terça-feira, 19 de dezembro de 2023

A força do metal paulista: Attrachta, Warshipper e Dfront SA

 Uma cena diversificada e que revela nomes importantes e de qualidade, ainda que não sejam exatamente novatos. Em u mundo diferente, é necessário que haja atitudes, comportamentos e estratégias diferentes. É o caso, principalmente, da banda paulistana Attractha;

O grupo decidiu inovar e lançou uma revista que dá suporte a um álbum - ou será o contrário? É um trabalho conceitual que foi lançado em conjunto para que o ouvinte tenha uma experiência diferente dentro do heavy metal.

"Lex Talionis" é o nome do projeto recém-lançado. São dez músicas de um ótimo metal tradicional e com produção excelente de Adriano Daga (produtor renomado do Brasil e baterista da banda Malta). É uma história de terror tendo a vingança como pano de fundo, com suspense e um desfecho, de certa forma, surpreendente.

Comprando a revista em quadrinhos - que tem um formato de livreto -, é possível acessar o álbum por meio de um QR Code e escutar enquanto corre a leitura das 64 páginas de uma história de horror sobrenatural que não tem muita originalidade, mas é interessante por misturar a história de terror com o cotidiano da violência urbana brasileira.

Só é possível ouvir "Lex Talionis" pelo celular ou um computador que tem leitor óptico de QR code. Ainda não há previsão de uma produção substancial de CDs físicos ou de venda separada de forma digital.

O metal bem feito e poderoso do Attractha, tem musculatura e não depende da revista. Temas como "I See You" e "Today" são fortes e diretos, com letras simples e riffs de guitarra muito legais.

A captação do som de bateria é um dos destaques - Daga é um ótimo baterista e um produtor experiente - e acrescenta um colorido diferente em um país onde a bateria, muitas vezes fica abafada ou escondida. Tudo bem, o cérebro da coisa toda na banda é o baterista, mas isso é somente coincidência...

"Tomorrow Is Too Late" é uma balada com acento clássico e bons arranjos orquestrais e de piano, uma música um tanto surpreendente. É uma canção bem-feita, ajuda a dar um tom dramático e melancólico a "Lex Talionis" ( lei de Talião, aquela do "olho por olho, dente por dente", talvez o primeiro código legal da humanidade). Uma história de vingança, então, tem tudo a ver...

"The Past Is Gone" é o resumo musical do álbum, com um metal consistente, guitarras bem timbradas e pesadas e bons riffs, sem abuso nos solos.

Na mesma linha vai "The Time Has Come", que tem arranjos grandiosos e riffs bem construídos. O final, como álbum de metal tradicional, épico e poderoso, deixando aberta a porta para uma eventual continuação da história.

O projeto teve bastante gente envolvida. O baterista Humberto Zambrin fez o roteiro original, criando a história, além de coordenar o design do álbum e a da graphic novel. Mozart Couto cuidou da arte/ilustração e DeCastro fez o roteiro final.A colorização ficou a cargo de Guilherme de Martino. A revista foi editada pela editora Universo Fantástico.

O quarteto - Zambrin, Ricardo Oliveira (guitarra), Guilherme Momesso (baixo) e Cleber Krichinak (vocais) - arriscou bastante ao fazer uma ópera-metal lastreada em uma história também concebida pra ser um livro/história em quadrinhos.

De Sorocaba (SP) vem a locomotiva Warshipper, que já tinha se destacado ao lançar o álbum "Barren..." em 2021. lança um álbum ainda melhor, "Essential Morphine", oito músicas que mostram um death metal refinado e técnico. 

É o quarto disco da banda em dez anos de carreira. "Temos sido bem-sucedidos ao atingir uma sonoridade extrema de infinitas potencialidades, onde o brutal e a sensibilidade versam juntos", diz o vocalista e guitarrista Renan Roveran, que confirma que a busca de uma sofisticação nas composições chega a er uma obsessão da banda.

