domingo, 3 de dezembro de 2023

Genial e subestimado, cantor Ray Gillen morria há 30 anos

 Sabe aquela sensação de que algo ou alguém está à espreita, especialmente no mundo corporativo? Alguém que está sendo contratado ou treinado para ocupar a sua vaga na empresa? O cantor e baixista Glenn Hughes (ex-Deep Purple e Black Sabbath) passou por isso há quase 40 anos - e acabou ficando amigo de seu substituto.

Ocorreu em 1986, nos Estados Unidos, quando Hughes estava começando uma turnê com o Black Sabbath. Fez apenas quatro shows e foi demitido depois de uma briga com um dos empresários da banda à época e por conta do abuso de álcool e drogas, que estava em seu auge. 

O americano desconhecido Ray Gillen assumiu o microfone  terminou o trabalho, ficando alguma semanas ensaiando sozinho e depois com a banda de forma escondida - o guitarrista Tony Iommi e os empresários já esperavam por problemas com Glenn Hughes.

E assim um cantor de bar desconhecido se tornou em poucas semanas o vocalista de uma das maiores bandas de tempos, ainda que em seu momento mais tenebroso. E mandou muito bem, diga-se de passagem.

Ray Gillen é um dos personagens mais fascinantes dos bastidores do rock e do heavy metal, seja pela qualidade de seu trabalho, seja pelo estilo temperamental e genioso. 

Ficou menos de um ano no Black Sabbath, de onde saiu brigado com a banda e teve os vocais apagados do álbum "The Eternal Idol", que estava pronto em 1987 - às pressas, o inglês Tony Martin foi chamado para regravar tudo ainda naquele ano.

Ray Gillen (frequentemente confundido com Ian Gillan, o mítico vocalista do Deep Purple) morreu há 40 anos, no começo de dezembro de 1993, em decorrência de complicações da Aids, após passar pela excelente banda de hard rock Badlands e pelo projeto interessante Sun Red Sun. É um dos talentos mais subestimados do metal.

Nascido na região de Nova York, sempre chamou a atenção pela extrema afinação, pela potência da voz e por sua extensão vocal, atingindo notas altíssimas.

Por volta dos 20 anos de idade era uma estrela local, mas nada ocorreu em sua carreira nos cinco anos seguintes a partir de 1979. Passou por diversas bandas, como Quest, F-66, Savage, Vendetta e Harlot, Nenhuma delas emplacou trabalhos autorais e viviam fazendo versões de rock clássico nos bares. Ensaiou participações nas bandas Rondinelli e White Lion, mas as coisas não progrediram,

A sorte mudou quando a emergência do Black Sabbath surgiu e ele recebeu a promessa de que  substituiria Glenn Hughesory Ride em algum momento da turnê. Era a chance de sua vida.

Nas edições de luxo recentes do álbum "The Eternal Idol", versões ao vivo de trechos da turnê e o disco inteiro gravado com a voz de Gillen vieram à tona e mostram um tremendo talento e versatilidade, indo do sussurro ao grito primal do hard rock com uma facilidade irritante.

AS versões originais de "The Shining" e "Glory Ride", do álbum citado, são definitivas e revelam um cantor superior a Tony Martin, que é ótimo e segurou bem as pontas em cinco CDs com o Black Sabbath até 1995.

A passagem de Gillen pelo Sabbath não durou nem um ano, Insatisfeito cm muitas coisa no gerenciamento bagunçado da banda na época, arrumou desavenças e logo começou a procurar outra coisa no final de 1986, iniciando conversas com Jake E. Lee para um novo projeto.

Já fora do Black Sabbath em 1987, fez trabalhos esporádicos até finalmente engatar com a banda Badlands no ano seguinte, ao lado de Lee, o baterista Eric Singer e o baixista Greg Chaisson. 

O sucesso inicial foi grande, com boa repercussão no mundo inteiro, mas durou pouco. Foram dois álbuns - amis um póstumo no final dos anosi 90 - e o fim do grupo em 1991 por conta de "divergências artísticas" e vendas baixas do segundo disco.

Gillen já sabia que estava doente quando embarcou no projeto Sun Red Sun, com o guitarrista e amigo Al Romano, que rendeu bom material inédito, mas que só foi lançado depois da morte de Gillen, aos 34 anos, em dezembro de 1993.

Um dos grandes momentos do vocalista no palco só surgiu nos anos 2000 com o surgimento, em CD, de um CD pirata (bootleg), que depois foi editado de forma "oficial", mas sem autorização da banda.

"The Ray Gillen Years", do Black Sabbath, tem alguma das versões das músicas cantadas por ele, além de quatro faixas ao vivo registradas em um show no Texas, em 1986. "heart Like a Wheel", do álbum "Seventh Star", foi registrada originalmente por Glenn Hughes, mas ao vivo o blues pesadíssimo ganhou uma dimensão monstruosa com Gillen nos vocais, apesar da letra ruim. É a prova de coo era excelente vocalista.

Seu legado, no entanto, é mesmo o primeiro álbum da banda Badlands, lançado em 1989. Denso, intenso e pesado, era o melhor exemplo do que deveria ser o hard rock, então afetado pelos excessos de todos os tipos das bandas californianas ou por elas inspiradas. 

Era puro blues, pura energia e excelência instrumental reunidos em canções ótimas, como "Hard Wire" e "Winter's Call", verdadeiros hinos roqueiros que apostavam em produções limpas e diretas, sem as camadas e camadas de arranjos ultraprocessados do que se convencionou chamar de "hard rock americano dos anos 80".

Era a banda que deveria estourar quando o mercado fazia suas apostas entre Badlands, Blue Murder (banda inglesa com John Sykes na guitarra e Carmine Appice na bateria) e o Skid Row já na versão Sebastian Bach nos vocais (a banda original surgiu na Irlanda com Gary Moore no nos anos 70; este vendeu o nome para os americanos). 

Das três, a menos cotada para estourar era o Skid Row, a única que vingou e fez algum sucesso. A Badlands durou pouco e o Blue Murder demorou a lançar algo e acabou atropelado pelo movimento grunge.

O sucesso do primeiro álbum da Badlands, autointitulado, reacendeu o velhos problemas do Black Sabbath do tempos de Gillen. Ainda inexperiente, retomou a vida de rockstar sem ter o prestígio necessário e a conta bancária correspondente. A gentileza e a humildade deram lugar à arrogância.

Ao final da longa e cansativa primeira turnê americana, que se estendeu para a Europa, os problemas começaram entre Lee e Gillen, que iam desde as reprimendas do guitarrista ao esquema de vida rockstar (já tinha vivido aquilo quando tocou com Ozzy Osbourne) até a condução artística do quarteto.

Lee queria um som mais pesado e com a sua guitarra com proeminência; Gillen queria sucesso e dinheiro e pregava a criação de um som mais pop e acessível, mais bluesy, e pegar carona na trlha de Skid Row, Motley Crue, Ratt e Dokken.

Isso afetou os trabalhos de construção do álbum "Voodoo Highway", lançado em 1991, um disco irregular e sem a inspiração do primeiro disco. As brigas se tornaram públicas, em pleno palco nos shows O fim era inevitável e veio ainda em 1991. Foi uma das melhores bandas promissoras de rock de todos os tempos.

https://youtu.be/7U124rg_L-M

https://www.youtube.com/watch?v=y5tL_ZzXC1s&pp=ygUlYmxhY2sgc2FiYmF0aCBldGVybmFsIGlkb2wgcmF5IGdpbGxlbg%3D%3D

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