terça-feira, 19 de janeiro de 2021

O inimigo ao nosso lado: como combater o fascismo que se espalha em nosso ambiente?

Marcelo Moreira

"Nos Estados Unidos as coisas se resolvem rapidamente. Basta um rifle e os baderneiros somem. Aqui no Brasil a Justiça é a favor do crime, da bagunça e da oposição."

As frases acima poderiam muito bem terem sido escritas em redes sociais de artistas descomprometidos com a sociedade e sedentos por medidas fascistas, como certo vocalista de banda engraçadinha dos anos anos 80 ou artista solo da mesma época com inclinações selvagens no nome. Isso não surpreenderia.

E certamente serviria de lema para a malta de terroristas covardes e nojentos que tentaram invadir o Congresso americano há quase duas semanas.

No entanto, foi proferida - e curtida por muita, mas muita gente - por um cidadão irascível, mas que não tinha mostrado inclinações para o extremismo. É um bom baixista e um guitarrista de bons recursos, de certo prestígio no meio roqueiro paulista, completamente equivocado em relação a tudo na vida.

Assim como em outros momentos em que identifiquei certas nojeiras em fóruns, chats, comentários em posts e mesmo textos nas redes sociais, não escancaro o(s) nome(s) do(s) imbecil(cis) para não dar palanque a essa gente nojenta. Uso essas "pesquisas", digamos assim, para refletir que tipo de rock nacional temos na segunda década do século XXI e como pensam esses supostos roqueiros.

É claro que, em caso de crime, como racismo, o autor seria denunciado às autoridades, mas ainda não tive o (des)prazer de me defrontar com algum caso nível.

A questão é que, quanto mais o governo nefasto de Jair Bolsonaro se esfarela na incompetência e nas abundantes denúncias de corrupção, autoritarismo e destruição de direitos e do meio ambiente, mais gente começa a sair do armário para defender o fascismo nos meios cultural e musical.

Não dá para saber se está aumentando o número de seguidores do bolsonarismo asqueroso (redundância) e ou se cresce, na verdade, q quantidade de gente que resolveu sair do armário, seja po desespero ou indigência intelectual, para se revelar apoiador de primeira hora.

O tal baixista/guitarrista não só surpreende por aderir publicamente ao extremismo de direita como por demonstrar apoio a causas indefensáveis.

Percebo, depois de muito tempo, que tal cidadão é evangélico, e de uma denominação das mais pútridas, nefastas, fisiológicas e criminosas que existem por aí - é o tipo de seita que queima o filme das agremiações sérias e respeitáveis desses espectro religioso.

FOTO: REPRODUÇÃO/YOUTUBE

Antiaborto e fervoroso defensor da violência praticada por religiosos contra a menina de dez anos que engravidou do tio no Espírito Santo - e que abortou com autorização da Justiça -, chamou a atenção  por aplaudir o adolescente de 17 anos que matou dois manifestantes antirracismo nos Estados Unidos no meio do ano passado.

Isso mesmo, o lixo humano postou links de notícias e fotos do garoto Kyle Rittenhouse, que portava um fuzil o local de uma manifestação contra o ataque de policiais brancos a um homem negro desarmado na cidade de Kenosha, no Estado de Wisconsin.

A polícia, depois de não detê-lo no dia do crime e "aconselhá-lo" a ir para casa, finalmente o prendeu no dia seguinte à manifestação e o indiciou pelo assassinato de dois manifestantes, com fartura de provas e testemunhas contra ele, que é um fanático apoiador do presidente Donald Trump.

Foram pelo menos três posts em redes sociais elogiando o assassino, tomando-o como um exemplo contra "baderneiros e arruaceiros" que querem gerar confusão e "atrapalhar governos). Por si só isso seria aterrador, mas assusta mesmo é a quantidade de curtidas em apoio a essa nojeira.

Há outros posts em que defende a liberação de armas para a população, políticos corruptos e criminosos ligados a Bolsonaro, grupos extremistas que disseminam fake news e ameaças generalizadas a "inimigos" porcarias generalizadas contra o Judiciário.

O post que obteve mais curtidas, em um texto claudicante recheado de erros de português, é um que desanca os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) por conta dos inquéritos contra fake news, contra as prisões dos apoiadores extremistas de Bolsonaro e contra a proibição de ações violentas da Polícia Militar do Rio de Janeiro nas comunidades enquanto durar a pandemia.

Numa rápida olhada no "público" que curtiu tais barbaridades, a imensa maioria tem alguma relação com o rock, seja por ser fã, profissional da área ou ligado, de alguma forma, a eventos/bares/casas de shows.

Ou seja, não é mera a impressão de que existe, nas grandes cidades do país, um contingente expressivo de roqueiros asquerosos que apoiam o fascismo e as medidas desse governo autoritário e inacreditável de Jair Bolsonaro.

É evidente que não temos, ainda, como dimensionar o tamanho do descalabro que é observar a existência de roqueiro fascista. Estão saindo das cavernas agora ou sempre foram desse jeito e nunca tínhamos percebido?

Como é possível existir roqueiro antidemocrático, do tipo que apoia a violência policial contra a população pobre, negra e,  última análise, contra os próprios roqueiros?

Então essa gente apoia, em tese, governos e políticos que os detestam, que sempre que possível jogarão o aparato repressivo para cima do rock?

Essa gente apoia políticos e governos que desprezam a democracia e a liberdade de expressão, ou seja, o direito de os roqueiros de se expressarem e de curtir em paz a sua música e seus shows?

Que tipo de música esse tipo de roqueiro admite? Aquela anódina, inodora e incolor, que só fala de carros, mulheres, cerveja, putaria, duendes e unicórnios?

E no metal? Só valem as letras de destruição e devastação no exterior ou em outros planetas? Ou apenas músicas sobre o "Senhor dos Anéis"?

O que será que tem a dizer o roqueiro imbecil que gosta de Pink Floyd sobre o conteúdo de letras dos álbuns "Animals" (uma fábula baseada no livro "A Revolução dos Bichos", de George Orwell e "The Wall" (um forte libelo contra o fascismo e o autoritarismo)?

Esqueçam a nojenta falácia de que "devemos respeitar as escolhas políticas dos outros". Mais do que eufemismo, isso é uma frase que embute um tremendo mau-caratismo de quem se diz isento e que, na verdade, é um omisso que esbarra nas raias da indecência.

Não dá para respeitar quem defende a violência contra minorias e segmentos da sociedade; quem defende o fascismo; quem defende políticas predatórias do meio ambiente; quem defende a supressão de direitos humanos, civis e trabalhistas; quem defende autoritarismo; quem defende governo incompetente inundado de denúncias de corrupção; que persegue adversários e opositores, ameaçando-os e intimidando-os com milícias físicas e virtuais.

Poucas pessoas imaginavam que teríamos tanto trabalho para resistir e combater o fascismo do nosso tempo, e que teríamos de começar, infelizmente, dentro do nosso meio roqueiro/musical.

Um comentário:

  1. Post e análise mais do que certeira e correta. Assino embaixo! BASTA de “roqueiro” PORQUEIRA REAÇA de extrema direita, principalmente aqui no Brasil. Essa turma ENVERGONHA o verdadeiro espírito engajado e combativo social e politicamente, do verdadeiro rocknroll.

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