Além de Roveran formam o grupo Rodolfo Nekathor (baixo e vocal), Rafael Oliveira (guitarra) e Theo Queiroz (bateria). "Essential Morphine" foi gravado no Casanegra Studio em São Paulo, com mixagem e masterização de Rafael Augusto Lopes e produção do próprio Warshipper. O álbum foi lançado em CD Digipack especial com pôster encartado pela gravadora Heavy Metal Rock.

A lista de músicas tem "Religious Metastasis", "Migrating Through Personality Spectra", "Perfect Pattern Watcher", "Morphine", "The Night of the Unholy Archangel", "The Twin of Icon", "Magnificent Insignificance" e "Guilt Trip" (bônus).

É um conjunto bem equilibrado, em que se destacam a violência sonora de "Religious Metastasis", um exemplo de música extrema bem feita e bem produzida, e "The Night of the Unholy Archangel", que já é um clássico da música extrema brasileira.

"The Night Of The Unholy Archangel"e "The Twin Of Icon", esta última violentíssima, que também foram lançadas como single, são, respectivamente, regravações do Zoltar e Bywar, bandas anteriores de Rodolfo Nekathor e Renan Roveran.

Se a intenção era apavorar, a banda Dfront SA conseguiu em seu mais recente trabalho, "Forte Teor ds Dor". É um som pesadíssimo e furioso,  que segue na linha do também pesadíssimo Confronto, do Ri de janeiro, banda que não existe mais.

O death metal em português ganha mais velocidade, naquilo que está sendo chamado de deathcore, algo bastante popular na Escandinávia. Em alguns momentos lembra os trabalhos mais recentes do Ratos de Porão

O grupo carioca é formado por Silvio Guerra (vocal), Nathan Klak (guitarra), Gláucio Magalhães (baixo) e Magno Nascimento (bateria). Está há 13 anos na estrada e “Forte Teor Da Dor”, que acabou de ser lançado em CD pela Voice Music e para todas as plataformas digitais, é seu terceiro álbum, sucessor de “Do Céu ao Inferno”, de 2016, e “Ceifado”, de 2021.

É uma banda corajosa ao fazer death metal em português. Os vocais cavernosos e a torrente de riffs pesados que desabam nos ouvidos não deixam nada em pé. A letras são despejadas e vomitadas com tamanha virulência que não dá tempo de respirar.

É muita indignação e dor para apenas dez músicas. O tema principal, a dor, é visitada de forma privilegiada e, ao mesmo tempo, angustiante, com experiências pessoais em doses cavalares: as músicas foram inspiradas em fatos reais por conta da experiência médica em UTI do vocalista Silvio Guerra, que também é médico cardiologista e esteve trabalhando na linha de frente durante a pandemia de covid-19. Escute "Cura" e "Severo" e sinta a agonia e a indignação latentes. 

“Nossa proposta para o álbum novo era clara desde sua concepção: explorar os diferentes tipos de sofrimento que os anos recentes nos trouxeram”, conta o vocalista Silvio Guerra em entrevista à revista Roadie Crew, 

"Fizemos isso sob diferentes perspectivas, primeiro no próprio âmbito de saúde, mas também de sentimentos, perdas físicas e sociais. Não diria que o trabalho é conceitual, porém há uma espinha dorsal que conecta as músicas, estabelecendo começo, meio e fim", explica o vocalista. "Trabalhar em UTI e vivenciar o pior cenário possível de múltiplos óbitos, desesperança e medo que a pandemia trouxe, foi uma experiência brutal."

Ainda segundo Silvio, a referência da dor não se limitou às letras do álbum, mas toda atmosfera sonora e estética notabilizam o tema. “Forte Teor da Dor não se exime de escrutinar a mais profunda depressão e transformar em arte o sentimento genuíno de tristeza, revolta e ardor. O resultado é um trabalho de muito peso, violento nos detalhes e visceral em sua essência.”

“Forte Teor da Dor” foi produzido pelo guitarrista Nathan Klak e reúne dez faixas. Além das duas canções citadas, são destaque ainda a aterrorizante “Agonia”, a violenta “Um Segundo” e a incisiva , “Punição” 

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