quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Tempos de pandemia nos legam um conteúdo primoroso de música instrumental

 Marcelo Moreira

A música instrumental, especialmente o rock, foi um destaque destes tempos de pandemia. A introspecção e o tempo maior para criar por conta do confinamento social proporcionaram a uma leva de artistas a chance de transpor para a música uma série de reflexões e emoções, indo da raiva à melancolia, do otimismo à incerteza e dúvida.

Houve artista que ficou em dúvida se realmente haveria tempo e interesse para que o público saboreasse um tipo de música diferente, digamos assim. 

Outros tinham a certeza de que acertariam no alvo, já que havia, de fato, uma ansiedade enorme por conta de lançamento de música boa em um período tão difícil da humanidade.

Aqui vai um pequeno resumo da música instrumental que tanto nos alegrou e amenizou o sofrimento da pandemia de covid-19 em 2020:

 

- Joe Satriani - "Shapeshifting" - O guitarrista norte-americano atropelou a pandemia e soltou uma coleção de temas variados e interessantes. É um artista que é incapaz de lançar algo ruim, mas este álbum se destaca dos anteriores por investir mais na melodia do que na técnica. Fazia tempo que ele não enveredava por esse caminho e mexe bastante com o emocional. É um trabalho muito bem feito e necessário para esses dias sombrios.

 

- John Petrucci - "Terminal Velocity" - Segundo álbum solo do guitarrista do Dream Theater traz a combinação de sempre entre velocidade e peso, tudo com muita técnica e inteligência. O diferencial aqui é que a aposta é também na melodia, como Satriani, em que uma série de influências convergem para um estilo mais jazzístico e emocional. Chega a ser um pouco dramático em alguns temas, mas a guitarra desliza de forma bacana e contundente. Apesar de ser música pesada, é bem acessível e tem como atração a bateria de Mike Portnoy, ex-companheiro do Dream Theater.



- Edu Gomes - "Metamorfose" - Um dos nomes estrelados do blues nacional, o ex-guitarrista da Irmandade do Blues investiu em temas mais positivos e otimistas, sem deixar de lado a reflexão que tanto é característica de sua música. Rock e blues se entrecruzam em canções onde a pegada suave e cristalina de Gomes conduzem a um caleidoscópio sonoro e de inúmeros matizes. É música para parar, pensar e saborear.

 

- Ricardo Vignini - "Cubo" - O violeiro mais nerd do planeta não consegue ficar parado. "Cubo" é o seu segundo álbum de 2020 e aqui ele decide passear por outros caminhos, onde a música de raiz brasileira para viola divide espaço com canções latino-americanas, blues rasgado e rock rural, tudo temperado com o toque peculiar e fascinante do instrumentista canhoto. Das dez canções, três são cantadas, uma novidade em sua carreira solo. São lamentos importantes, gritos pela vida e contra o baixo astral que veio com a pandemia. É uma viola que fala mais alto e pesado.






- Kiko Loureiro - "Open Source" - O guitarrista do Megadeth achou brecha na agenda apertada da banda para finalmente lançar mais um álbum solo instrumental. Ao contrário de obras anteriores, ele preferiu focar no rock pesado, mas não tanto no virtuosismo. São canções orgânicas e que resumem quase 30 anos de carreira, passando por todas as vertentes possíveis. É um disco urgente, com canções rápidas e que "gritam" a respeito do caótico mundo de 2020. 



- Fernando Marques - "Pandemusic" - Jazz e MPB explodem nos falantes neste CD em que o músico riopretense pretende analisar o diálogo entre artista e público em tempos de pandemia. O resultado é um delicado duelo entre violões e guitarras que transbordam bonitas harmonias e intensas trocas de fraseados. Há muito pouco rock aqui, mas o bom gosto na escolha dos timbres expõe as qualidades de um artista que bebeu bastante no rock progressivo e no jazz fusion para adicionar um sabor bem diferente aos temas baseados nos ritmos nacionais.

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