existência de uma "milícia" armada oficial de apoio ao nefasto presidente Jair Bolsonaro, figura absurda e execrável que é incompetente, ignorante, autoritário, racista, genocida e fascista.
Não é segredo que os PMs de todo o país,em sua grande maioria, apoiam Bolsonaro e sua agenda política medieval e nojenta, para não falar de total estímulo à violência, principalmente a institucional.
Não é por outro motivo que o governo federal quer aprovar o quanto antes a questão do excludente de ilicitude, que alivia e até isenta policiais em casos de violência, especialmente envolvendo homicídios.
Motins de PMs em vários Estados, como Ceará e Espírito Santo, deixaram claras as motivações políticas de gente que deveria estar presa e condenada.
Policiais estaduais de cunho militar comandados por Bolsonaro representam o perigo da existência de uma milícia disposta a garantir um eventual (provável?) golpe de Estado em 2022 para perpetuar o grotesco e ignorante preside a ente no poder.
A relação entre a piora dos índices de violência policial e o agravamento das condições socioeconômicas no Brasil mostram não só a divisão aparentemente inconciliável em nossa sociedade que aprofundam o abismo em que nos metemos em um momento em que até os mais pobres e vulneráveis manifestam apoio ao caos bolsonarista. É o cachorro apoiando a "carrocinha", o boi apoiando o matadouro.
As PMs estão matando mais em todo Brasil, em especial em São Paulo e no Rio de Janeiro, segundo pesquisas de todos os órgãos relevantes de defesa dos direitos humanos, com base nos próprios números das Secretarias Estaduais de Segurança Pública.
Isso é reflexo direto do empoderamento dos agentes de segurança, ávidos pela implantação de medidas fascistas vomitadas por dejetos humanos de extrema-direta. Esse empoderamento ocorreu a partir de 2019, com a posse de Bolsonaro, sujeito desprezível que não dá a mínima para a vida.
Portanto, faz bastante sentido que ainda tenhamos episódios frequentes de racismo dentro de uma cultura autoritária e repressiva que empoderou os agentes de segurança.
É uma cultura de inspiração fascista que estratifica a sociedade e solidifica os privilégios dos privilegiados, com seus lacaios fardados agindo como cães de guarda e fazendo questão de evidenciar aos pobres e negros que eles são pobres e negros, e sempre o serão, devendo obediência e subserviência ao "patrão".
A perpetuação dessa sociedade desigual e brutalmente violenta é o projeto de vida e de poder de gente asquerosa como o atual presidente e os grupos nojentos que o apoiam.
Para essa gentalha, a "cara de ladrão" define a maioria da população e consolida a estratificação de nossa sociedade, seja erguendo muros, seja aprofundando fossos e agravando a violência.
O racismo de Santos é só mais um ingrediente na receita golpista que já está sendo armada pelo bolsonarismo mais do que indecente e que flerta com o desastre. Lamentavelmente, estamos sencdo tolerantes e coniventes com esse mundo bizarro em nosso país.
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